O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Segunda Parte - Capítulo
VIII
LUZ
NAS TREVAS
Voltando
ao seu escritório, Démon fechou a porta atrás de si e nela se encostou, como se
tivesse receio de que alguém a viesse forçar.
Fechou
os olhos por alguns instantes e novamente a expressão que não conseguia
disfarçar diante de George lhe apareceu no semblante.
-
Ele!... Ele!... - murmurou. - Depois de vinte anos!... Pouco faltou para que eu
me traísse... A surpresa foi muito forte! Ele, o atual doutor Brancion!...
Cambaleante,
apoiou-se a um pequeno armário, abriu-o, tirou uma garrafa e um copo que encheu
até em cima. Virou o copo e de um gole ingeriu toda a bebida, tornando a
enchê-lo completamente.
-
Ele! - repetiu, deixando-se cair na poltrona, atrás da escrivaninha. - Mas
parece que de nada suspeita... Seria absurdo que o fizesse!... Logo agora devia
surgir no meu caminho! Ele... Meu filho!...
Bebeu
novamente e atirou a cabeça para trás, apoiando-a no espaldar da poltrona. As
recordações, as lembranças de vinte anos atrás lhe vieram à mente, revividas
uma a uma, a princípio separadamente, depois em sequência, vívidas, nítidas,
como se se tratasse de fatos ocorridos em data recente. Recordou a cena brutal
do laboratório químico onde trabalhava, os móveis, instrumentos, apetrechos e
aparelhos destroçados, as mesas reviradas e o corpo do seu assistente tombado
ao solo, imóvel, numa poça de sangue.
Reviu
as cenas do seu processo e julgamento, as fisionomias severas dos juízes, o
dedo acusador do promotor apontado para ele, ouviu as vozes revoltadas dos que
se acotovelavam na assistência, o promotor gritando na sala: "O acusado é
um criminoso, um assassino! Em casos como este, lamento que as nossas leis não
admitam a pena de morte... Peço para ele, a pena máxima!"
E
depois os horrores do manicômio judiciário, as celas sempre fechadas com portas
gradeadas, os gritos pavorosos dos loucos durante a noite, a tortura da camisa
de força... E, finalmente, um dia, a chegada do jovem médico incumbido da
supervisão de seu setor, ansioso por abrir caminho e, principalmente, por
ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Lembrava-se,
como se fosse coisa de ontem, da conversa que ele tivera com o diretor do
manicômio judiciário, pouco depois de sua chegada ali. Tinha podido escutar
essa conversa por acaso, pois na ocasião se encontrava na enfermaria.
-
Professor, aquele louco da cela 18, o professor Brancion...
-
Sim... Que andou ele fazendo?
-
Aquelas dores de cabeça, aquelas pontadas lancinantes de que ele se queixa e
que tanto o torturam, tornando-o pior do que já é na realidade... Penso que eu
poderei eliminá-las com uma intervenção cirúrgica, cujo processo estou há
tempos estudando e formulando...
O
diretor tivera um sobressalto, como se picado por uma serpente!
-
Doutor Lenoir, o senhor também estará louco?... Brancion era um grande
cirurgião, mas depois do que fez, tornou-se indigno do nosso interesse!
-
Mas é uma criatura humana!
-
Absolutamente! É uma fera!...
-
Razão maior, então, para se tentar nele uma experiência que não teríamos
coragem de fazer num paciente normal! Se der resultado, será um triunfo para a
ciência, se fracassar, nada mais teremos feito do que abreviar um pouco a vida
de um homem que, naquelas condições, não poderá viver mais de um ano.
-
Mas é uma temeridade, uma loucura! Essa intervenção não poderá ter êxito. É uma
probabilidade contra mil!
-
Pois joguemos com essa única probabilidade, professor!
O
diretor do manicômio judiciário, aos poucos, se deixava convencer.
-
Teremos, porém, de comunicar à esposa dele, - objetara, antes de ceder
completamente. - O caso requer a permissão de uma pessoa responsável da
família, pois o paciente não está em condições de compreender, nem de decidir.
Lenoir
imediatamente tomou o pião na unha, aproveitou a "deixa", como se diz
e foi de imediato declarando, para liquidar o assunto e não perder a
oportunidade:
-
Eu próprio me incumbo de procurar a mulher dele. E então conseguirei uma
autorização escrita, não tenha dúvida. Deixe por minha conta.
