quarta-feira, 17 de novembro de 2010

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO II


Durante o baile, Duda finalmente reencontrou Ritinha. Agora os dois passeavam de mãos dadas às margens de um riacho - o mesmo cenário que costumavam percorrer anos antes. No tronco, de uma árvore, embora meio apagados pelo tempo, dizeres ternos testemunhavam uma felicidade antiga: "Duda e Ritinha. Amor para sempre". O casal beijou-se longa e sensualmente.
Já era de manhã quando resolveram voltar a Coroado.
E deram de cara com o dr. Maciel, pai de Ritinha; semi­embriagado como de costume; ele aguardava o regresso da filha. Domingas olhava as pessoas que passavam rumo ao trabalho. Até que o casal surgiu.
- A gente não sentiu o tempo passar, pai! - disse Ritinha, procurando disfarçar o temor.
- Seus... seus desavergonhados! - gritou Maciel, fora de si. Ritinha tentava explicar, mas seu pai não lhe dava chance. Acusava Duda de abusar das mocinhas ingênuas do interior.
- Vai ter de pagar por isso, seu cachorro... - ameaçava Maciel, suspendendo a bengala na direção do rapaz.
- Deixa a menina entrar, patrão Vamos acabar com esse escândalo - interveio Domingas.
- Entrar onde? Nesta casa honrada?! Ela que fique na rua! Pra voltar a passar por esta porta, só depois de casar... Na igreja ou na delegacia!
- O senhor... o senhor está bêbado! - reagiu Duda.
- E você é um cafajeste! Rua! Os dois! Rua!
Chorar como Ritinha estava chorando ou brigar como Duda sentia vontade não seria a solução, naquele momento. Por isso o rapaz a conduziu ao rancho dos Coragem.
Chegaram à hora do almoço.
- Entra, Ritinha, esta casa agora é sua - disse Duda. Ritinha entrou, intimidada. As atenções se concentraram no casal.
- O pai dela expulsou a coitada de casa - informou Duda.
Ritinha explicou os motivos. Ninguém pareceu acreditar na inocência do casal.
- Vocês também estão pensando coisas a nosso respeito - lamentou Duda.
- A realidade aqui é essa, mano. Mesmo que não tenha acontecido nada ... você vai ter de casar com ela - explicou Jerônimo.
- O quê?! Ca... casar?! Com ela? Isso é um disparate!
- Mas não tem outra saída, Duda - interveio Sinhana, incisiva.
- Honra de moça é negócio sério. Vai ter de casar.
O polêmico assunto se prolongou até que resolveram se aconselhar com o padre Bento. Em pequenas áreas rurais, o padre é mais que um conselheiro espiritual; consultam-no igualmente a respeito de outros problemas da comunidade.
E o sacerdote também achou que convinha fazer algo para que a reputação da moça não ficasse manchada.
- Em cidades como esta, Duda, a mulher é uma santa ou...
O futebolista estava ponderando a respeito, quando uma voz se fez ouvir da porta de entrada:
- Diga a eles, Duda... Conte por que você não pode casar com essa moça!
- Cale a boca, Paula! - replicou Duda com grosseria.
Os presentes se espantaram. Quem era aquela moça? Paula, de maneira discreta, havia acompanhado Duda até Coroado. Dizia ser sua noiva.
- Estamos de casamento marcado - comentou ela.
- Estão de casamento marcado, mas não de papel passado. Sinto muito, dona, mas acaba de perder um noivo - disse João.
- Ei! Espere aí! Quem decide minha vida sou eu - reagiu Duda, levantando-se.
Pegou Paula pelo braço e saiu do templo. João e Jerônimo entreolharam-se preocupados.
- Nesta terra quem luta contra o coronel Pedro Barros precisa ter a honra inatacável - ponderou João.
Os problemas de João Coragem não paravam por aí. Ainda estava na igreja, conversando com Jerônimo e com o padre, quando um garoto veio lhe avisar que o delegado Falcão queria falar com ele.
A caminho, o moleque lhe contou que uma mulher fora apanhada em flagrante roubando um vidro de perfume.
- No quarto de pensão de um caixeiro-viajante - detalhou o jovenzinho. - Agora ela está presa e diz que conhece o senhor.
João chegou à delegacia e reconheceu Lara na única cela. De tão surpreso, quase nem conseguiu falar.
- Conhece ela? - perguntou Falcão.
O delegado estava igualmente atônito. Pensava que ela fosse a filha do coronel, mas havia telefonado para a fazenda e Dalva lhe informara que Lara estava lá. João ficou mais confuso ainda.
- Me tire daqui, que eu juro que você não se arrepende - pediu a moça, maliciosamente, ao garimpeiro.
Ele resolveu atender àquele apelo. Pagou mais do que o perfume vagabundo valia e obteve sua liberdade. Mas a jovem, para espanto de João, foi logo se afastando.
- Onde pensa que vai? - perguntou ele, segurando-a pelo braço.
- Cuidar da minha vida!
- Está enganada. Você vem, mas é comigo.
A moça tentou desvencilhar-se de João.
- Você não é meu dono! Não me comprou!
Essa revolta de nada adiantou. João colocou-a na garupa do cavalo e os dois partiram em direção ao campo.
Cavalgaram até as proximidades do casebre de Braz Canoeiro, onde haviam se conhecido. Ali apearam e passaram longos momentos a se beijar com paixão.
Depois João quis saber mais sobre ela: de onde vinha, o que fazia, para onde ia...
- Vim de uma cidade que você não conhece. Longe daqui. Mas isso agora não tem importância.
- Por quê?
- Porque agora sou sua, faço o que você quiser, vou para onde você for. Quais são seus desejos, meu amo?
João espantou-se com a naturalidade da moça.
- Escuta aqui... Você é doida? Fugiu de algum manicômio?
Ela explodiu numa gargalhada.
- Nem seu nome eu sei! - lembrou João, perplexo.
- Sou Diana Lemos.
- Diana... - repetiu João. - Bonito nome!
A noite avançava. O casal dormiu lá mesmo, no casebre de Braz, sobre uma esteira esfiapada, aquecidos apenas pelo calor do sentimento que os unia. .
Pela manhã, como de costume, João acordou com o canto dos galos. Abriu os olhos e virou-se para Diana - mas ela já não estava a seu lado. Desaparecera.
- E nem sei onde procurar ela! - queixou-se João, em voz alta.
No rancho dos Coragem, Ritinha lamentava o que vinha acontecendo entre Duda e ela. Não queria forçar Duda a nada, mas sentia que podiam ser felizes juntos. O jogador lhe falava de compromissos com jogos, treinos, viagens, concentrações. Ritinha mostrava­se disposta a qualquer sacrifício, embora no fundo soubesse que não era a dificuldade da vida de atleta que os separava:
- O caso, Duda, é que... você não gosta de mim!
- Gostar eu gosto, mas não é como você merece.
Ritinha encorajou-se com a resposta. Queria casar-se e partir com ele.
- Eu sinto, mas não dá pé, Ritinha. Não tem jeito. Não quero que você seja infeliz.
Logo Duda percebeu que não adiantava tentar convencer Ritinha da insensatez de um casamento apressado. Precisaria convencer a cidade inteira!
Foi mais ou menos isso que lhe disseram seu pai, o velho Sebastião Coragem, e o dr. Rodrigo César.
- Pedro Barros vai usar você para desmoralizar seus irmãos ­contou-lhe o promotor. - Se você não se casar com essa moça, a cidade inteira vai ficar revoltada. Não só contra você, mas contra sua família.
Duda começou a entender a gravidade da situação; porém, considerava tudo aquilo uma injustiça, e das maiores.
- Entenda, Duda. Numa cidade pequena como esta, seu procedimento é indefensável. Para o povo daqui, cheio de preconceitos, o fato de essa moça ter passado uma noite fora de casa é o suficiente para desonrá-la.
- Se fosse filha minha, eu fazia o mesmo que o mediquinho bêbado fez - confirmou Sebastião Coragem.
Duda encarou o pai e depois o dr. Rodrigo. Sua expressão denotava angústia e perplexidade diante da situação em que se envolvera. Mas precisava decidir-se e optou pelo casamento.
A cerimônia foi marcada para o sábado seguinte, às 10 horas. Havia pressa. A licença de Duda junto ao time estava se esgotando.
No dia, a igreja encheu-se, pois os Coragem eram muito conhecidos e o caso Duda-Ritinha rendera muitos comentários. Até Estela, Dalva e Lara compareceram, por insistência da moça. As três colocaram-se atrás do banco onde se encontrava João. O ruído das recém-chegadas chamou sua atenção.
"Diana!", pensou ele, ao olhar para trás.
- Que é que você está fazendo aqui? - perguntou-lhe à meia-voz.
Lara olhou para a tia, desentendida, como a pedir socorro. João reparou no vestido. Quis saber como a moça tinha conseguido aquela roupa cara e elegante.
- De quem você roubou esses panos chiques?
Lara indignou-se. Lágrimas vieram-lhe aos olhos.
- O senhor sabe com quem está falando? - perguntou Dalva.
- Claro que sei! - respondeu João.
- Essa moça é Lara, minha sobrinha. Filha de Pedro Barros...
Confuso, João emudeceu.
Nesse instante, Duda entrou na igreja. Ritinha já o aguardava.
- Aproxime-se, filho, É a primeira vez que faço um casamento em que a noiva é que espera pelo noivo... - brincou o padre Bento.
Mas Duda não estava para gracejos e pediu-lhe que se apressasse.
Os noivos ajoelharam-se. O padre benzeu as alianças e fez as perguntas de praxe. Duda e Ritinha estavam casados.
No dia seguinte deixaram Coroado.



