quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO IX


O coronel Pedro Barros gargalhava.
- Estou curiosa por saber a razão de tanta alegria - afirmou Dalva.
- Os Coragem... tiveram a coragem... desculpe o trocadilho infame... de fazer Jerônimo se candidatar a prefeito de Coroado! Não é uma piada? O irmão preso... criminoso... com todo mundo revoltado com ele... e ele ainda tem a pretensão de se eleger! Só rindo, Dalva, e rindo muito!

Ritinha abriu a porta e Duda entrou.
- Como foi? Tudo bem?
- Tudo bem, mas foi só um treino, Ritinha. Temos de ter paciência.
- E você não sentiu dor, não é?
- Não. Mas isso não é nada. Vamos ver quando começarem os treinos intensivos.
Ritinha entregou uma carta que havia chegado de Coroado. Era de Jerônimo. Duda ficou sabendo da prisão de João.
- Nossa senhora, Eduardo! Como é que pode?
Duda tinha uma expressão desolada.

O diretor do Flamengo, Paulo Moreira, exigiu que Fausto Paiva escalasse Duda no próximo jogo do time.
- Mas eu não posso escalar um jogador sem condições!
O dirigente lembrou-lhe que a torcida exigia a presença de seu ídolo, do herói da galera: Duda.
- Pelo menos meio tempo - insistiu o diretor. Fausto Paiva mostrou-se irredutível.
- Pois a diretoria decidiu. Ontem, em reunião. Duda vai jogar a próxima partida!
Fausto Paiva bufou de raiva, mas teve de acatar a decisão.

Diana estava de volta, e acusava o coronel de ter tramado o roubo do diamante de João.
- Isso não é verdade! - gritou Pedro Barros.
- Como não é verdade? E as marcas que eu tenho nas minhas costas? Por que fizeram aquilo comigo? Pra me impedir de contar ao João toda a verdade.
- É mentira!
Nesse instante, Branca surgiu na sala.
- Essa é... Lara? - perguntou Branca.
- Não. Eu não sou Lara. Sou Diana. Nunca ouviu falar de mim?
Sou aquela que seu marido mandou surrar pra esconder certas verdades.
- Como? Eu não entendo... - disse Branca.
- Sabe quem era Lourenço d'Ávila? Um ladrão, um traidor, dona. Traiu Pedro Barros nas barbas dele. E Pedro Barros tinha ódio dele. Não lhe disseram isso?
- Já chega! Já chega! - gritou o coronel.

A partida terminou. Duda havia jogado, mas não conseguira evitar derrota do Flamengo. Fausto Paiva estava radiante.
- Convencido agora? - perguntou ele ao diretor.
- Não. Ainda não - respondeu Paulo Moreira.
- Então, continue insistindo com ele. Continue e você vai entrar por um cano que não tem mais tamanho.

Potira visitava a casa que Rodrigo montara para ela. O promotor não escondia sua alegria. Potira não demonstrava o mesmo entusiasmo. Ela pensava em Jerônimo quando entregou o anel de noivado a Rodrigo.
- Não quer usar o anel que te dei? - ressentiu-se Rodrigo.
- Eu vou usar, Rodrigo, mas... só amanhã. Só amanhã é que vou merecer andar com ele. Antes do nosso casamento, prefiro... não usar.
Na cerimônia do casamento, Lara encontrou o delegado Falcão.
- Posso ver João? - perguntou Lara.
- Pode, claro! A senhora tem esse direito.
Lara dirigiu-se à delegacia. João, de cabeça baixa, apenas ergueu os olhos.
- Não... não se alegra por me ver, João?
- A quem devo dar meus cumprimentos pela visita? A Lara ou a Diana?
- João, você não acredita mais em mim? Pensa que foi tudo uma trama de meu pai, com minha cumplicidade?
- Não sei no que acredito. Só sei que estou cheio de passar por tanta coisa, sem poder fazer nada pra me defender.
- Eu não esperava ouvir estas palavras de você - disse Lara, contendo as lágrimas.
- Não sou santo! Não agüento mais tanta injustiça. Estou de um jeito que uma hora minha revolta arrebenta essas paredes. Já nem sei mais o que faço - desesperou-se o garimpeiro.
- Você está mudado, João. Mas eu sei... sei que você não pode ser acusado por isso. Adeus, João!

