terça-feira, 1 de janeiro de 2013

FIC - À PRIMEIRA VISTA - CAPÍTULO 41 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

CAPÍTULO XLI - [... tempo de estar calado, e tempo de falar... *Eclesiastes (3:7)]

Três meses depois.
O segundo lote das casas está em andamento e um outro está para começar. Os empresários do Nordeste, interessados nesse sistema, continuam negociando uma parceria com Claude.
A reforma da casa bem adiantada com Colibri à frente das obras. Ele havia voltado para a faculdade, para terminar o último período do curso de engenharia civil, que nem ele sabia porque largara, trancando a matrícula.
Estava noivo de Terezinha e já planejavam se casar para, caso de Claude precisasse dele nas obras do Nordeste, Terezinha pudesse acompanhá-lo. Pedido de S. Giovanni, porque filha dele não era qualquer uma, pra morar junto sem casar.
Rosa continua trabalhando, apesar dos pedidos de Claude, que não vê necessidade dela se cansar tanto. Ela fica mais na Construtora, mas sempre dá um jeitinho de passar na obra com Gurgel, que, aos poucos, assumia as tarefas dela.
Na sala de Janete, elas conversam, enquanto esperam os maridos terminarem mais uma rodada de negociações com aqueles “simpáticos” empresários.
R: Então, Janete, quando é que vocês vão fazer o pedido pra mamãe cegonha?
J: Ah, amiga! O Frazão tá todo animadinho, todo dia ele fala da sua barriguinha, que você tá linda, mas eu estaria muito mais. Mas eu não tenho pressa não!
R: Eu tô linda com essa “barriguinha”? Ele tá precisando de óculos. Eu to me sentindo uma mamãe baleia, Jane.
J: Rosa, desculpa eu ser indiscreta, mas tá tudo bem entre vocês, não é? Eu tenho te achado tão tristinha ultimamente.
R: Ah, Janete, você me conhece mesmo, eu vou me abrir com você, estava precisando mesmo falar com alguém sobre isso... mas fica entre nós, hem?!
J: Claro, Rosa... eu já provei que sei guardar segredos.. não contei nem pro Frazão que você estava grávida, na época do seq... quero dizer no Natal. Alguma coisa errada?
R: Jane... eu... e o  Claude, nós... a gente não... não... sabe, né o que eu quero dizer. Ele não me “procura” mais pra fazer amor. Antes, era quase todo dia, mas nesse último mês ele mal me tocou. Ele continua carinhoso, beijinho, abraço, continua conversando com a “minha barriga” todo dia, quando acorda, antes de dormir... mas fica nisso.
J: E você tá achando que...
R: Que ele enjoou de mim, Janete. Ou então, encontrou com outra uma “maneira” de se satisfazer. Agora que eu estou enorme, inchada, acima do peso, ou seja, uma “ogra”! - Diz muito triste.
J: Rosa, você está imaginado coisas. O Claude não trairia você. Deve ser pelo excesso de trabalho. Você sabe que esse contrato, com os empresários do Nordeste está dando uma mão de obra do caramba! Ms. Smtih perderia pra eles.
Rosa sorri, mas continua triste.
J: Porque você não fala diretamente com ele como sempre fez?
R: Sabe, ultimamente ele me abraça na hora de dormir, como sempre fez, mas depois de um tempo ele se afasta. Tem noites que ele sai da cama, sai de perto de mim, Jane! Eu me sinto como se tivesse com uma doença contagiosa!
J: Rosa, pra mim você está vendo coisas que não existem! Ele te ama! Você o ama! Eu acho que tá faltando uma coisinha chamada “diálogo”! E se é você que tem dúvidas, é você quem deve perguntar!
R: Eu tenho medo da resposta, Janete!
J: Serafina Rosa Petroni Geraldy, com medo de uma resposta? Essa não é a Rosa, minha amiga batalhadora, que tirou de letra um sequestro, desculpa tocar neste assunto
R: Pois é, ficar grávida me deixou insegura, acho que quase covarde mesmo. Mas obrigada por me ouvir, tava me fazendo mal segurar isso guardado aqui dentro.
