sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 43 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


Capítulo XLIII
UM REFÚGIO ACOLHEDOR

Maria "Flor de Amor", salva quase miraculosamente de se afogar no rio, depois de haver conhecido, apesar de jovem como era, a crueldade e a perversidade dos homens, encontrara, na casa do médico que cuidara dela, um asilo, um refúgio seguro. A mãe de George Brancion, o jovem médico, imediatamente começara a apreciá-la e a lhe querer bem como a uma verdadeira filha e não sabia mais o que fizesse, que cuidados lhe dedicasse, para que se recuperasse o mais depressa possível do tremendo choque nervoso que se seguira ao doloroso acidente . "Flor de Amor", graças à sua juventude e robusta constituição, depois de passar quinze dias de cama, no decurso dos quais, George vinha vê-la muito frequentemente, aproveitando as oportunidades que sua profissão lhe permitia, havia recuperado a saúde e, embora ainda em convalescença, parecia uma pequena fada, cheia de beleza radiosa. A mãe do facultativo, por sugestão do próprio filho, mas também por seu gosto, havia pedido à mocinha que permanecesse com eles. Ali nada lhe faltaria nunca e ela poderia provar, de mil maneiras, seu reconhecimento pelo desvelo com que fora tratada na hora amarga e quase fatal. Aquela estória de provar seu reconhecimento, naturalmente, não passava de uma desculpa, idealizada pelo jovem médico, para induzir "Flor de Amor" a aceitar a oferta.
E depois de muito discutirem o assunto, a jovem, embora nada prometendo, havia aceito a hospitalidade daquelas bondosas criaturas. Ativa e habilidosa como era, “Flor de Amor” fazia, na casa, toda sorte de afazeres domésticos, ajudava na arrumação e limpeza, auxiliava nos trabalhos da cozinha, na correspondência de George, e nesses misteres revelava uma capacidade verdadeiramente fora do comum.
George e a bondosa senhora Dorotéia, quase não acreditavam no que os próprios olhos viam. A mocinha movimentava-se leve como uma borboleta por toda a casa, sempre a fazer alguma coisa de novo ou de útil. E Maria "Flor de Amor", por sua vez, procurava retribuir como podia o afeto que ali lhe era demonstrado. Muitas vezes, no entanto, a senhora Dorotéia, observando a moça sem que ela notasse, achava-a pensativa, absorta em pensamentos que não deviam ser alegres, a julgar pela expressão dolorosa que se estampava em seu lindo rostinho.
Um dia a senhora Dorotéia, entrando inesperadamente no quarto de Maria "Flor de Amor", encontrou a moça a chorar, com um lencinho apertado contra os lábios para reprimir os soluços e talvez mesmo para não ser ouvida. Assustada, a mãe de George abraçou a moça, e lhe disse, acariciando-lhe os cabelos:
- Que tem, minha filha? Por que chora?
"Flor de Amor", que ficara muito corada, envergonhada por ter sido surpreendida daquela maneira, murmurou confusa:
- Não é nada. Bobagem minha...
- Não, minha filha. Não se chora assim sem motivo. Deve haver uma causa para essas lágrimas.
- É porque eu sou muito boba, e às vezes me deixo invadir pela tristeza, pelo desânimo...
- Maria "Flor de Amor", você não está me dizendo a verdade.
- Perdoe-me, senhora. Não chorarei mais. Mas... Não me faça perguntas, por favor.
Compreendendo que não obteria êxito tentando arrancar alguma coisa da moça, a senhora Dorotéia, preocupada, desceu ao andar térreo do pequeno palacete, onde o filho tinha seu consultório. George havia terminado, naquele justo momento, os trabalhos do dia, e estava despindo o avental branco de trabalho, para depois subir.Vendo chegar sua mãe, aproximou-se dela e, beijando-a ternamente em uma das faces, disse, com alegria:
- Alô, mãezinha! Que há de novo? O que Maria "Flor de Amor" está fazendo?
- É justamente sobre ela que venho falar, George...
O rosto do jovem médico se fez imediatamente sério.