Após o casamento, Rodrigo tinha a cabeça repleta de sonhos e desejos. Potira não o decepcionou:
- Quero dizer uma coisa a você, Rodrigo. Que você é o melhor homem do mundo. Eu prometo, eu juro por tudo quanto há de mais sagrado que vou te fazer feliz!

O dr. Rafael estava de volta a Coroado. Seu regresso coincidiu com a volta de Diana. Lara não havia resistido à reação violenta e inesperada de João Coragem, na noite anterior.
O psiquiatra resolveu modificar o tratamento. Ele agora gravava e filmava Diana. Em sua opinião, era imprescindível que Lara conhecesse Diana.

Durante o café da manhã, Duda ficou sabendo, pelos jornais, que seu passe estava sendo negociado com o Corinthians. Resolveu ir até a sede do Flamengo, verificar a procedência da informação.
A notícia de sua venda foi confirmada por Paulo Moreira.
- Quer dizer... que eu não tenho direito de dar palpite? Vocês vendem um jogador assim como se negocia um bezerro, um animal? - protestou Duda.
O diretor foi frio e objetivo:
- Isso é o futebol, meu caro! O Flamengo não tem mais interesse em mantê-lo no plantel.
Duda engoliu em seco e deixou a sede do clube, desarvorado. Depois de anos de glórias e gols, era aquele o agradecimento dos homens que dirigiam o clube.

João resolveu fugir da cadeia. Estava tudo combinado: a evasão ocorreria durante a inauguração da estátua de Pedro Barros. A festa estava no auge quando Braz e seus homens invadiram a delegacia e o libertaram. Antes de partir em direção às montanhas, João resolveu dirigir-se à praça. Diante dos olhos estupefatos do coronel e do delegado, João, do alto do cavalo, fez pontaria e atirou no olho de granito da estátua. Então, aos berros, o grupo, atirando para o alto, desapareceu. Barros tremia de ódio. A multidão, ainda assustada, sorria discretamente, estimulada pela figura ridícula da estátua.
Braz havia escolhido o casarão de uma fazenda abandonada co­mo esconderijo.
- É aqui que você marcou com Lara? - perguntou João.
- É, João - disse Braz.

Duda transferiu-se para São Paulo. Nova cidade, novo clube, nova torcida. Duda pensava nas incertezas da profissão e no fracasso de seu casamento. Ritinha o havia abandonado.
- Foi ela! Ela que não me quis. Pode dizer isso aos jornais ­ disse Duda a Hernani.
Ritinha de fato partira, irritada por achar que seu marido revelara à Associação Médica a cirurgia malfeita de Maciel.

O leve rumor de passos acordou João Coragem. Braz e os outros dormiam. O garimpeiro levantou-se, abriu cuidadosamente a porta e espiou os arredores imersos na escuridão. Um largo sorriso cortou­lhe a face, lado a lado.
- João!
- Lara!
Na manhã seguinte, Braz surpreendeu-se com o bom humor de João.
- Que foi que te aconteceu durante a noite? - perguntou Braz.
João apontou Lara descendo a escada. Aquele era o motivo. Braz sorriu.

João e os garimpeiros haviam saído à procura de alimentos. O galope cadenciado, a princípio indistinto, aos poucos foi despertando a atenção de Lara. Olhou o relógio. Era cedo, ainda, para o retorno do grupo. Alguém se aproximava. E alguém que não pertencia ao grupo de amigos do marido. Era Falcão. Lara surpreendeu-se.
- Delegado! O que... o que está fazendo aqui?
- Vim só saber como a senhora está passando... - respondeu Falcão, sorrindo sordidamente.
Lara ficou sabendo que o delegado a seguira e que estava disposto a não prender João.
- Mas... a troco de quê? - indagou Lara, desconfiada.
- De a senhora voltar comigo. Eu tinha... um noivado prometido com a senhora, não se lembra? João apareceu e a roubou. Chegou a minha vez de reaver o que perdi. E não vou perder esta oportunidade, não!
Lara negou-se a atender os desejos do delegado. Ele se conformou.
- Está certo. Não vou obrigá-la a nada. A gente espera o João voltar... e eu levo ele preso de novo. Não tenho pressa. Eu espero.
Lara queria chorar. Só havia uma solução, pensou. Aproximou­se do delegado. Um cão latiu no fundo do capinzal.

