CAPÍTULO
XLI - [... tempo de estar calado, e tempo de falar... *Eclesiastes (3:7)]
Três
meses depois.
O
segundo lote das casas está em andamento e um outro está para começar. Os
empresários do Nordeste, interessados nesse sistema, continuam negociando uma
parceria com Claude.
A
reforma da casa bem adiantada com Colibri à frente das obras. Ele havia voltado
para a faculdade, para terminar o último período do curso de engenharia civil,
que nem ele sabia porque largara, trancando a matrícula.
Estava
noivo de Terezinha e já planejavam se casar para, caso de Claude precisasse dele
nas obras do Nordeste, Terezinha pudesse acompanhá-lo. Pedido de S. Giovanni,
porque filha dele não era qualquer uma, pra morar junto sem casar.
Rosa
continua trabalhando, apesar dos pedidos de Claude, que não vê necessidade dela
se cansar tanto. Ela fica mais na Construtora, mas sempre dá um jeitinho de
passar na obra com Gurgel, que, aos poucos, assumia as tarefas dela.
Na
sala de Janete, elas conversam, enquanto esperam os maridos terminarem mais uma
rodada de negociações com aqueles “simpáticos” empresários.
R:
Então, Janete, quando é que vocês vão fazer o pedido pra mamãe cegonha?
J:
Ah, amiga! O Frazão tá todo animadinho, todo dia ele fala da sua barriguinha,
que você tá linda, mas eu estaria muito mais. Mas eu não tenho pressa não!
R:
Eu tô linda com essa “barriguinha”? Ele tá precisando de óculos. Eu to me sentindo
uma mamãe baleia, Jane.
J:
Rosa, desculpa eu ser indiscreta, mas tá tudo bem entre vocês, não é? Eu tenho
te achado tão tristinha ultimamente.
R:
Ah, Janete, você me conhece mesmo, eu vou me abrir com você, estava precisando
mesmo falar com alguém sobre isso... mas fica entre nós, hem?!
J:
Claro, Rosa... eu já provei que sei guardar segredos.. não contei nem pro
Frazão que você estava grávida, na época do seq... quero dizer no Natal. Alguma
coisa errada?
R:
Jane... eu... e o Claude, nós... a gente
não... não... sabe, né o que eu quero dizer. Ele não me “procura” mais pra
fazer amor. Antes, era quase todo dia, mas nesse último mês ele mal me tocou.
Ele continua carinhoso, beijinho, abraço, continua conversando com a “minha
barriga” todo dia, quando acorda, antes de dormir... mas fica nisso.
J:
E você tá achando que...
R:
Que ele enjoou de mim, Janete. Ou então, encontrou com outra uma “maneira” de
se satisfazer. Agora que eu estou enorme, inchada, acima do peso, ou seja, uma
“ogra”! - Diz muito triste.
J:
Rosa, você está imaginado coisas. O Claude não trairia você. Deve ser pelo
excesso de trabalho. Você sabe que esse contrato, com os empresários do Nordeste
está dando uma mão de obra do caramba! Ms. Smtih perderia pra eles.
Rosa
sorri, mas continua triste.
J:
Porque você não fala diretamente com ele como sempre fez?
R:
Sabe, ultimamente ele me abraça na hora de dormir, como sempre fez, mas depois
de um tempo ele se afasta. Tem noites que ele sai da cama, sai de perto de mim,
Jane! Eu me sinto como se tivesse com uma doença contagiosa!
J:
Rosa, pra mim você está vendo coisas que não existem! Ele te ama! Você o ama!
Eu acho que tá faltando uma coisinha chamada “diálogo”! E se é você que tem
dúvidas, é você quem deve perguntar!
R:
Eu tenho medo da resposta, Janete!
J:
Serafina Rosa Petroni Geraldy, com medo de uma resposta? Essa não é a Rosa,
minha amiga batalhadora, que tirou de letra um sequestro, desculpa tocar neste
assunto
R:
Pois é, ficar grávida me deixou insegura, acho que quase covarde mesmo. Mas
obrigada por me ouvir, tava me fazendo mal segurar isso guardado aqui dentro.
