O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
XLIII
UM
REFÚGIO ACOLHEDOR
Maria
"Flor de Amor", salva quase miraculosamente de se afogar no rio,
depois de haver conhecido, apesar de jovem como era, a crueldade e a
perversidade dos homens, encontrara, na casa do médico que cuidara dela, um
asilo, um refúgio seguro. A mãe de George Brancion, o jovem médico,
imediatamente começara a apreciá-la e a lhe querer bem como a uma verdadeira
filha e não sabia mais o que fizesse, que cuidados lhe dedicasse, para que se
recuperasse o mais depressa possível do tremendo choque nervoso que se seguira
ao doloroso acidente . "Flor de Amor", graças à sua juventude e
robusta constituição, depois de passar quinze dias de cama, no decurso dos quais,
George vinha vê-la muito frequentemente, aproveitando as oportunidades que sua
profissão lhe permitia, havia recuperado a saúde e, embora ainda em
convalescença, parecia uma pequena fada, cheia de beleza radiosa. A mãe do
facultativo, por sugestão do próprio filho, mas também por seu gosto, havia
pedido à mocinha que permanecesse com eles. Ali nada lhe faltaria nunca e ela
poderia provar, de mil maneiras, seu reconhecimento pelo desvelo com que fora
tratada na hora amarga e quase fatal. Aquela estória de provar seu
reconhecimento, naturalmente, não passava de uma desculpa, idealizada pelo
jovem médico, para induzir "Flor de Amor" a aceitar a oferta.
E
depois de muito discutirem o assunto, a jovem, embora nada prometendo, havia
aceito a hospitalidade daquelas bondosas criaturas. Ativa e habilidosa como
era, “Flor de Amor” fazia, na casa, toda sorte de afazeres domésticos, ajudava
na arrumação e limpeza, auxiliava nos trabalhos da cozinha, na correspondência
de George, e nesses misteres revelava uma capacidade verdadeiramente fora do
comum.
George
e a bondosa senhora Dorotéia, quase não acreditavam no que os próprios olhos
viam. A mocinha movimentava-se leve como uma borboleta por toda a casa, sempre
a fazer alguma coisa de novo ou de útil. E Maria "Flor de Amor", por
sua vez, procurava retribuir como podia o afeto que ali lhe era demonstrado. Muitas
vezes, no entanto, a senhora Dorotéia, observando a moça sem que ela notasse,
achava-a pensativa, absorta em pensamentos que não deviam ser alegres, a julgar
pela expressão dolorosa que se estampava em seu lindo rostinho.
Um
dia a senhora Dorotéia, entrando inesperadamente no quarto de Maria "Flor
de Amor", encontrou a moça a chorar, com um lencinho apertado contra os
lábios para reprimir os soluços e talvez mesmo para não ser ouvida. Assustada,
a mãe de George abraçou a moça, e lhe disse, acariciando-lhe os cabelos:
-
Que tem, minha filha? Por que chora?
"Flor
de Amor", que ficara muito corada, envergonhada por ter sido surpreendida
daquela maneira, murmurou confusa:
-
Não é nada. Bobagem minha...
-
Não, minha filha. Não se chora assim sem motivo. Deve haver uma causa para
essas lágrimas.
-
É porque eu sou muito boba, e às vezes me deixo invadir pela tristeza, pelo
desânimo...
-
Maria "Flor de Amor", você não está me dizendo a verdade.
-
Perdoe-me, senhora. Não chorarei mais. Mas... Não me faça perguntas, por favor.
Compreendendo
que não obteria êxito tentando arrancar alguma coisa da moça, a senhora
Dorotéia, preocupada, desceu ao andar térreo do pequeno palacete, onde o filho
tinha seu consultório. George havia terminado, naquele justo momento, os
trabalhos do dia, e estava despindo o avental branco de trabalho, para depois
subir.Vendo chegar sua mãe, aproximou-se dela e, beijando-a ternamente em uma
das faces, disse, com alegria:
-
Alô, mãezinha! Que há de novo? O que Maria "Flor de Amor" está
fazendo?
-
É justamente sobre ela que venho falar, George...
O
rosto do jovem médico se fez imediatamente sério.