Jerônimo prometera a si mesmo livrar-se da ignorância e passava as noites debruçado nos livros que Rodrigo lhe trouxera. Afinal, um prefeito não pode se dar ao luxo de ser ignorante... Lia avidamente quando Potira entrou no quarto. Seu coração disparou. Potira atirou-se a seu pescoço, ofegante.
Jerônimo não reprovou. Potira disse que estava pensando em contar ao marido do amor que os envolvia.
- Pra que, Potira? Não vai adiantar nada... As coisas não vão mudar pra nenhum de nós dois. Pelo contrário, se falarmos, tudo vai piorar... Ele vai se sentir traído, enganado... e isso não é justo. Ele nem merece isso, Potira... Pense bem...
Nesse instante, Sinhana entrou no quarto. Jerônimo envergonhou-se. Potira empalideceu.
- O que está acontecendo? Será possível que vocês não têm vergonha?
Jerônimo procurou desculpar-se. Mas Sinhana não aceitou as justificativas do filho e expulsou a índia do quarto. Nesse instante, Jerônimo tomou uma decisão:
- Mãe... está decidido. Vou arranjar uma moça pra casar. Alguma coisa eu tenho de fazer. Assim a gente não pode continuar! Um dia... um dia eu perco a cabeça... e a gente faz uma besteira, mãe!
- Então, casa, filho. Casa, sim. E logo!
João e seus homens regressaram ao casarão abandonado. O ga­rimpeiro saltou lépido da montaria e dirigiu-se à porta gritando:
- Lara! A gente chegou!
Não houve resposta. João entrou na casa e só encontrou um bilhete. Lara havia partido. Ela pedia para que João se entregasse para ser julgado. João não acreditou no que lia.

Jerônimo resolveu procurar Rodrigo e contar-lhe de seus sentimentos em relação a Potira.
- E esse sentimento... existe há muito tempo? - indagou o promotor, atônito.
Jerônimo movimentou afirmativamente a cabeça.
- E por que esconderam? - indagou o promotor.
- Eu sempre escondi... até de mim.
- Qual a razão?
- Meu pai... ele tinha receio... de uma união entre a gente. Porque a gente nunca soube ao certo. Minha mãe até pensava que Potira fosse filha dele. Mas, ele jurou que a razão não era essa...

Nesse mesmo instante, em sua casa, Potira ficou sabendo qual era a razão. Indaiá, criada de Pedro Barros, contava a história do pai de Potira.
- Ele foi assassinado. Você estava com um ano quando ele morreu.
- Quem matou ele? - indagou Potira, com a voz embargada. Indaiá hesitou em revelar o nome do assassino, mas por fim contou tudo:
- Você era criancinha de colo, quando deixei seu pai por Sebastião. Deixei você também. Seu pai foi atrás de mim, disposto a tudo. Numa briga, Sebastião deu fim nele e fugiu. Eu fiquei e tomei toda a culpa. Fui presa e condenada a cinco anos de cadeia. Achei que merecia o castigo e aceitei a pena que eu mesma me impus, para me limpar. Sebastião, então, te pegou e levou para longe. E guardou o segredo até o fim da vida.
Mas nem essa revelação diminuiu o amor de Potira por Jerônimo.

Na escuridão da praça, sentado em um canto, meio escondido pe­los arbustos, Jerônimo admirava a jovem morena que há meia hora falava com ele. Era Margarida, filha do prefeito assassinado. Nessa mesma noite, Jerônimo pediu Margarida em casamento. Ela aceitou após ligeira hesitação.