J:
Amiga, você pode falar o que precisar comigo, quando precisar. Mas pensa no que
eu te falei: conversa com ele, fala como você tá se sentindo.
R:
É, eu vou pensar nisso, Jan.
Frazão
e Claude entram na sala sem bater.
C:
Em que você está pensando, mon amour? – Ele se aproxima dela e lhe dá um
selinho.
F:
Deve ser alguma coisa muito boa, porque Rosa, quando pensa, resolve qualquer
parada! Pelo menos até agora foi assim!
R:
Acabou a reunião? – Ela desvia o assunto.
C:
Oui. Podemos ir pra casa, chérie.
R:
Então vamos, eu quero deitar. Tô com um pouco de cabeça.
Eles
descem e, quando saem do elevador, no estacionamento, na despedida, Janete diz
novamente à Rosa:
J:
Faz o que te falei! Boa noite, amiga! Boa noite, Claude!
C:
O que ela quer que você faça, chérie?
R:
Nada, Claude, nada. Porque você quer saber de tudo?
Claude
estranha o jeito estúpido dela, mas não fala nada.
O
clima pesa e eles não conversam no caminho, como faziam todo dia.
Eles
acabam de chegar em casa, depois desse dia cheio dos “problemas” corriqueiros
de uma construtora: material não entregue dentro do prazo, falta de mão de obra
qualificada, chuva atrasando o cronograma... reunião no último horário.
R:
Boa noite, Dadi! Eu vou subir, preciso deitar um pouco, janto mais tarde.
D:
Vocês brigaram, foi?
C:
Pior que non, Dadi. Ela non falou comigo desde que saímos de lá, só disse que
tava com dor de cabeça.
D:
Não é melhor o senhor subir e ficar com ela?
C:
Bom... ela non me pediu pra ir com ela, mas eu vou lá.
No
quarto:
C:
Rosa, tá tudo bem, chérie? – Pergunta à porta do banheiro, enquanto ela tomava
banho. – Quer ajuda?
R:
Não, Claude – Ela demora pra responder, pois não quer que ele perceba que está chorando
– Eu já vou sair!
Ela
respira fundo, sai do chuveiro, coloca apenas o roupão e com o cabelo ainda
preso no alto da cabeça, vai para o quarto, dando de cara com ele assim que
abre a porta, não tendo como evitar que seus olhares se cruzassem.
C:
Rosa, porque você estava chorando? – Ela desvia o olhar rapidamente.
R:
Chorando eu? Não, impressão sua! – Rosa anda até o meio do quarto.
C:
Seus olhos eston vermelhos, chérie... non minta pra mim.
R:
Deve ser do xampu, que eu usei, deve ter entrado no olho, quando eu lavei o
cabelo e eu nem percebi. – Ela pega o creme que usava todos os dias, vai pra
cama e se deita, de costas pra ele, segurando o creme entre as mãos.
C:
Sei... eu poderia acreditar nisso, chérie, se você tivesse lavado os cabelos,
hã? Rosa o que tá acontecendo?
R:
Nada. O que teria pra acontecer? Ultimamente, nada mesmo... – E tenta conter um
soluço.
C:
Se você non falar, non chegaremos a lugar algum, oui? Eu non caí nessa de dor
de cabeça. Você pode estar cansada, com dores na perna, mas dor de cabeça, você
non tem! Non nesse momento!
R:
Se você pensa assim, por mim tá ótimo. Eu vou sobreviver.
Claude
se aproxima e senta, na ponta da cama, aos pés dela. Rosa não se mexe. Ele a
olha longamente, e quando vai por as mãos nos pés dela, ela se encolhe, sem
perceber o movimento dele. Claude interpreta isso de outra maneira. Ele olha
para o chão, respira profundamente e diz:
C:
Rosa, alguma coisa aconteceu, porque você está estranha já faz alguns dias.
Quase non fala comigo, evita ficar nua na minha frente, ou mesmo apenas trocar
de roupa e agora também non vou poder tocar você?