-
De Maria "Flor de Amor"? O que há com ela?
A
senhora Dorotéia ficou a olhar as próprias mãos encabulada.
-
Alguma coisa atormenta essa menina, meu filho, e ela não quer dizer do que se
trata. Há pouco, entrando inesperadamente no quarto dela, encontrei-a chorando
desesperadamente, e quando quis saber por que chorava assim, respondeu apenas
que às vezes se sentia triste. Mas eu não acredito, ninguém chora daquele jeito
sem um motivo, por estar triste simplesmente. O que você acha que seja?
-
Como posso saber, mamãe?
-
Você não suspeita de nada, não desconfia de nada, pelo modo reticente com que
ela se refere ao seu passado?
-
Sim, pensei nisso diversas vezes. Nunca contou a você nada mais do que contara
a mim, não é verdade, mamãe?
-
Talvez até menos do que a você! A única coisa que eu sei sobre ela é que não tem
mais os pais, nem parente algum...
George
vestiu o paletó, pensativo.
-
Talvez seja melhor deixá-la em paz - murmurou – não começar a atormentá-la com
perguntas constrangedoras. Pode ser que o tempo cicatrize suas feridas...
-
E se for alguma coisa grave, meu filho?
O
médico permaneceu calado, sem saber o que dizer. A senhora Dorotéia se
aproximou e enfiou-lhe a mão pelo braço, amorosamente.
-
George, você é especialista em doenças mentais, não é verdade?
-
A senhora bem o sabe, mamãe! Este consultório me serve apenas para praticar a
clínica geral.
-
Por que você não vai ver Maria "Flor de Amor", então?
-
Que pergunta! Ela não está doente! É apenas uma jovem que sofreu muito e que
precisa de paz, de tranquilidade, de afeto!
-
Não entendo isso, George. Tem uma habilidade toda especial para fazer
perguntas, para fazer "confessar" às pessoas, para interpretar o sentido
das respostas que elas lhe dão, habilidade esta que é cada dia aumentada pelo
exercício da sua profissão. Porque não põe então, em prática, agora, essa
experiência para ver se você arranca alguma coisa dessa menina sofredora?
O
médico passou um braço em torno dos ombros da mãe, sem responder. Mas a senhora
Dorotéia, virando-se para ele, para olhá-lo bem nos olhos, insistiu:
-
Por que não faz o que digo, filho?
Um
leve rubor se espalhou pelo semblante do rapaz.
-
O motivo é um só, mamãe - murmurou. - Tenho medo de saber...
-
Tem medo de saber? Mas... Por quê?
-
Sim, mamãe... Há certas flores cujo perfume precisamos aspirar sem tocar na
haste, porque elas morreriam imediatamente...
-
Não estou entendendo...
-
Receio que Maria "Flor de Amor" seja um pouco como essas flores, que
o seu passado seja mais terrível do que possamos imaginar, e que eu lhe vá
provocar uma dor intensa, tão grande que a leve a querer fugir, a ir embora
desta casa, para poder sofrer sozinha. E eu não quero que ela se vá embora porque...
Interrompeu-se
e olhou, receoso, o rosto da mãe. Mas a bondosa senhora Dorotéia, passando-lhe
a mão carinhosamente pelos cabelos ondulados, animou-o a continuar:
-
Por que, meu filho?
-
Porque sinto que estou gostando muito, muito dela, estou apaixonado, mamãe... E
quero casar-me com Maria "Flor de Amor".
FIM DA PRIMEIRA PARTE
O Dr. George Brancion conseguirá curar Marta Aubert?
Como se dará o reencontro do pai com a verdadeira
filha?
O milagre desse reencontro devolverá a saúde mental
de Marta?
Quem é na verdade o Dr. Judas Demon?
Não deixe de ler a segunda parte de: O INFERNO DE UM
ANJO!
Pressinto que as emoções vão aumentar na segunda parte. Ainda bem que a pobre Maria conseguiu um abrigo seguro.
ResponderExcluirPaulo gostei de ver Maria "Flor de Amor" em segurança, junto de boas pessoas. Estou ansiosa pra ver as próximas emoções. Bjs.
ResponderExcluirTalvez o destino não a ajude muito.... vamos ver o que vem por aí.
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