O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
XLI
O
TREMENDO EQUÍVOCO
Pouco
a pouco, passado o primeiro choque, Denise começava a compreender a situação.
Não percebia as coisas com precisão, mas imaginava que deveria ter acontecido
algum fato novo, inexplicável para ela e, graças ao qual, o marido mudara totalmente
de atitude a seu respeito.
Hábil
e inteligente como era não respondeu às perguntas de Luís Paulo, até conseguir
inventar uma desculpa. Foi então que ela disse:
-
Estive confortando uma amiga querida, que está gravemente enferma e cuja
família viajou para a França.
O
braço de Luís Paulo estreitou-a mais um pouco, carinhosamente protetor.
-
Eu sei que você tem um nobre coração.
-
Ela é uma criatura excelente, angelical e virtuosa – afirmou Denise mentindo
despudoradamente.
-
Denise, responda-me: sente-se contente por eu estar aqui, junto de você?
-
Oh! Tanto, tanto!... Você nem pode imaginar, meu bem!
-
A partir de hoje, as barreiras que nos separaram por tanto tempo, não existirão
mais e uma nova vida de paz e serenidade vai começar para nós... Se você me
perdoar...
Desta
vez a filha da marquesa Renata não pôde deixar de exclamar, admirada:
-Eu,
perdoá-lo?!
-
Sim, pelo meu péssimo comportamento para com você. Agora é que vejo quanto fui
duro com você, mas havia para isso um motivo, que já não existe mais...
Denise
permaneceu, alguns instantes, silenciosa, refletindo e perguntando a si mesma
qual poderia ser o motivo a que o marido se referia. Afinal, convencida da
radical modificação havida nele, achou tolice continuar a mostrar-se cheia de
estranheza, constrangida e admirada. Apoiando a cabeça no ombro dele, murmurou:
-
Tenho sofrido tanto, Luís Paulo, que não creio quase, agora que o ouço... Que
está assim juntinho de mim, nem no que me diz...
-
Pois eu juro que é verdade!
-
Beije-me então, querido... O calor de seus lábios fará com que eu, esqueça as
minhas mágoas.
As
bocas dos jovens esposos se uniram num longo beijo.
Quando
terminaram aquelas amorosas efusões tão ardentemente desejadas por Denise, e
vendo Luís Paulo tão amoroso, a baronesinha quis aproveitar-se dessa
circunstância para conseguir conjurar a ameaça de ser desmascarada por Afonso, o
bandido, ameaça esta que a mantinha em violenta tensão nervosa.
-
Meu querido, vou dizer-lhe porque me interesso tanto pela minha amiga Adélia,
antiga colega de estudos. Naqueles tempos, era fraternal a amizade que me unia
a essa bondosa criatura.
Soube
casualmente que estava enferma e corri a visitá-la na clínica onde está
internada. Ali vim a saber que a terrível depressão que põe em risco a sua vida
é motivada por um problema que ela não pode resolver. Adélia, que é tão boa,
para favorecer uma amiga, Ernestina Willy, foi fiadora de seu marido em um
empréstimo, dando como garantia a casa que os pais dela puseram em seu nome. "O
marido de Ernestina é um jogador incorrigível. Não pagou o empréstimo de cinco
milhões que recebera mediante a garantia de Adélia e agora esta vê com pavor que
sua casa vai ser confiscada e que quando seus pais, que agora estão na França,
regressarem, vão ser despejados dessa casa que é o único bem da família e que,
para comprá-la, o pai dela trabalhou duramente muitos anos..."Sabendo que
Adélia definha diante de tão tremendo conflito, eu não pensei duas vezes e
prometi a minha amiga que pedirei a meu pai esses cinco milhões. Ele é rico,
generoso e não terá inconveniente algum em fazer esse grande favor a uma amiga
tão querida."
Luís
Paulo, na verdade, caiu na esparrela habilmente armada com aquele relato
forjado pela fértil imaginação de Denise.
-
Meu bem, você me ofende- protestou ele. – Porque você irá incomodar seu pai
para obter esses cinco milhões, se você por si mesma pode lhe dar?
-
Acontece, querido, que eu tenho feito muitos gastos ultimamente e minha conta
no Banco está quase a zero.
