CAPÍTULO
XL - QUEM CASA – QUER CASA!
Eles
chegam ao prédio e tomam o elevador. Claude segura as mãos de Rosa, ficando,
assim, um de frente para o outro
C:
Rosa, você continua maluquinha, hã? Essa ideia de entrar cantando, mon amour,
devia ter me avisado, hã?
R:
Eu nem sei como tive coragem... uma amiga me mostrou essa música num bate papo
pela internet e me deu vontade de cantar pra você. Você não gostou? Ah! Já sei,
eu devo ter desafinado demais é que não deu tempo de ensaiar.
C:
Você estava maravilhosa, chérie... quem desafinou foi o meu coraçon... batia
descompassado... perdido na sua voz, nas palavras que você cantava... – Ele
começa a “recitar” bem baixinho:
...“Você
pra mim tem sido ton especial... É bom amar... ouvir você dizer baixinho... que
também me ama com carinho... Saber que estamos lado a lado... que esse amor por
Deus abençoado... Vai ficar pra vida inteira... Sempre em nossos corações.”
R:
Você guardou todos esses versos?
C:
Oui... – Claude a faz girar e a abraça por trás, falando muito, muito baixinho
– Eu te amo, chérie, com carinho, com paixão, com desejo... pra vida inteira,
lado a lado, com esse amor por Deus abençoado... – E coloca as mãos sobre o
ventre de Rosa que, emocionada, deixa escapar uma lágrima, que cai sobre a mão
dele.
C:
Non... non era pra você chorar... Era pra você dizer que também me ama, hã?
R:
E eu amo... Dio, come te amo! Desculpa... é que isso foi tão lindo... acho que
a gente não segurou a emoção... - diz colocando sua mão sobre as dele.
E
ficaram assim por algum tempo, só percebendo que o elevador já havia parado,
quando a porta dele se abre, porque fora chamado.
Eles,
então, despertam desse momento e andam até a porta do apartamento, sob os
olhares curiosos dos outros moradores, afinal ainda estavam com as roupas do
casamento...
Rosa
está prestes a abrir a porta:
C:
Espera um pouco, mon amour. – Ele segura Rosa no colo. Segundo Frazon, tem que
ser assim é um costume oriental, que a noiva atrai azar se entrar no lar com o
pé esquerdo e que os gênios ruins - que atacam apenas as mulheres - ficam à
espera da noiva na porta. O marido, enton, protege a esposa, carregando-a para
evitar que ela "pise" em algo ruim, porque se a noiva cair na entrada
de casa, terá um casamento infeliz.
R:
E você acredita nisso?
C:
Pelo sim, pelo non... melhor non arriscar, hã? – E a carrega até o quarto. –
Non esquece pé direito primeiro – E vai descendo Rosa lentamente, rente ao seu
corpo, sentindo o corpo dela estremecer junto ao seu...
R:
Pé direito... esquerdo... pronto! – Ela apoia as mãos nos ombros dele, sem
desviar o olhar – Nada de ruim... com você me protegendo... – E desliza sua mão
pelo rosto dele. Claude segura a mão dela e encosta em seus lábios.
C:
Na verdade, eu acho que é você quem me protege, hã? Sempre foi desde o primeiro
dia. E a beija, profunda e apaixonadamente. Rosa interrompe o beijo.
R:
Amor, me ajuda a tirar esse vestido, tá muito justo, apertado mesmo. Ela se
vira de costas pra ele, que vai abrindo, um a um, os botões do vestido até que
ele cai, deixando Rosa apenas de lingerie.
C:
Non sei como suportei todos esses dias sem fazer amor contigo, você me deve um
banho juntos, Srª Geraldy... tá lembrada?
R:
E como eu ia esquecer um compromisso desses? – Diz, já tentando desfazer a
gravata e desabotoar a roupa de Claude... - Vamos?
Na
manhã seguinte, eles seguem para a casa, para um último final de semana por lá,
pois com a chegada dos gêmeos, Claude resolvera reformar e ampliar a casa,
“para ter mais conforto e ser adequada às crianças”, dizia ele.