R:
É, eu realmente devo estar muito estranha: com essa barriga deste tamanho,
gorda, inchada, parecendo uma ogra, uma baleia. Não deve ser fácil pra você me
olhar... pra que vai querer me tocar? – Fala entre os soluços de choro que ela
não consegue conter.
C:
Pra que eu vou querer te tocar? – Ele se levanta, olha para o teto - Mon Dieu!
- se volta para ela - Você tem noção do que tá falando? Da besteira que você tá
falando? Você quer, ou melhor, você precisa que eu te lembre porque quero tocar
você, Rosa?
Rosa
não responde nada. Simplesmente porque as lágrimas não a deixavam falar.
Claude
se aproxima dela e se abaixa ao lado da cama, quase ficando de joelhos.
C:
Rosa... – Ela não responde nem olha pra ele – Rosa, olha pra mim, hã? Por
favor, olha pra mim, chérie.
Rosa
o encara, com os olhos vermelhos, as lágrimas escorrendo sem controle, mas não
fala nada.
C:
Rosa, que história é essa que eu non quero te tocar, que non tá fácil te olhar.
De onde você tirou essa idéia? – ele começa a “enxugar” o rosto dela com a sua
mão.
R:
Claude, não precisa fingir, que eu não sou idiota! – Ela senta na cama, se
encostando na cabeceira.
C:
Mon Dieu, mon Dieu! Me dê paciência... – ele fala pra si mesmo – Dá pra
explicar pra mim o que tá se passsando aí nessa cabecinha? Porque eu não leio
pensamentos ainda! O que é que eu não preciso fingir?
R:
Isso... de tentar me consolar, secando minhas lágrimas com a sua mão! Não
precisa fingir que tem vontade, desejo de me tocar... – Ela senta mais para o
meio da cama, como se estivesse fugindo dele.
Claude
então se senta na beira da cama.
C:
Isso é uma coisa que eu não preciso fingir! Vontade e desejo de tocar você!
Isso eu tenho e sempre vou ter...
R:
Tenho? Assim no presente? – ela fala com a cabeça meio abaixada e a voz trêmula
– Então, porque há mais de trinta dias, você não me toca como antes... não...
não faz...
C:
Non faço amor contigo? É isso, Rosa? É por isso que você tá me dizendo essas
coisas?
Rosa
apenas balança a cabeça num “sim”. Então, cria coragem e diz:
R:
Há mais de um mês que você dorme abraçado comigo, quando me abraça, e no meio
da noite se afasta. Isso quando não sai da cama, me deixando sozinha pra ir sei
lá onde.
C:
E por isso, você deduziu que eu non quero mais você?
R:
E quer? Dá pra me querer assim do jeito que estou? – Ela esfrega o frasco de
creme, nervosamente, passando ele de uma mão à outra.
C:
Rosa, você nunca observou onde eu vou, quando te deixo sozinha no meio da
noite?
R:
Não... eu prefiro não saber.
C:
Eu vou pro banho, chérie, um longo banho frio, gelado mesmo, antes que eu perca
o juízo e acabe machucando você, sem querer... ou melhor de tanto te querer...
R:
Eu acho que não entendi... Como assim me machucar?
Claude
respira fundo. Ao mesmo tempo aliviado e tentando controlar suas emoções e
“reações”.
C:
“Dá pra me querer assim do jeito que estou?” – Ele imita Rosa. - Rosa, você tá
linda... non você já era linda.. E agora, tá mais linda ainda... Non tem nada de
gorda, nem de baleia ou sei lá mais o que você falou, chérie... Eu tenho muito
desejo por você, acho que mais ainda do que antes... sua pele, seu corpo tá
mais sensível, você tá mais sexy, mais segura do que faz... mas...
R:
Mas?
C:
Eu non acho justo abusar de você, mon amour! Você já tá de quase oito meses
completos e... sua barriga tá linda, sabia? E eu imagino o quanto deva ser
desconfortável... Eu vejo que você, às vezes, non acha posiçon pra deitar ou
pra sentar direito... imagine pra fazer amor. E tem o Joon e a Anna já ton
grandinhos, hã? Eles merecem respeito também.