-
E por que não me falou? Amanhã mesmo providenciarei. Darei a você um cheque bem
polpudo para que possa atender a essa sua amiga aflita, e o restante ficará
para os seus gastos...
O
jovem barão, depois da conversa mantida com o conde Fernando a respeito de
Maria Aubert, ficou persuadido de que "Flor de Amor" era apenas uma
impostora, que o enganara habilmente com uma mentira, passou então a depositar
toda sua confiança na moça com quem casou, resolvendo pagar com juros a dívida
de amor que pensava ter com Denise.
Simulando
um gesto de ressentimento pelos seus sofrimentos passados, Denise insistiu, com
obstinação:
-
Luís Paulo! Prefiro que seja meu pai quem me dê esse dinheiro.
-
Mas, querida, por quê? Não entendo.
-
Procedi sem aconselhar-me previamente, sem obter sua autorização...
-
Nada disso! - cortou Luís Paulo. - Neste assunto, não transijo e a proíbo
formalmente que recorra a seu pai. Compreendeu? .
Naturalmente
a maquiavélica criatura que já contava com isso, simulou obedecer, fingiu ser
dominada por ele e respondeu:
-
Bem... Se você quer assim, querido...
Depois,
vendo que o marido ficara parado; encabulado, como se quisesse dizer alguma
coisa, murmurou:
-
E agora, se não o incomoda... Quer deixar-me a sós?
Luís
Paulo se pôs de pé e fez menção de sair. Mas mudou repentinamente de ideia,
porque, em vez de atender ao que ela pedira, aproximou-se ainda mais e lhe
disse, hesitante:
-
Denise... Quero que saiba uma coisa muito importante. Ou que, pelo menos,
acredito que o seja, para você...
-
De que se trata?
-
A mulher que eu amava... Morreu...
-
Coitada! - fez Denise, hipocritamente. – Sinto imensamente!
Aproximou-se
do espelho, para ocultar do marido sua satisfação, ajeitou levemente os cabelos
que o vento da noite desarranjara. Depois perguntou, com um jeitinho de
faceirice e, ao mesmo tempo, de ciúme, ou ressentimento:
-
É talvez por isso que seu comportamento para comigo mudou tanto, não?
-
Não, não, querida! - protestou Luís Paulo, veemente. - Mudei ao saber de que
espécie era a criatura que eu amava. E também pelo arrependimento de não ter
sabido, no devido tempo, apreciar o tesouro de bondade que se agasalha em seu
coração!
O
pobre Luís Paulo estava absolutamente convencido do que dizia; e sentindo-se
culpado de ter agido em relação a ela como o pior dos esposos, tudo fazia no
sentido de se justificar, de dar explicações.
Outra
qualquer o teria interrompido, aproveitando a oportunidade para queixar-se,
lamentar-se e acusá-lo. Denise, porém, que estava a gozar sua vitória, não se
preocupou com isso e deixou que ele dissesse o que bem queria. Por fim,
perguntou apenas:
-Como
você soube que "ela" morreu? E que mais soube sobre ela?
-
Ouve, Denise. Você sabe perfeitamente que eu me casei com você para manter uma
promessa, um juramento feito ao meu pai em seu leito de morte...
A
filha da marquesa Renata levou dramaticamente a mão ao peito, sobre o coração,
àquela evocação.
-
Sim... Foi um dia terrível aquele para mim...
-Eu
sofri atrozmente, querida... Pelo mal que sabia que estava causando a você e
pelo amor que me impelia irresistivelmente para aquela que, então, eu adorava.
Tinha a impressão de vê-la sempre ao meu lado, como um fantasma, a reprovar o
meu procedimento... Não podia esquecê-la... Não sabia mais como comportar-me,
onde bater com a cabeça... Durante aquele tempo em que vivi uma existência de
sofrimento e de abatimento. Creio que, se ainda continuasse assim, terminaria
recorrendo ao suicídio, para acabar com tudo, para não pensar mais. Mas depois,
isto é, hoje mesmo, veio aqui o seu pai, e a ele devo a mudança que se operou
em meus sentimentos. Graças a ele, poderemos, agora, encarar o futuro com maior
serenidade.