J: Amiga, você pode falar o que precisar comigo, quando precisar. Mas pensa no que eu te falei: conversa com ele, fala como você tá se sentindo.
R: É, eu vou pensar nisso, Jan.
Frazão e Claude entram na sala sem bater.
C: Em que você está pensando, mon amour? – Ele se aproxima dela e lhe dá um selinho.
F: Deve ser alguma coisa muito boa, porque Rosa, quando pensa, resolve qualquer parada! Pelo menos até agora foi assim!
R: Acabou a reunião? – Ela desvia o assunto.
C: Oui. Podemos ir pra casa, chérie.
R: Então vamos, eu quero deitar. Tô com um pouco de cabeça.
Eles descem e, quando saem do elevador, no estacionamento, na despedida, Janete diz novamente à Rosa:
J: Faz o que te falei! Boa noite, amiga! Boa noite, Claude!
C: O que ela quer que você faça, chérie?
R: Nada, Claude, nada. Porque você quer saber de tudo?
Claude estranha o jeito estúpido dela, mas não fala nada.

O clima pesa e eles não conversam no caminho, como faziam todo dia.
Eles acabam de chegar em casa, depois desse dia cheio dos “problemas” corriqueiros de uma construtora: material não entregue dentro do prazo, falta de mão de obra qualificada, chuva atrasando o cronograma... reunião no último horário.
R: Boa noite, Dadi! Eu vou subir, preciso deitar um pouco, janto mais tarde.
D: Vocês brigaram, foi?
C: Pior que non, Dadi. Ela non falou comigo desde que saímos de lá, só disse que tava com dor de cabeça.
D: Não é melhor o senhor subir e ficar com ela?
C: Bom... ela non me pediu pra ir com ela, mas eu vou lá.

No quarto:
C: Rosa, tá tudo bem, chérie? – Pergunta à porta do banheiro, enquanto ela tomava banho. – Quer ajuda?
R: Não, Claude – Ela demora pra responder, pois não quer que ele perceba que está chorando – Eu já vou sair!
Ela respira fundo, sai do chuveiro, coloca apenas o roupão e com o cabelo ainda preso no alto da cabeça, vai para o quarto, dando de cara com ele assim que abre a porta, não tendo como evitar que seus olhares se cruzassem.
C: Rosa, porque você estava chorando? – Ela desvia o olhar rapidamente.
R: Chorando eu? Não, impressão sua! – Rosa anda até o meio do quarto.
C: Seus olhos eston vermelhos, chérie... non minta pra mim.
R: Deve ser do xampu, que eu usei, deve ter entrado no olho, quando eu lavei o cabelo e eu nem percebi. – Ela pega o creme que usava todos os dias, vai pra cama e se deita, de costas pra ele, segurando o creme entre as mãos.
C: Sei... eu poderia acreditar nisso, chérie, se você tivesse lavado os cabelos, hã? Rosa o que tá acontecendo?
R: Nada. O que teria pra acontecer? Ultimamente, nada mesmo... – E tenta conter um soluço.
C: Se você non falar, non chegaremos a lugar algum, oui? Eu non caí nessa de dor de cabeça. Você pode estar cansada, com dores na perna, mas dor de cabeça, você non tem! Non nesse momento!
R: Se você pensa assim, por mim tá ótimo. Eu vou sobreviver.
Claude se aproxima e senta, na ponta da cama, aos pés dela. Rosa não se mexe. Ele a olha longamente, e quando vai por as mãos nos pés dela, ela se encolhe, sem perceber o movimento dele. Claude interpreta isso de outra maneira. Ele olha para o chão, respira profundamente e diz:
C: Rosa, alguma coisa aconteceu, porque você está estranha já faz alguns dias. Quase non fala comigo, evita ficar nua na minha frente, ou mesmo apenas trocar de roupa e agora também non vou poder tocar você?