Na
noite do sábado, eles estão já deitados para dormir, conversando. Estão
deitados de lado, de conchinha...
R:
Claude, você acha mesmo necessário fazer essa reforma? É tudo tão perfeito a
casa é grande, tem quatro quartos aqui em cima.
C:
Mas son quartos pra adultos, chérie. Eu non gostava deles, quando era criança,
enton vamos melhorá-los. Oui?- Sua mão acaricia Rosa, lentamente...
R:
Ok... Será que em seis meses, tá tudo pronto?
C:
Eu espero que sim. Até lá eles já nasceram... Já pensou nisso, mon amour?
R:
Já! E eu sinto um medinho de não dar conta desse recado em dose dupla...
C:
Hummm, você non vai estar sozinha, eu vou estar contigo, sua mãe, Dadi... Ela
até parece que vai ser a avó! Está mais ansiosa que sua mãe!
R:
É verdade. A Dadi é muito atenciosa. Na verdade, ela vai ser uma avó assim um
pouco “torta”, mas vai. Ela vive falando, toda prosa, que você é o filho
postiço dela e que eles, os gêmeos, vão ser netos postiços também, eu adoro
quando ela fala isso, é um carinho muito bonito, muito sincero. Claude? Amor? –
Ela olha pra ele e vê que ele adormecera.
Ela
se aconchega ainda mais e segura a mão dele.
R:
Boa noite, amor... - Fecha os olhos e dorme também.
Rosa
acorda bem cedo, pois queria preparar um café especial. Ela sai da cama com
cuidado pra não acordar Claude. Desce até a cozinha e começa a preparar o
café...
Depois
de pronto, Rosa vai até o quarto e acorda Claude.
R:
Claude... amor... acorda... vem tomar café... Eu to morrendo de fome...
C:
Chérie... porque ton cedo assim, hã?
R:
Porque assim a gente fica mais tempo junto... e já passou da hora, hã? Vem...
faz isso por mim...
C:
D’accord... eu vou tomar um banho rápido e desço, enton...
R:
Tô te esperando lá embaixo!
Rosa
resolve colher algumas flores, para enfeitar a mesa do café, enquanto espera
por Claude. Ela anda pelo jardim, ainda não restaurado completamente. Escolhe
algumas rosas e volta pra cozinha.
Enquanto
faz o arranjo, ela ouve um barulho na varanda dos fundos. Sem pensar, ela vai
até lá, curiosa, abre a porta, olha, tenta ver de onde vem o barulho, vai
andando pela varanda, mas não vê nada. Então resolve descer os degraus,
seguindo a direção do som.
Claude
está acabando de se enxaguar... ele mal pega a toalha para se enxugar, escuta a
voz de Rosa:
R:
Claude! Claude! - grita Rosa – Vem aqui, depressa!
C:
Mon Dieu! Rosa, gritando assim... non... non pode ter acontecido nada com essa
maluquinha...
Ele
sai rápido do banheiro, colocando uma camiseta e um short de qualquer maneira,
desce a escada, gritando por ela:
C:
Rosa!... chérie... cadê você? Mon Dieu... a voz dela vem lá de fora! Rosa, que
foi? Você caiu, se machucou?
Ele
vê Rosa abaixada, de costas para onde ele está ao pé da escada.
“Mon
Dieu! Non... non... Me diz que non é o que eu tô pensando!” – Ele praticamente
“voa” os degraus da escada, se ajoelhando ao lado dela:
C:
Rosa, non se mexe, chérie! Eu vou levar você pra casa... non pra casa non...
pra clínica, hã? Onde tá doendo, mon amour? Como foi que você caiu, hã? Ele
falava sem dar tempo dela se explicar.
R:
Porque você acha que eu caí?
C:
Porque você tá me chamando aos gritos... ta aí abaixada, ao pé da escada...
toda encolhidinha... Você non caiu, não foi?
R:
Não...
C:
Mon Dieu, obrigado! – Diz baixinho – Enton, porque gritou assim? Me assustou,
hã? Pensei tanta coisa ruim...