-
Que disse ele? - inquiriu Denise, com os olhos brilhantes de curiosidade.
-
Algo que eu não sabia, que por muito tempo ignorei. A mulher a quem eu dera totalmente
meu coração até ontem, não passava de uma simuladora, uma farsante, mentirosa, criatura
venal que, ambicionando meu nome, meus milhões, armou capciosamente toda uma
comédia, para me iludir. Quando a encontrei pela primeira vez, durante um
passeio a cavalo, no bosque, parecia um anjo. Nunca eu poderia imaginar que a
mentira e a perfídia pudessem agasalhar-se dentro dela, se seu pai não me
tivesse fornecido a prova.
-
Uma prova? E você a obteve de meu pai?
-
A prova de que ela era uma simples mistificadora! Naquela manhã ela me dissera
que se dirigia a um sanatório próximo, onde queria procurar a mãe para
retirá-la daquele ambiente de horror, para tentar curá-la com seus cuidados e
desvelos. Tudo fiz, então, para ajudá-la, arrisquei inclusive a própria vida,
estupidamente, idiota que fui, sem suspeitar de nada, sem imaginar que ela
estava mentindo, que mentia sempre que abria a boca e, que seu único intuito
era chegar à situação em que hoje você está, Denise: de baronesa de
Rastignac... Enganou-me, iludiu-me até sobre o próprio nome, dizendo chamar-se...
Maria Aubert!
Ao
ouvir aquele nome, Denise empalideceu terrivelmente e teve que se apoiar nas
costas do divã, para não cair. Por sorte dela, Luís Paulo estava de olhos
baixos, e nada percebeu, não tomou conhecimento da violenta emoção que se
apoderara de Denise, quando ele pronunciara o nome de Maria Aubert.
A
baronesinha teve a impressão de que um verdadeiro furacão se agitava em seu
cérebro. Um turbilhão de sentimentos e de ideias confusas como jamais sentira
em sua vida!
Inopinadamente,
sem jamais esperar por tal, sem mesmo de longe ter admitido nunca semelhante
coisa, vinha a saber que a mulher amada por Luís Paulo era a mesma de quem ela
usurpara o nome e a riqueza, por instigação e por maquinação de sua mãe, e cujo
lugar, ali, como esposa e como baronesa, usurpara graças à fraude e à mentira!
A
obscura costureirinha, a quem ela mal se dignara olhar, no palácio do conde
Fernando, não era outra senão Maria Aubert, ou melhor, Maria Chanteloup, a verdadeira,
a autêntica condessinha e a única herdeira da grande fortuna do nobre.
Pensando
no perigo que havia corrido, Denise sentiu uma espécie de terror e por
instantes esteve a ponto de ser tomada por uma crise de nervos e de fugir,
correndo, através das trevas da noite, pensando com pavor na punição que teria recebido,
se a fraude tivesse sido descoberta.
Logo
depois, no entanto, um pensamento, calmo e vivificante, surgiu em seu cérebro,
repondo nele a tranquilidade e a confiança: Maria Aubert, sua rival,
morrera!Que poderia temer, então?
“Agora,
pensou a filha da marquesa Renata, com perversidade, aquela desgraçada está
morta e sepultada! Por que, então, preocupar-me com ela? Não vai sair da
sepultura, e eu não tenho medo de fantasmas..."
Tendo,
pois, readquirido todo o sangue-frio, tomou entre as suas a mão de Luís Paulo,
dizendo, com voz suave:
-
Mas, então, você havia dedicado todo o amor de seu coração a uma intrigante
que, com suas manobras, com suas mentiras, conseguira tomar conta inteiramente
de você, a ponto de me desprezar, a mim, que tanto o amo, a mim que, além de
tudo, sou sua esposa?
O
barão Luís Paulo olhou longamente para Denise nos olhos, depois baixou a
cabeça, murmurando:
-
Perdoe-me, querida...
-
Não tenho nada a perdoar. Todos se enganam, nesta vida. Agora, a morte levou
consigo aquela criatura pérfida, que neste momento deve estar expiando seus
pecados, no purgatório ou no inferno, e não mais nos devemos preocupar com ela.