E,
realmente, pouco depois foi ter à residência do professor Brancion, com o
intuito de conversar com uma pobre mulher ainda abalada pela dor, sem sequer
pensar que, indo reavivar o seu desespero, poderia causar grave prejuízo à
saúde da infeliz, e talvez dar um golpe mortal naquele coração já tão duramente
ferido.
Dorotéia
Brancion estava acamada, quando ele a visitou, vitimada por grave ataque
cardíaco.
Uma
enfermeira foi quem veio receber o doutor Lenoir e, sabendo que seu desejo era
ver a senhora Brancion, disse-lhe:
-
Desculpe-me, mas isso é absolutamente impossível! A senhora Brancion está
gravemente doente e não pode sofrer a mais leve emoção!
-
Mas é que se trata de um assunto de vital importância!
-
Razão maior, nesse caso, para que eu não permita que o senhor lhe fale.
Admiro-me de que um médico, como o senhor, não saiba as consequências que podem
advir de uma emoção, um abalo nervoso, sobre uma pessoa nas condições em que se
encontra a esposa do professor Brancion!
O
doutor Lenoir havia falado tão alto, que a pobre senhora doente, do quarto onde
estava, ouviu tudo.
Trêmula,
sua voz se fez ouvir, vinda do fundo do leito:
-
Senhorita... Enfermeira... Quem é?... Que é que quer?
-
Não é nada, senhora - respondeu a enfermeira disfarçando.
-
Mas eu ouvi alguém... Falando, voz de homem... Que é que ele quer?
-
Nada de importância, dona Dorotéia... Não se impressione!
-
Mande o homem entrar... Quero ver quem é...
-
Mas... Dona Dorotéia!...
A
enfermeira não teve tempo de terminar, porque Lenoir empurrando-a bruscamente
para um lado, atravessou rápido a antecâmara e entrou no quarto de onde ouvira
a voz da senhora enferma.
-
Senhora Brancion - disse apressadamente - trata-se do professor... o seu
marido.
A
senhora Dorotéia, empalidecendo, levou a mão ao coração.
-
Umberto... - balbuciou - Que fez ele agora?
-
Está em perigo de vida!
Coisa
estranha, no semblante da enferma não surgiram sinais de grande dor, mas, sim
de tranquilidade, que causara verdadeiro espanto ao leviano cirurgião.
-
Pobre Umberto... - murmurou a doente. - Dou graças a Deus por ter na sua
infinita misericórdia, decidido pôr termo aos seus sofrimentos!
Lenoir
fez um gesto de contrariedade. Se aquela mulher pensava assim, adeus operação,
não haveria a experiência que poderia deixá-lo famoso, adeus belos sonhos de
glória e de riqueza!
Mas
decidiu tentar.
-
Senhora Brancion - continuou. - ainda resta uma probabilidade de salvar a vida
de seu marido...
-
Qual é essa probabilidade, moço?
-
A realização, a tempo, de uma operação no cérebro.
-
Oh!... Não, não o torturem mais ainda!Que adiantaria isso, nas condições em que
ele se encontra? Digo, nas condições morais, entende? É o responsável por um
crime...
-
Mas poderemos salvar-lhe a vida!... Há ainda alguma probabilidade... Se a
senhora me desse autorização...
Dona
Dorotéia enxugou os olhos num lencinho, pois começara a chorar em silêncio.
Ficou algum tempo calada, refletindo. Afinal, disse, com voz quase
imperceptível:
-
Não, não consentirei nessa operação em Umberto! Que benefício lhe traria ela
agora? A vida para ele não viria a ser jamais o que foi, será um misto de dor,
humilhação e sofrimento no horror do manicômio judiciário! Não! Deixemos que
tudo siga conforme Deus determinou. Eu o amo demais, para ter a coragem de
ajudar a condená-lo a viver mais alguns anos, uns dez, talvez, naquele lugar
pavoroso! Não! Deus há de me perdoar, mas prefiro vê-lo morto!
A
pobre mulher, depois de pronunciar estas sensatas palavras, sufocada, começou a
soluçar deixando-se cair sobre o travesseiro. A enfermeira, vendo em que estado
de espírito a sua paciente ficara com aquela conversa, e receando que lhe
sobreviesse novo ataque do coração, exclamou decidida:
-
Basta, doutor! Deixe a pobre senhora! Faça o favor de retirar-se que ela
precisa de sossego!
-
Mas eu preciso levar uma carta assinada por ela me autorizando a operar o
marido... O professor Brancion!