De repente, o centro de Coroado se agitou.
João Coragem chegava, liderando uma dúzia de homens. Eles in­vadiram a sede da Associação dos Garimpeiros, encontrando a quem procuravam: Pedro Barros. Após breve luta, os garimpeiros de João dominaram os jagunços do coronel.
- Vim receber o prêmio que você ofereceu pra quem me trouxesse, coronel - afirmou João, com um sorriso irônico,
- Mas... eu ofereci o prêmio pra quem trouxesse você morto! - lembrou Pedro Barros.
- Vivo ou morto! Está no cartaz que você espalhou pela cidade... - esbravejou João, enterrando o cano da arma na proeminente barriga de Pedro Barros.
O coronel não teve alternativa. Humilhado, entregou o dinheiro para João.
Os criados de Pedro Barros ouviram alguns gritos vindos de uma casa abandonada próxima da floresta. Dalva, desconfiada, dirigiu-se até lá. À luz de um candeeiro, avistou o corpo inanimado da sobrinha. Aflita, ergueu-a, amparando-a no colo. Lara abriu os olhos. Não sabia o que fazia lá. Dalva percebeu um papel dobrado, perto de uma caneta. Ela abriu o bilhete e leu alto:
A solução é tão fácil, a cura tão lógica. Por que vocês não a encontram? Por que deixar uma criatura à mercê de Diana, que vai destruí-la aos poucos?
- Titia, o que significa isso? Quem escreveu esse bilhete?
- Como posso saber, Lara? Nem sei o que se passou aqui... Quem destruiu essas roupas de Diana?
- Não sei. Não sei de nada.
- Eu acho que por hoje chega. Vamos mostrar o bilhete ao dr. Rafael.

O automóvel parou diante do clube de jogo. Souza dirigiu-se até ele. O passageiro, sem sair do veículo, quis saber da carta de Estela. Souza entregou-lhe a carta. O estranho abriu o envelope e começou a ler...
- Pobre Estela... o que tem passado... Só fala na filha... Nem uma vez menciona meu nome.
Nesse instante, um vulto rodeou o automóvel. Alcançou a janela traseira do lado esquerdo e falou, inesperadamente, acentuando as palavras, com um toque de ironia:
- Carta de Estela, Lourenço?
Os dois homens sobressaltaram-se.
- Branca! - gritou Lourenço.    _
- Seus... trapaceiros!
Souza pediu calma a Branca. Ela exigia que Lourenço descesse do carro.
- Não posso, Branca. Compreenda!
- Compreender... o quê? Que você não cumpriu sua palavra?
Que me fez de tola... que me enganou...
Lourenço procurava desconversar. Branca o ameaçou:
- Você tem de tomar uma atitude... tem de dar explicação que me convença... ou eu te delato! Digo a verdade ao delegado Falcão!
Lourenço tremeu. Deu uma ordem breve ao motorista e o carro arrancou.
O alto-falante instalado na praça de Coroado anunciou:
"Acaba de chegar o resultado da última urna. E atenção, povo de Coroado! As urnas falaram e elegeram o novo prefeito de nossa cidade: Jerônimo Coragem!"
O delírio tomou conta da multidão, que levantou Jerônimo no ar. Foguetes foram disparados. Margarida e Rodrigo vibravam. Jerônimo vencera a segunda etapa de sua carreira. A festa continuou no rancho. Jerônimo e Rodrigo bebiam.
- Olhe aqui, Jerônimo. A primeira coisa que você vai fazer quando tomar posse é tirar aquela estátua do Pedro Barros. Uma vergonha!
O promotor entusiasmou-se com o que dizia. E então todos ficaram sabendo o principal motivo de seu ódio por Pedro Barros.
- Ele mandou meu pai pra cadeia. Acusou meu pai de um roubo. O velho foi julgado e condenado. E estava inocente! Sabe o que foi que ele fez? Se enforcou... se enforcou...
Enquanto isso, um amigo levava a notícia da vitória de Jerônimo ao esconderijo de João, que exultou. Convidou todo o seu bando para beber. Mas ele mesmo não pôde participar da festa. Precisava traçar os planos para libertar Braz Canoeiro, que fora preso quando tentava entrar em contato com Lara.

OFERECEMOS O CAPÍTULO DE HOJE A TODAS AS BISCOITINHAS DESAPARECIDAS, DESEJANDO QUE VOLTEM LOGO AO NOSSO CONVÍVIO, POIS FAZEM MUITA FALTA.

2 comentários:

  1. JE, que novela! Lembro dos casamentos de Potira e e Jerônimo com pessoas que não amavam, a gente ficava triste com isso. Os três irmãos Coragem passavam maus pedaços, era uma drama sem fim! Mas mesmo assim, gosto muito de recordar. Obrigada. Bjs.

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  2. Cada vez melhor, pena que esta no final.

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