-
Tem razão...
-
Agora, o mal-entendido que nos separava deixou de existir, e as grandes dores
que ambos passamos serviram, afinal, de certo modo, para reforçar os vínculos
que nos unem. Estamos ainda em tempo de aproveitar nossa vida, e recomeçar tudo
novamente!
Luís
Paulo, comovido, emocionado, estreitou a bela criatura entre os braços,
beijou-a ternamente na testa, nos olhos, na boca.
Denise,
sem sentir sequer o menor remorso pelo odioso papel que desempenhava, ocupando
o lugar de uma outra, colou-se bem a ele, como a esposa mais apaixonada deste mundo.
-
Bem vê - murmurou ao seu ouvido - como as aparências enganam, às vezes, não é?
Eu o amo sincera e apaixonadamente, e você me fugia, afastava-se sempre de mim,
sem compreender...
-
Fui um louco, um insensato! Mas você, querida, por que não falou, por que não
procurou abrir meus olhos, mostrando-me o que eu não via?
Denise
passou a mão aberta pela nuca do marido, acariciando-o levemente, para que ele
não pensasse mais naquilo, deixasse de refletir, de esmiuçar o passado, assim
podendo aceitar mais facilmente, engolir melhor suas mentiras e simulações.
-
Você não leva em conta, Luís Paulo? Eu disse que eu o amei sempre, mais que à
própria vida, e não queria aumentar ainda mais seu sofrimento, tornar mais
cruciante a sua dor. Sofri, amando-o em silêncio, sofri sempre atrozmente, desde
o dia em que nos casamos, mas não achei que devia reagir, esperando, com toda a
fé, que, um dia, você mesmo pudesse conhecer a verdade, e voltasse para mim,
meu amor, como afinal, felizmente, aconteceu...
O
fingimento e a simulação constituíam uma segunda natureza em Denise e o jovem
barão não podia deixar de ficar reduzido a uma vítima de seus enredos. Não
podia deixar de acreditar nela.
Não
amava ainda a esposa, mesmo porque era muito recente a mudança por que passara,
e sofria ainda, de certo modo, por ter perdido Maria "Flor de Amor",
com a desilusão de saber que ela o enganara, zombando dele, servindo-se dele
como de uma escada para ascender aos seus sórdidos fins, tendo por certa a
errada informação que lhe dera, de boa fé, o conde Fernando.
Naquele
momento, porém, depois de tantos dias de solidão, de tanto sofrimento, o fato
de ter a seu lado uma bela criatura, causava-lhe uma estranha sensação,
tornava-o sonhador e crescia a sua sede de amar e ser amado.
Denise
sentiu que os braços do marido a apertavam mais, que seus lábios se tornavam
mais amorosos e confiantes, trocando com ela os primeiros beijos desde seu
matrimônio.
Mas
no justo momento em que os beijos de Luís Paulo se tornavam mais apaixonados, e
seu abraço mais apertado, o relógio da igreja onde eles haviam se casado, se
fez ouvir, no profundo silêncio da noite com suas tristes badaladas, como se
dobrassem pelos defuntos.
E
foi naquele justo instante que Denise, com um recuo inesperado, libertou-se dos
braços de seu marido.
Luís
Paulo, confuso, com as faces levemente coradas, ficou imóvel, indeciso, a olhar
a bela criatura que fugia dele com um brilho de medo nos olhos.
-
Minha menina! - disse - Que tem? Ofendi-a por acaso sem o querer? Não quer que
eu a beije?
Denise,
atrapalhada, balbuciou:
-
Desculpe-me, querido... Mas hoje levei um susto tremendo quando vi uma anciã
cair na rua. É por isso que estou tão impressionável. Os velhos e as crianças
inspiram-me tanta compaixão! Sei que sou uma tola, mas não pude me dominar. Talvez
esteja precisando descansar.
-
Tem razão, minha querida - disse Luís Paulo, calmo e compreensivo. - E eu,
egoísta, só pensava no prazer de apertá-la em meus braços! Deve dormir e
procurar esquecer esse triste acontecimento de hoje. Vou-me embora, agora
mesmo, e chamarei Rosane para que ela prepare um banho morno, que acalmará seus
nervos e a fará dormir bem.