-
Dona Dorotéia não assinará carta nenhuma, ela mesma já lhe disse, e se o senhor
não a deixar em paz, chamarei a polícia!
Frente
a frente com a energia e a decisão da corajosa enfermeira, o doutor Lenoir teve
que baixar a cabeça, contendo com grande esforço a cólera que o invadia. Saiu
do aposento furioso, batendo a porta atrás de si.
"Maldita
mulher!" - pensava, enquanto seguia em sua charrete rumo ao manicômio
judiciário. -''Não quer que o opere! A estúpida não compreende que da
realização desta operação depende todo o meu futuro, toda a minha carreira! Se
der certo, ficarei famoso, pularei por cima de todos os anos de miséria e de
trabalho duro que ainda me esperam! E eis que pela burrice de uma velha
idiota..."
Um
pensamento repentino lhe veio à mente, com a rapidez de um raio em noite de
tempestade.
-
Mas é isso mesmo! - disse em voz alta. - É o que tenho de fazer! Quem é que vai
ficar sabendo? Quem irá impedir?
Um
sorriso de triunfo se espalhou em sua fisionomia. Quando chegou ao manicômio,
sem sequer passar pelo gabinete do diretor, para lhe contar o "êxito"
de sua missão junto à mulher do professor Brancion, foi diretamente à cela do
louco. Ao contrário do que não era usual fazer-se, e que ele, principalmente,
jamais fazia, pois não gostava de se expor aos acessos de fúria dos dementes,
abriu a porta reforçada da pequena cela e entrou, fechando-a depressa atrás de
si.
O
louco criminoso, aquele que fora Umberto Brancion, o grande cirurgião, com a
cabeça entre as mãos, estava sentado na cama.
Estranhamente,
aquele dia as dores terríveis pareciam ter lhe dado uma trégua, a insanidade
mental não se manifestava em toda a sua tremenda força, os enfermeiros, em
consequênçia, não o tinham posto em camisa de força. O doutor Lenoir se
aproximou e, pondo-lhe repentinamente a mão no ombro, sacudiu-o bruscamente:
-
Professor Brancion! Professor Brancion! Está me ouvindo?
O
louco ergueu para ele os olhos injetados de sangue.
-
Que quer? Quem é você? - perguntou com voz rouca.
-
Sou o doutor Lenoir, o médico encarregado desta seção. Está com dor de cabeça
ainda?
-
Agora não... - murmurou Umberto Brancion, olhando em torno, como se temesse que
a dor estivesse por ali, a espreitá-lo, pronta a investir contra ele. - Não,
agora não dói, mas daqui a pouco ela virá... Sentirei as primeiras pontadas na
nuca... Depois... Nem quero pensar! Depois, será pior do que me estivessem
matando... Ah! Morrer! Por que não morro de uma vez? Por que não acaba tudo de
uma vez?!
Levantou-se
em seguida, levando as mãos à nuca. Era tal o seu estado psíquico, que lhe
bastava pensar na dor, no sofrimento, para que estes sobreviessem piores do que
nunca!
-
Vá embora! - gritou. - Vá, vá, se não quer que eu o mate!... Odeio os médicos!
Odeio todos! Quero morrer! Quero morrer!
Fez
menção de atirar-se sobre o doutor Lenoir, mas este, com toda a sua força, o
segurou pelo peito, firmemente.
-
Calma! Não grite! Domine-se, vamos! - impôs. - Que acha de viver, sim, de
viver! Em vez de morrer? Viver sem nada disso que sente hoje no cérebro e que
transforma cada minuto em um século de tortura? Gostaria disso? Diga! Gostaria?
Os
gritos do louco, àquelas palavras, cessaram, como por encanto...
A
razão, naquele instante, pareceu ter superado a loucura.
-
Como... Como poderá fazer isso? - perguntou, libertando-se, com gesto brusco,
das mãos do médico.
O
semblante de Lenoir se iluminou.
-
Uma operação! Uma operação no cérebro, por um processo que eu próprio
idealizei! Estive, há pouco com sua mulher... Mas ela não quis dar o
consentimento...
-
Dorotéia? Então ela prefere que eu... Morra? Está feliz, pensando que eu tenho
os dias contados? Está ansiosa pelo momento de ver-se livre de mim, de ser
minha viúva?
-
Foi o que me disse - murmurou, cinicamente, Lenoir.
-
Não houve jeito de arrancar de sua mulher o consentimento para a operação.