- De Maria "Flor de Amor"? O que há com ela?
A senhora Dorotéia ficou a olhar as próprias mãos encabulada.
- Alguma coisa atormenta essa menina, meu filho, e ela não quer dizer do que se trata. Há pouco, entrando inesperadamente no quarto dela, encontrei-a chorando desesperadamente, e quando quis saber por que chorava assim, respondeu apenas que às vezes se sentia triste. Mas eu não acredito, ninguém chora daquele jeito sem um motivo, por estar triste simplesmente. O que você acha que seja?
- Como posso saber, mamãe?
- Você não suspeita de nada, não desconfia de nada, pelo modo reticente com que ela se refere ao seu passado?
- Sim, pensei nisso diversas vezes. Nunca contou a você nada mais do que contara a mim, não é verdade, mamãe?
- Talvez até menos do que a você! A única coisa que eu sei sobre ela é que não tem mais os pais, nem parente algum...
George vestiu o paletó, pensativo.
- Talvez seja melhor deixá-la em paz - murmurou – não começar a atormentá-la com perguntas constrangedoras. Pode ser que o tempo cicatrize suas feridas...
- E se for alguma coisa grave, meu filho?
O médico permaneceu calado, sem saber o que dizer. A senhora Dorotéia se aproximou e enfiou-lhe a mão pelo braço, amorosamente.
- George, você é especialista em doenças mentais, não é verdade?
- A senhora bem o sabe, mamãe! Este consultório me serve apenas para praticar a clínica geral.
- Por que você não vai ver Maria "Flor de Amor", então?
- Que pergunta! Ela não está doente! É apenas uma jovem que sofreu muito e que precisa de paz, de tranquilidade, de afeto!
- Não entendo isso, George. Tem uma habilidade toda especial para fazer perguntas, para fazer "confessar" às pessoas, para interpretar o sentido das respostas que elas lhe dão, habilidade esta que é cada dia aumentada pelo exercício da sua profissão. Porque não põe então, em prática, agora, essa experiência para ver se você arranca alguma coisa dessa menina sofredora?
O médico passou um braço em torno dos ombros da mãe, sem responder. Mas a senhora Dorotéia, virando-se para ele, para olhá-lo bem nos olhos, insistiu:
- Por que não faz o que digo, filho?
Um leve rubor se espalhou pelo semblante do rapaz.
- O motivo é um só, mamãe - murmurou. - Tenho medo de saber...
- Tem medo de saber? Mas... Por quê?
- Sim, mamãe... Há certas flores cujo perfume precisamos aspirar sem tocar na haste, porque elas morreriam imediatamente...
- Não estou entendendo...
- Receio que Maria "Flor de Amor" seja um pouco como essas flores, que o seu passado seja mais terrível do que possamos imaginar, e que eu lhe vá provocar uma dor intensa, tão grande que a leve a querer fugir, a ir embora desta casa, para poder sofrer sozinha. E eu não quero que ela se vá embora porque...
Interrompeu-se e olhou, receoso, o rosto da mãe. Mas a bondosa senhora Dorotéia, passando-lhe a mão carinhosamente pelos cabelos ondulados, animou-o a continuar:
- Por que, meu filho?
- Porque sinto que estou gostando muito, muito dela, estou apaixonado, mamãe... E quero casar-me com Maria "Flor de Amor".

FIM DA PRIMEIRA PARTE

O Dr. George Brancion conseguirá curar Marta Aubert?
Como se dará o reencontro do pai com a verdadeira filha?
O milagre desse reencontro devolverá a saúde mental de Marta?
Quem é na verdade o Dr. Judas Demon?

Não deixe de ler a segunda parte de: O INFERNO DE UM ANJO!

3 comentários:

  1. Pressinto que as emoções vão aumentar na segunda parte. Ainda bem que a pobre Maria conseguiu um abrigo seguro.

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  2. Paulo gostei de ver Maria "Flor de Amor" em segurança, junto de boas pessoas. Estou ansiosa pra ver as próximas emoções. Bjs.

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    1. Talvez o destino não a ajude muito.... vamos ver o que vem por aí.

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