Sem
esperar que Denise respondesse, o jovem barão, cheio de cuidados, depois de ter
beijado carinhosamente o rosto de sua mulher, saiu do aposento, dizendo:
-
Boa noite, querida. Trate de dormir, descanse bem. E amanhã o sol vai
parecer-lhe mais belo e também a mim, aliás. A paz voltou a reinar entre nós!
Denise,
impulsivamente, ergueu a mão, abriu a boca, para chamá-lo, mas seu braço caiu
novamente e seus lábios se fecharam. Com um gesto nervoso levou a mão aos
olhos, a mão crispada, como se desejasse ferir a si mesma, com as unhas.
-
Maldito destino! - murmurou, soluçando. - Maldita seja eu, maldita a minha impulsividade,
o meu temperamento! Na primeira noite de casados quis atraí-lo para mim,
fazê-lo esquecer com meu amor todas as outras mulheres, para que pudesse
encontrar o esquecimento de sua paixão fracassada por Maria "Flor de
Amor" nos meus lábios, nos meus carinhos! Mas agora tudo mudou. Ele começa
a amar-me, ele agora acredita que sou pura como um lírio, no entanto, eu já pertenci
a outro homem.
Atirou-se
ao leito, de bruços, chorando, desta vez sinceramente.
-
Não pude deixar de fugir dele! - soluçou. - Tive de me dominar, de simular ser
o que não sou! Ele teria descoberto o meu segredo e teria me desprezado para o
resto da vida!Maldita seja eu, por ter uma mãe que me colocou nesta situação.
Fazendo-me fingir ser outra criatura, simulando ser quem não sou!
E
até o romper da aurora Denise ficou a chorar, sofrendo terrivelmente no seu
desespero de amor.
Quando,
na manhã seguinte, Rosane entrou no quarto da baronesinha de Rastignac,
encontrou Denise ainda vestida, estendida sobre o leito, fitando o teto com
olhar parado.
As
marcas da noite em claro que passara eram visíveis em seu rosto pálido e
abatido.
A
camareira, quando Luís Paulo saíra do quarto da esposa, e a tinha acordado,
correra a preparar um banho morno como lhe fora ordenado, mas não tivera
coragem de ir dizê-lo a Denise, pois ao se aproximar do quarto ouvira a patroa a
se agitar e a se lamentar entre soluços e ficara receosa de enfrentar numa
situação daquelas suas cóleras, que já conhecia bastante.
Também
naquela manhã a filha da marquesa Renata não estava de bom humor, porque, assim
que viu a camareira, foi logo dizendo, com voz irritada:
-Que
quer aqui? Vá embora! Quando tiver necessidade de você, eu a chamarei!
Rosane,
porém, sem se mostrar chocada, estendeu à Denise uma bandeja de prata, na qual
havia um bilhete:
-
Chegou agora mesmo, senhora baronesa.
Denise
pegou o bilhete e disse, abrindo-o, impaciente:
-
Que está esperando? Já lhe disse que não preciso de você!
Rosane,
embora ardesse de desejo de conhecer o texto do bilhete, não pôde deixar de obedecer
e saiu depois de fazer uma leve curvatura.
O
suntuoso quarto de dormir estava imerso na penumbra, porque as janelas estavam
fechadas e as cortinas corridas.
Por
isso, Denise, preguiçosa demais para descer do leito, acendeu a vela de uma
pequena lâmpada da mesinha de cabeceira e leu a mensagem:
Uma
exclamação lhe brotou, então, dos lábios, ao mesmo tempo em que o pedaço de
papel amarelo lhe escapava da mão, tal foi a sua surpresa.
Naquele
pedaço de papel estava escrito isto:
"Comunico,
caso lhe interesse, que Afonso Houdin foi preso, ontem à noite. Ubaldo Duroi,
detetive particular."
Paulo, que pessoa falsa essa Denise, e Luís Paulo, assim como Fernando tão ingênuo! Estou curiosa pra saber qual a real intenção de Ubaldo!
ResponderExcluirQual será o interesse de Ubaldo? Será que vai chantagear Denise? Vamos ver...
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