QUERO PEDIR LICENÇA AOS PARTICIPANTES DO BLOG PARA OFERECER ESSE CAPÍTULO A ALGUÉM QUE NÃO FAZ PARTE DELE, MAS ESTÁ LIGADO A ELE. QUERO OFERECÊ-LO COM TODO CARINHO À MÃE DA MARIA DO SUL, QUE SE EMOCIONOU COM OS VÍDEOS DO PRIMEIRO CAPÍTULO. UM BEIJO CARINHOSO, MUITA SAÚDE E LUZ PARA A SENHORA. É BOM SABER QUE AQUILO QUE FAZEMOS AJUDA A ALEGRAR A VIDA DAS PESSOAS.

2 comentários:

  1. José Eugênio! Mais uma surpresa enorme! Ontem, depois de me despedir do bate-papo, vim ler Irmãos Coragem e no final, vi o oferecimento que você fez à minha mãe. Fiquei muito emocionada! E fui mostrar à ela, que já estava na cama. Ficou muito sensibilizada com seu carinho e sua gentileza! Pediu-me para agradecer-lhe em nome dela, e dizer-lhe da alegria e emoção que sentiu com suas palavras! Deseja a você muita saúde e que o Biscoito, café e novela lhe dê sempre muita alegria! E eu também agradeço, de todo o coração! Beijos carinhosos de mãe e filha.

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  2. JE, lembro um pouco da 2 versao, a Ritinha ainda sofre muito por causa do jeito que Duda a trata, não é? porque ele vivia de uma maneira muito diferente de qdo ele ainda não era famoso. E essa historia do João com Lara ou sera Diana, rsrs, promete tb. Os próximos caps. prometem.
    Beijos

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