Disse que é melhor que o professor morra... E pensar que bastaria a assinatura
dela, apenas a assinatura...
Os
olhos de Umberto Brancion se arregalaram imensamente. Como uma fera pronta a
atacar sua presa, rangeu os dentes.
-
Então, ela quer me ver morto!... - rugiu.
-
Ela mesma me disse, faz poucas horas! - insistiu Lenoir, mas sem esclarecer,
propositalmente, o motivo da recusa de dona Dorotéia em dar o consentimento,
acrescentou: - Disse que não vê chegar a hora em que o senhor descanse de uma
vez...
O
louco, num salto, atirou-se contra a porta, agarrando-se à grade de ferroe
sacudindo-a furiosamente...
-
Ah! Maldita!... Quero sair daqui! Deixem-me sair! Vou estrangular aquela mulher
com as minhas próprias mãos...
Por
sorte, para Lenoir, as forças de Umberto Brancion, minadas pela doença e pelo
uso dos remédios calmantes, estavam grandemente diminuídas. Do robusto homem de
outros tempos, não restava mais que um farrapo humano. Mais uma vez, Lenoir
empurrou para trás o demente, usando toda a sua força e dizendo-lhe ao ouvido:
-
Não grite assim, que diabo! Trate de dominar-se! Há ainda uma possibilidade,
talvez...
O
louco se calou de súbito, enquanto seus olhos desvairados fitavam o rosto do
médico...
-
Qual? Qual é? - perguntou.
-
Pode, por acaso, imitar a assinatura de sua mulher?
O
rosto de Umberto Brancion se iluminou repentinamente.
-
Claro, claro que posso! - murmurou - O senhor é muito... Muito inteligente... Claro que sei imitar a
letra de Dorotéia! Como não? É a coisa mais simples.
-
Pois então... Tente, agora mesmo...
O
louco tomou o papel e a caneta que o médico, prevendo êxito, trouxera consigo e
sentou-se à mesinha da cela, começando a escrever. Súbito, porém, parou. Ficou
a olhar para o doutor Lenoir, em silêncio, enquanto este esperava, com a
respiração suspensa.
-
Mas... O senhor, que interesse tem nisso? - perguntou, como se só então aquele
pensamento lhe tivesse vindo à mente confusa. - Que lhe importa se eu morro ou
vivo?
-
Professor, o senhor, justamente o senhor, que foi um grande cirurgião, me faz
uma pergunta dessas?! Sei que o seu cérebro vacila, que sua mente não funciona
normalmente, mas não o considero um louco autêntico, um demente completo... A
droga de que o senhor fez uso abusivo, deixou-o reduzido a este estado,
levando-o mesmo a fazer o que fez, mas... O senhor está, alternativamente, em
condições de raciocinar!
-
Sim, isso é verdade. - murmurou Umberto Brancion, quase admirado dessa
constatação - eu raciocino...
-Então,
procure compreender o que representará para mim o fato de conseguir salvá-lo!
Um novo ramo da cirurgia cerebral será aberto e eu serei o seu descobridor! Eu,
apenas eu, fui o criador da teoria que desejo pôr em prática experimentalmente,
através de uma nova, mas delicada operação nos centros nervosos do cérebro...
Todo o mundo médico, todos os cientistas falarão sobre mim! Eu me tornarei uma
celebridade, professor!
-
E eu, que ganharei?...
-
O senhor?... A vida! Não lhe parece que isso seja bastante? Uma vida sem
sofrimento, sem essas dores terríveis, uma vida como há muito tempo o senhor
não conhece!
-
E o senhor acha que eu ainda desejo viver? Acha que eu poderei, acaso, ainda ter
apego à vida, agora, depois do que aconteceu?
Lenoir
ficou, alguns instantes, em silêncio, indeciso. Nunca suspeitou que houvesse
aquela reação por parte do demente, que imaginara poder dominar à vontade,
apenas por lhe dizer que a mulher recusara o consentimento para a operação.
-
Então, que mais quer? - perguntou.
Umberto
Brancion olhou-o demoradamente como quem coordena as idéias...
O
ar de loucura quase desaparecera de sua fisionomia, principalmente de seus olhos.
Não fora a intensa expressão de ódio e de crueldade que se lia em sua face,
poderia passar perfeitamente por uma criatura normal.
-
Há quantos anos está formado? - perguntou como resposta à indagação que lhe
fora feita.
-
Cinco! - disse o médico.