R: É, eu realmente devo estar muito estranha: com essa barriga deste tamanho, gorda, inchada, parecendo uma ogra, uma baleia. Não deve ser fácil pra você me olhar... pra que vai querer me tocar? – Fala entre os soluços de choro que ela não consegue conter.
C: Pra que eu vou querer te tocar? – Ele se levanta, olha para o teto - Mon Dieu! - se volta para ela - Você tem noção do que tá falando? Da besteira que você tá falando? Você quer, ou melhor, você precisa que eu te lembre porque quero tocar você, Rosa?
Rosa não responde nada. Simplesmente porque as lágrimas não a deixavam falar.
Claude se aproxima dela e se abaixa ao lado da cama, quase ficando de joelhos.
C: Rosa... – Ela não responde nem olha pra ele – Rosa, olha pra mim, hã? Por favor, olha pra mim, chérie.
Rosa o encara, com os olhos vermelhos, as lágrimas escorrendo sem controle, mas não fala nada.
C: Rosa, que história é essa que eu non quero te tocar, que non tá fácil te olhar. De onde você tirou essa idéia? – ele começa a “enxugar” o rosto dela com a sua mão.
R: Claude, não precisa fingir, que eu não sou idiota! – Ela senta na cama, se encostando na cabeceira.
C: Mon Dieu, mon Dieu! Me dê paciência... – ele fala pra si mesmo – Dá pra explicar pra mim o que tá se passsando aí nessa cabecinha? Porque eu não leio pensamentos ainda! O que é que eu não preciso fingir?
R: Isso... de tentar me consolar, secando minhas lágrimas com a sua mão! Não precisa fingir que tem vontade, desejo de me tocar... – Ela senta mais para o meio da cama, como se estivesse fugindo dele.
Claude então se senta na beira da cama.
C: Isso é uma coisa que eu não preciso fingir! Vontade e desejo de tocar você! Isso eu tenho e sempre vou ter...
R: Tenho? Assim no presente? – ela fala com a cabeça meio abaixada e a voz trêmula – Então, porque há mais de trinta dias, você não me toca como antes... não... não faz...
C: Non faço amor contigo? É isso, Rosa? É por isso que você tá me dizendo essas coisas?
Rosa apenas balança a cabeça num “sim”. Então, cria coragem e diz:
R: Há mais de um mês que você dorme abraçado comigo, quando me abraça, e no meio da noite se afasta. Isso quando não sai da cama, me deixando sozinha pra ir sei lá onde.
C: E por isso, você deduziu que eu non quero mais você?
R: E quer? Dá pra me querer assim do jeito que estou? – Ela esfrega o frasco de creme, nervosamente, passando ele de uma mão à outra.
C: Rosa, você nunca observou onde eu vou, quando te deixo sozinha no meio da noite?
R: Não... eu prefiro não saber.
C: Eu vou pro banho, chérie, um longo banho frio, gelado mesmo, antes que eu perca o juízo e acabe machucando você, sem querer... ou melhor de tanto te querer...
R: Eu acho que não entendi... Como assim me machucar?
Claude respira fundo. Ao mesmo tempo aliviado e tentando controlar suas emoções e “reações”.
C: “Dá pra me querer assim do jeito que estou?” – Ele imita Rosa. - Rosa, você tá linda... non você já era linda.. E agora, tá mais linda ainda... Non tem nada de gorda, nem de baleia ou sei lá mais o que você falou, chérie... Eu tenho muito desejo por você, acho que mais ainda do que antes... sua pele, seu corpo tá mais sensível, você tá mais sexy, mais segura do que faz... mas...
R: Mas?
C: Eu non acho justo abusar de você, mon amour! Você já tá de quase oito meses completos e... sua barriga tá linda, sabia? E eu imagino o quanto deva ser desconfortável... Eu vejo que você, às vezes, non acha posiçon pra deitar ou pra sentar direito... imagine pra fazer amor. E tem o Joon e a Anna já ton grandinhos, hã? Eles merecem respeito também.