R:
Desculpa... é que eu fiquei tão feliz quando vi eles aqui... Olha! – E se
ergue, mostrando um filhote de gato dos quatro que estavam abrigados embaixo da
escada – Você assustou o Grimm, ele estava aqui protegendo os filhotes... os
herdeiros dele. Onde será que está a mãe deles?
C:
Eu non creio que você quase me enfartou por causa de uns filhotinhos de gato!?
R:
Mas, amor, não são só uns “filhotinhos de gato” – São os filhotinhos do
“Grimm”e da namorada dele. Por isso ele estava aqui, naquele dia. Ele estava
procurando por ela.
C:
Chérie, você está imaginando coisas... Tá, son bonitinhos, oui! Mas, daí achar
que eles son que nen gente, que son uma família.
R:
Mas, eles são uma família... só não tem consciência disso. Eles não têm fidelidade
felina, só isso.
C:
“Só” isso? Quer dizer que eu poderia sair com várias “gatinhas”, enton, chérie
se...
R:
Claude Geraldy! Nem se atreva a continuar essa... essa... suposição...
C:
Calma... eu ia dizer “se” eu fosse um gato, tipo o Grimm... rsrsrsrsrs
R:
Nem que você fosse o Simba, o Rei Leão... nem assim... tá bom? Ela vira o
rosto, tentando não mostrar que está chorando.
C:
Rosa? Você está chorando? Mon Dieu, foi uma brincadeira, eu non tenho a mínima
intençon de te trair, non preciso disso, porque você me faz feliz em todos os
sentidos, hã? Ele se aproxima dela – Me dá aqui esse filhotinho, vamos devolver
ele pro ninho. - Ele segura o rosto dela, limpa as lágrimas e continua.
C:
Olha, nunca mais me assusta assim, hã? – E abraça Rosa – Eu realmente pensei
que alguma coisa ruim tivesse te acontecido e eu non suportaria. E se fossemos
uma família ”felina”, você seria a única gata que eu “namoraria”, oui?
R:
Desculpa de novo, é que eu fiquei tão feliz quando vi eles aí, não sei o que me
deu... E não sei por que tô chorando...
C:
Porque tá sensível, tá esperando nossos filhos, nossos filhotinhos! – ela sorri
– Isso, assim que eu quero te ver, sorrindo! Vem, vamos lavar as mãos e tomar
café, hã? O cheirinho tá muito bom...
Quinze dias
depois...
R:
Claude, calma... Consulta médica é assim mesmo. Eles marcam a hora que você tem
que estar aqui. Não quer dizer que é a hora que vai ser consultada.
C:
Mas, chérie, quase duas horas de atraso, se eu atraso uma reunion assim, perco
o contrato, hã?
R:
Mas, aqui não tem contrato, nem reunião.
Enf:
Sra. Rosa Geraldy... Vamos?
C:
Até que enfim, hã?
R:
Claude!
Eles
entram no consultório, Rosa passa pelas perguntas rotineiras. Claude, por sua
vez, também pergunta várias coisas, confirmando o que leu no livro, tirando
suas dúvidas.
M:
Parabéns, Claude! Eu posso chamá-lo, assim, não é?
C:
Sim, por favor, hã? Mas porque tá me dando parabéns?
M:
Por seu interesse. A maioria dos homens nem acompanha suas esposas às consultas
do pré-natal. Na verdade, eu acho que eles nem imaginam pra que serve o
pré-natal... e você fez tantas perguntas interessantes.
R:
Ah, doutor! O Claude comprou vários livros do tipo: “Como ser pai de primeira
viagem” e lê muito.
C:
D’accord. Eu non ajudei a fazer? Nada mais justo do que ajudar a cuidar, hã,
chérie?
Então
Rosa é encaminhada à sala da ultrassonografia. Depois de preparada, ela se
deita e Claude fica ao lado dela, segurando sua mão. Ele não tira os olhos da
tela.
O
médico começa o exame passando o gel e o ultrasson em Rosa e vai explicando as
imagens que aparecem, o tamanho que eles estão:
M:
Bem, Rosa... você já está completando o quarto mês.