R:
Claude, você não existe, sabia? – Diz, chorando de novo. Me perdoa?
C:
Enton, pára de chorar! E de colocar minhoquinhas nessa sua cabecinha criativa,
hã? – Vem cá – Ele se ajeita, ficando atrás dela, na cama – Me dá esse creme aí
– diz já abrindo o roupão dela expondo sua barriga – eu quero passar pra você –
e beija a nuca dela, sentindo-a estremecer com o contato – Agora não faço mais
você chorar,nunca mais, chérie.
Ele
começa a passar o creme pela barriga dela em movimentos suaves e precisos. Ela
fecha os olhos e relaxa, quase adormecendo com aqueles carinhos... De repente,
Claude pega suas mãos e coloca sob as dele, sobre a sua barriga:
C:
Olha só! Sente, eles se mexendo... isso é mágico... non tem preço, sentir eles
assim, junto contigo... coladinho no teu corpo... sentindo a tua respiraçon
mudar.. Mon Dieu, chérie... non tem sido fácil me afastar de você, non... é uma
luta muito grande! Mas eu tenho medo de te machucar mesmo, acredite... Eu devia
ter falado com você, a gente combinava uma outra forma de sentir prazer juntos,
sem precisar ir até o fim, mas imaginei
que você entenderia, me vendo ir pro banho toda noite, non que você fosse imaginar tudo isso, hã?
R:
E como imaginei, amor. Não fica magoado comigo, nem bravo, mas eu até comentei
com a Janete que eu achava que você tinha outra. E ela disse que você jamais me
trairia, porque me ama.
C:
Hummm! Enton, era isso que vocês estavam falando hoje à tarde. Por isso você
foi ton fria no caminho aqui pra casa. Dadi até pensou que tínhamos brigado.
Eles
ficam em silêncio por alguns minutos.
C:
E você ainda tem dúvidas do meu amor?
Rosa
se volta, ficando de frente pra Claude, de joelhos sobre a cama. Ela coloca
suas mãos sobre os ombros dele para se equilibrar melhor. Claude a segura
passando seus braços pelo corpo dela. Eles se olham.
R:
Não! Eu nunca tive. Será que você pode me perdoar? Eu fui uma boba, mesmo. E o
beija, enquanto suas mãos automaticamente vão parar na nuca dele, subindo por
seus cabelos suavemente.
C:
Eu te perdoo, Rosa Geraldy... mas non faz isso... senon, o meu desejo vai ser
maior que o meu medo... e aí...
R:
E aí...? ”A gente combina uma outra forma de sentir prazer juntos...” Foi isso
que eu entendi você propor?
C:
É isso que você quer? Tem certeza?
R:
Tenho... – Sua voz é quase um sussurro.
C:
Non vai se sentir apenas uma mulher “usada”?
R:
Não, apenas uma mulher. Vou me sentir a “sua” mulher, a mãe dos seus filhos...
– Ela vai desfazendo a gravata dele, sem pressa.
Rosa
ainda percebe o brilho nos olhos de Claude, antes que ele afaste o roupão, e a
deite devagar sobre a cama.
Então
ela fecha os olhos e sente na sua boca o gosto amado dos lábios dele.
Um
tempo depois, deitados no conforto de um abraço.
R:
Amor... Anna e João estão com fome... vai pegar alguma coisa pra eles?
C:
Eles estão com fome? rsrsr E o que “eles” querem comer?
R:
Alguma coisa leve, porque já tá tarde... uma fruta, bolacha, bolo, um suco...
Claude
se levanta, enquanto ela falava e, já na porta, pergunta:
C:
Chérie, uma dúvida; eles querem comer “tudo” isso ou alguma coisa disso tudo,
hã?
R:
Espera... deixa eu perguntar... - Ela abaixa a cabeça - Hummm... entendi. –
Levanta a cabeça - Cada um quer uma coisa... então traz um pouco de cada, oui?
C:
D’accord... mas isso foi jogo sujo, mon amour...
R:
E Claude! Não esquece a minha geléia de goiaba! – Grita ela...
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