R: Claude, você não existe, sabia? – Diz, chorando de novo. Me perdoa?
C: Enton, pára de chorar! E de colocar minhoquinhas nessa sua cabecinha criativa, hã? – Vem cá – Ele se ajeita, ficando atrás dela, na cama – Me dá esse creme aí – diz já abrindo o roupão dela expondo sua barriga – eu quero passar pra você – e beija a nuca dela, sentindo-a estremecer com o contato – Agora não faço mais você chorar,nunca mais, chérie.
Ele começa a passar o creme pela barriga dela em movimentos suaves e precisos. Ela fecha os olhos e relaxa, quase adormecendo com aqueles carinhos... De repente, Claude pega suas mãos e coloca sob as dele, sobre a sua barriga:
C: Olha só! Sente, eles se mexendo... isso é mágico... non tem preço, sentir eles assim, junto contigo... coladinho no teu corpo... sentindo a tua respiraçon mudar.. Mon Dieu, chérie... non tem sido fácil me afastar de você, non... é uma luta muito grande! Mas eu tenho medo de te machucar mesmo, acredite... Eu devia ter falado com você, a gente combinava uma outra forma de sentir prazer juntos, sem precisar ir até o fim,  mas imaginei que você entenderia, me vendo ir pro banho toda noite,  non que você fosse imaginar tudo isso, hã?
R: E como imaginei, amor. Não fica magoado comigo, nem bravo, mas eu até comentei com a Janete que eu achava que você tinha outra. E ela disse que você jamais me trairia, porque me ama.
C: Hummm! Enton, era isso que vocês estavam falando hoje à tarde. Por isso você foi ton fria no caminho aqui pra casa. Dadi até pensou que tínhamos brigado.
Eles ficam em silêncio por alguns minutos.
C: E você ainda tem dúvidas do meu amor?
Rosa se volta, ficando de frente pra Claude, de joelhos sobre a cama. Ela coloca suas mãos sobre os ombros dele para se equilibrar melhor. Claude a segura passando seus braços pelo corpo dela. Eles se olham.
R: Não! Eu nunca tive. Será que você pode me perdoar? Eu fui uma boba, mesmo. E o beija, enquanto suas mãos automaticamente vão parar na nuca dele, subindo por seus cabelos suavemente.
C: Eu te perdoo, Rosa Geraldy... mas non faz isso... senon, o meu desejo vai ser maior que o meu medo... e aí...
R: E aí...? ”A gente combina uma outra forma de sentir prazer juntos...” Foi isso que eu entendi você propor?
C: É isso que você quer? Tem certeza?
R: Tenho... – Sua voz é quase um sussurro.
C: Non vai se sentir apenas uma mulher “usada”?
R: Não, apenas uma mulher. Vou me sentir a “sua” mulher, a mãe dos seus filhos... – Ela vai desfazendo a gravata dele, sem pressa.
Rosa ainda percebe o brilho nos olhos de Claude, antes que ele afaste o roupão, e a deite devagar sobre a cama.
Então ela fecha os olhos e sente na sua boca o gosto amado dos lábios dele.
Um tempo depois, deitados no conforto de um abraço.
R: Amor... Anna e João estão com fome... vai pegar alguma coisa pra eles?
C: Eles estão com fome? rsrsr E o que “eles” querem comer?
R: Alguma coisa leve, porque já tá tarde... uma fruta, bolacha, bolo, um suco...
Claude se levanta, enquanto ela falava e, já na porta, pergunta:
C: Chérie, uma dúvida; eles querem comer “tudo” isso ou alguma coisa disso tudo, hã?
R: Espera... deixa eu perguntar... - Ela abaixa a cabeça - Hummm... entendi. – Levanta a cabeça - Cada um quer uma coisa... então traz um pouco de cada, oui?
C: D’accord... mas isso foi jogo sujo, mon amour...
R: E Claude! Não esquece a minha geléia de goiaba! – Grita ela...

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