sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O INFERNO DE UM ANJO - SEGUNDA PARTE - CAPÍTULO 6 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL

Capítulo VI
O MISTÉRIO DE UMA VIDA

No dia seguinte, o doutor George, depois de breve visita à sua paciente, que não apresentava melhores condições que no dia anterior, decidiu dar um passeio pelo jardim, para ter melhor ensejo, entre aquelas frondosas árvores e as variadas espécies de trepadeiras floridas, de se reconcentrar, pensando no caso que tinha para resolver.
Tudo lhe parecia sombrio e envolto em trevas. Não sabia o que pensar dado às informações que obtivera sobre o processo da enfermidade de Marta. Havia algo que achava inexplicável. Como podia, por exemplo, aquela criatura estar naquelas condições de esgotamento orgânico, sem falar na doença mental, tendo permanecido internada por tanto tempo num sanatório que tinha fama de estar modernamente aparelhado e era justamente especializado no tratamento de moléstias mentais?
Isto perguntava a si mesmo George Brancion, enquanto passeava lentamente, de mãos nos bolsos, pelo jardim do palacete. "O doutor Démon", pensou de cenho franzido, "esse tal doutor," sempre ouvi falar dele de modo reticente. Gostaria de conhecê-lo, de lhe falar, de ouvir o que pensa sobre a minha paciente...
- É isso mesmo. Por que hei de ter escrúpulo? - disse, em voz alta. - Afinal de contas, terei mesmo que fazê-lo, mais cedo ou mais tarde!
Repentinamente decidido, percorreu a passos rápidos a alameda que conduzia à entrada do palacete.
O mordomo, que voltava naquele momento da coudelaria, logo o avistou e cumprimentou-o:
- Bom dia, doutor! Passou uma boa noite no pavilhão?
- Dormi muito bem, obrigado - respondeu George, embora sua afirmação estivesse bem longe da verdade.
- Quer que lhe sirva alguma coisa?
- O conde Fernando já voltou ao palacete?
- Não, doutor. Mas telegrafou e pediu que o avisasse de que talvez seja forçado a permanecer ausente hoje e amanhã. Pede-lhe mil desculpas.
- Ora essa! Não há por que... Escute Pedro, preciso de um obséquio seu.
- O senhor manda, doutor! Bem sabe que estou à sua inteira disposição, estou aqui para servi-lo...
- Pode me orientar sobre o caminho mais curto para ir ao sanatório do doutor Démon?
O semblante do mordomo tornou-se sombrio subitamente.
- O doutor vai...  Pretende ir aquele lugar maldito? Eu, por mim, não faria uma coisa dessas, se me permite... Dizem que aquele sanatório é um lugar azarado, que só traz infelicidade.
O médico sorriu da ingênua superstição do velho, que mostrava preocupar-se com ele, sem imaginar nem de longe o quanto Pedro tinha razão!
- Um lugar onde há doença e dor não pode ser bonito - respondeu ao mesmo tempo em que Pedro limpava o suor da fronte, pouco disposto a se deixar convencer... - Pode-se ir lá de charrete?
- Sim, naturalmente... É só tomar a estrada estadual e dobrar à primeira esquerda. Não há engano possível. Fica mesmo no centro do bosque...
Na cocheira, George subiu em sua charrete, recusando ser acompanhado por um dos cocheiros do conde. Quando chegou à encruzilhada que fora indicada pelo mordomo, logo avistou, realmente, a entrada pela qual devia seguir.
Pouco depois, parou a charrete diante de um portão de ferro batido, que servia de entrada à clínica do doutor Démon.
Um corpulento porteiro, surgindo de uma pequena guarita semelhante à usada pelos guarda-caças, para pernoitar na floresta, veio até o portão.
- Por quem pergunta o senhor?
- Desejo falar com o doutor Démon, Também sou médico.
- Espere um pouco.
O porteiro abriu o portão e indicou ao doutor George a direção de uma alameda:
- Siga por aqui sempre em frente!
Quando o edifício do sanatório surgiu entre as árvores, George experimentou, sem se poder explicar o porquê, um mal-estar estranho: "Não há exagero, afinal, quando dizem que isto aqui é impressionante. Pelo menos tem um jeito de mistério... Sei que é uma casa de recolhimento de loucos", ia pensando consigo, "mas, no duro mesmo, tem o jeito é de uma prisão, de uma penitenciária"...
Chegou à frente do edifício principal e, quando descia da charrete, um enfermeiro veio ao seu encontro.
- É o senhor que quer falar com o doutor Démon? - perguntou.
E, a um sinal afirmativo do doutor George, acrescentou, abrindo uma pesada porta e apontando para um corredor:
- Por aqui, por favor...
Precedendo, o enfermeiro, George percorreu o comprido corredor. Aos lados, por onde ia passando, a intervalos regulares, havia portas também resistentes, das celas dos loucos, todas elas com reforços metálicos. Apenas uma não tinha esse reforço de ferro e era só de madeira.
Foi diante desta que ambos pararam. O enfermeiro abriu-a e fez entrar o recém-chegado, dizendo:
- O doutor Démon não demora a vir ter com o senhor...

2 comentários:

  1. Acho que George vai deduzir alguma coisa nessa visita ao Dr. Démon, mas acho também que vai mexer em um vespeiro, que perigo!

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  2. Não sei porquê, mas acho que mais conflitos surgirão a partir do encontro de George com Démon. Vamos aguardar... Ah, Paulo, Silvânia disse que está gostando mais dessa segunda parte, que está mais movimentada.

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