C:
E está tudo bem com eles, doutor? Pergunta, antes de Rosa.
M:
Perfeito, Claude – E sorri diante da situação. – Seus filhos estão ótimos e a
mãe também. Minha única preocupação com Rosa é a pressão. Gêmeos, geralmente,
nascem um pouco antes de completarem os nove meses.
C:
Mas, Rosa tá com presson muito alterada? Eu digo pra ela non se esforçar, ficar
em casa, mas ela insiste em ir trabalhar.
M:
Por enquanto, tudo dentro dos padrões e não se preocupe, Claude, ela está
grávida, não doente. Requer cuidados, atenção, mas ela pode continuar com sua
rotina normal. Inclusive a “rotina” do casal, ou seja, sexo desde que não seja
nada “fora” do normal, claro.
R:
Ham... ham.. Doutor... Claude... vocês perceberam que eu estou aqui também?
Posso tirar as “minhas” dúvidas?
M:
Rosa, me desculpa... você está coberta de razão: você é a personagem principal,
nesta cena e nós somos só coadjuvantes... Aliás, eu sou quase um figurante, pra
falar como me sinto nessas horas... mas diga... qual é sua dúvida?
R:
Claude, eu acho que o doutor conhece o Frazão... – Diz Rosa, rindo.
M:
Frazão? Quem é? Algum outro médico?
C:
Non, é um amigo que vive fazendo piadinha muito parecida com essas suas, hã?
Rsrsrs
M:
Maravilha! Vocês têm senso de humor! Isso é ótimo em todos os sentidos de um
casamento e na vida também... mas não! Não conheço esse seu amigo.
R:
Doutor, com esse ultrasson, pelo tempo... dá pra saber o sexo?
M:
Vocês querem saber o sexo desses dois, já?
R&C:
Sim/Oui! – Eles sorriem um para o outro.
M:
Incrível! Vocês realmente são um casal incrível... A gente percebe que estão em
sintonia... Esses dois aqui são abençoados mesmo! E vocês também! Olhem só!
Rosa
e Claude olham para a tela, onde continuam as imagens dos bebês. Era um
ultrasson 3D, de maneira que a imagem era quase uma “foto”.
M:
A natureza é sabia mesmo... por mais que eu esteja acostumado a isso, ainda me
emociono com esse pequeno milagre da vida...
R:
Doutor... desculpa, mas eu to ansiosa. Dá pra ver o sexo? A gente até já fez
planos para o nome deles porque não queremos chamá-los de “os gêmeos” a toda
hora...
M:
Ah, já escolheram os nomes? E posso saber, antes de falar o sexo?
R:
Bom... o Claude acha que é um casal...
C:
E Rosa escolheu os nomes: Anna Lúcia com
dois “enes” e Joon Riccardo, com
dois “ces”, como os avós originais.
M:
Bonitos nomes... e... Epa! Eu acho que eles aprovaram... olha só como estão...
R:
É, eu combinei os nomes de meus pais com os pais do Claude e... o senhor disse
que eles gostaram? Então... isso quer dizer...
M:
Quer dizer que o seu marido estava certo, Rosa. É um casal. Parabéns! Deu pra
ver perfeitamente... eles ajudaram muito se movimentando, porque às vezes ficam
tão quietos, que fica impossível identificar...
Rosa
e Claude se olham.
R:
Você estava certo, amor.
C:
E você ainda duvidava de meu “instinto paternal”, chérie? Rsrsrsr – Ele se
abaixa, pra ficar da mesma altura que ela e acaricia seu rosto. Rosa retribui o
mesmo carinho.
R:
Você sempre soube... mesmo antes de sabermos que eu estava grávida... lembra
que você disse “Mon Dieu, será que eu
daria conta de dois?”, quando queria falar com a cegonha?
C:
E você já estava, chérie... com Anna e Joon aqui dentro... – Ela acaricia a
barriga de Rosa, sem se importar com o gel... enquanto se olham, demoradamente.
O
médico deixa a sala discretamente, falando para sua assistente:
M:
Dá um tempo... uns quinze minutos pra eles.
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