-
Que sabe sobre cirurgia plástica?
-
Plástica?!...
-
Sim, não se faça de desentendido. Não vai querer me dizer que ignora que se
pode, cirurgicamente, modificar a fisionomia de uma pessoa, tornando-a
praticamente irreconhecível!
-
Sim, sei disso, mas... Que relação tem com uma operação no cérebro?
Umberto
Brancion fez uma careta, que pretendia ser um sorriso.
-
É simples, moço: se o senhor deseja que eu consinta em me deixar operar, se
quer que eu imite a letra de minha mulher, a ponto dela própria ser enganada,
tem de me prometer que, durante a operação a que me vou submeter, fará também
as alterações que forem possíveis nos meus traços fisionômicos, deixando-me
diferente do que sou, não importa que para pior!
Lenoir
não pôde conter uma exclamação de estarrecimento.
-
Professor, que é que lhe importa sua fisionomia? O senhor nunca mais sairá
deste manicômio!
Brancion
atirou na mesa a caneta que segurava.
-
Isso não é da sua conta! Então, nada feito!
-
Mas eu não estou em condições de fazer uma operação dessa natureza em seu
rosto! Nunca fiz isso, não tenho prática... Poderei desfigurá-lo, professor!
-
E que tem isso? Não peço para ficar bonito e, desde que eu o queira...
-
Nessas condições, não, não é possível...
O
louco lhe deu as costas.
-
Então, não escreverei coisa nenhuma!
-
Como poderia me justificar perante o diretor, professor?
-
E para quê? Ele certamente não assistirá à operação, com receio de se
comprometer! O senhor poderá fazer o que quiser, enquanto eu estiver na mesa de
operação! Se der certo, se tudo correr bem, depois se arranjará uma explicação.
-
Mas eu...
-
É pegar ou largar! Imitarei a assinatura de minha mulher, só se for com esta
condição.
O
doutor Lenoir ficou pensando um momento, hesitante, procurando compreender
porque aquela ideia estranha, realmente estranha, surgira na mente ofuscada do
professor Brancion, do assassino de ontem e prisioneiro de agora.
Por
um momento, teve a tentação de mandar tudo às favas e abandonar o assunto. Mas
o pensamento de ter que desistir de um sonho tão bonito, de abrir mão dos
projetos que vinha fazendo, de ter que permanecer anos e anos como médico de um
manicômio, apagado e rotineiro, até que alguém se lembrasse de retirá-lo dali
para outro serviço, levou-o a mudar de ideia. O demônio da ambição lhe
murmurava ao ouvido aconselhando-o a aceitar o que o louco queria.
E
então, se decidiu. O professor seria operado! Duplamente operado! Um quarto de
hora depois, o doutor Lenoir com uma folha na mão, entrava no escritório do
diretor do manicômio judiciário.
-
E então? - perguntou o chefe da casa. - Obteve a autorização para a operação
que deseja fazer no professor Brancion?
-
Claro, senhor diretor! Aqui está!
O
diretor deu uma olhadela rápida para o papel e logo o meteu numa das gavetas da
escrivaninha.
-
E então? Está mesmo decidido? - perguntou.
-
Mais do que nunca! Farei a intervenção amanhã mesmo, pela manhã.
-
Pensou bem os riscos que enfrentará? Se fracassar, não surgirão complicações
legais, é certo, mas sua carreira ficará comprometida. Não são olhados com bons
olhos, nem bem aceitos, os médicos que, ainda que legalmente, no exercício da
profissão, ceifam vidas.
-
Correrei esse risco, senhor diretor!
Dando
levemente de ombros, o diretor do manicômio judiciário voltou a cuidar dos seus
papéis.
Paulo, que história incrível! O Dr. Démon é Umberto, o pai de George! Estou ansiosa para saber como ele conseguiu escapar do manicômio e fundar outro! Que reviravolta! Muito bom!
ResponderExcluirQue reviravolta! Sinto que teremos novas e fortes emoções. É impossível prever o que acontecerá... Ah, notaram o nome: Judas Démon. Judas e demônio. O engraçado é que os personagens não perceberam isso. kkkkkkkkk
ResponderExcluirPaulo, estou de boca aberta com este capítulo. Que bomba, nunca imaginei isso. o velho ruim médico Dr Démon, pai do jovem e bom médico Dr George. Valeu o folhetim partindo prá muita emoção. Estou ansiosa pela continuidade. Até.
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