O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
XL
O
MAIS INESPERADO DOS ENCONTROS
Silenciosamente,
introduziu a pequena chave na fechadura do portão principal e começou a fazê-la
girar. O leve ruído que fazia, parecia ressoar por todo o palácio, tão grande
era o silêncio que ali reinava. Nas pontas dos pés, atravessou o vestíbulo
imerso na escuridão e subiu a escada até a porta que sabia ser a do seu quarto
de dormir.
Abriu-a,
entrou tateando na escuridão e, finalmente, arriscou acender a luz. O luxuoso
ambiente familiar restituiu-lhe um pouco de segurança e tranquilidade. A
primeira coisa que fez foi dirigir-se ao seu camarim. Apenas Denise entrou no
pequeno aposento, viu a sua camareira Rosane sentada numa poltrona, que, com a
cabeça reclinada sobre o peito, dormia profundamente. Pela primeira vez, desde
que a moça entrara para seu serviço, Denise reparou o quanto ela era atraente e
observou que no decote do traje escuro, aparecia a brancura de um papel, a ponta
do que parecia um cartão. Repentinamente curiosa, apesar da preocupação que
trazia na mente, Denise pensou: "Que coisa estranha... Nós, mulheres,
escondemos sempre nesse lugar o que não desejamos que vá parar nas mãos de alguém,
porque para nós representa perigo. Que terá Rosane a esconder?" Impulsiva
como era, a filha da marquesa Renata não perdeu tempo em maiores indagações.
Procurando
não fazer barulho aproximou-se da outra e, segurando delicadamente com as pontinhas
dos dedos o cartão, lenta e suavemente, foi tratando de retirá-lo do
esconderijo onde estava. Uma vez conseguido isso, lançou-lhe uma olhadela. Suas
sobrancelhas se uniram preocupadamente. Tratava-se, com efeito, de um simples
cartãozinho, do tipo dos cartões de visita, no qual havia impresso: "Bingo
Night Club - MIKE WILLER"
Denise
ficou refletindo durante alguns segundos. Nada mais havia escrito no pedacinho
de cartolina, mas aquele pouco era suficiente para despertar suas suspeitas,
que lhe assaltavam, por outro lado, no seu estado de tensão nervosa. O
"Bingo" era o lugar de onde viera, onde estivera até a bem pouco...
Como podia Rosane conhecê-lo, ela, uma simples camareira, dado que o local era apenas
freqüentado por pessoas que, honestas ou não, podiam dispor de muito dinheiro para
pagar as pesadas contas que aos clientes eram sempre apresentadas?Ademais, porque
estava Rosane de posse daquele cartão, mostrando que se tratava de coisa de seu
interesse? Naquele instante, a camareira fez um movimento, soltando um suspiro
como se fosse acordar. Denise, receando ser descoberta naquela situação com
rapidez e delicadeza recolocou o cartão onde o havia encontrado e abriu a porta
divisória, que separava aquela peça do seu quarto de dormir. "Preciso
ficar alerta", pensava consigo. "Essa Rosane tem qualquer coisa de
misterioso, que não me agrada... "Apenas Denise entrou no seu quarto
encaminhou-se para o candelabro, acendendo as velas, iluminando o aposento. Imediatamente
levou a mão à boca para conter um grito de susto e de medo ao mesmo tempo.
-
Luís Paulo!...
O
rapaz, que até aquele momento permanecera sentado no escuro, ergueu-se e foi ao
seu encontro.
-
Boa noite, Denise - disse apenas.
A
jovem, sem se poder conter, deu um passo atrás.
Que
podia querer dela Luís Paulo, àquela hora? Por que a tinha esperado durante
tanto tempo no quarto às escuras?
-
Boa noite. - balbuciou. - Onde esteve você?
"É
isto, pensou Denise, com um arrepio. "Deve ter descoberto tudo! Talvez
tenha me mandado seguir... Até lá. Como me defenderei agora? Que lhe direi?
Maldito o momento em que meu pai me mandou sair e eu obedeci!"
O
jovem barão, vendo que a esposa não respondia, deu uma olhada no relógio que
estava sobre a lareira.
-
É bastante tarde - murmurou, - Houve com você algum acidente, por acaso?
Pela
segunda vez, àquela noite, Denise se sentia perdida. Sua fisionomia estava alterada.
Seu rosto que, até pouco antes ficara vermelho, após ser esbofeteada por Afonso
agora, estava pálido de assustar. Resignada, incapaz de lutar contra o
inevitável, virou-se, sem responder. Demonstrava desejo de fugir, de pôr entre
si e Luís Paulo a maior distância possível, para não ser constrangida a ouvir
as palavras terríveis que ele certamente iria lhe dizer. Tendo voltado as
costas ao marido, ia seguir adiante, quando Luís Paulo disse com um tom de voz
que ela ainda não conhecia:
-
Está muito zangada comigo, não é? Tem razão... Tenho agido muito mal... Sem
compreender, ela ergueu os olhos para ele, pensando que se tratasse de uma
ironia, que ele estivesse querendo torturá-la com palavras antes de passar aos
fatos.
Mas
no semblante do barão Luís Paulo não havia sinal desses sentimentos, em
absoluto. Devia falar sinceramente.
-
Eu não estou zangada - murmurou Denise, mais encabulada e confusa que nunca. -
Por que me pergunta?
-
Porque tem toda razão para estar! - respondeu o marido, com ênfase. - E essa
palidez toda, deve ser porque está doente. Está branca de impressionar.
Sente-se, não fique de pé. Deve estar cansada.
Assim
falando, com gesto gentil, passou o braço em torno da cintura da moça e conduziu-a
ao divã, fazendo-a sentar-se ao seu lado. Ao contato do corpo dele, Denise
sentiu um frêmito percorrê-la. Parecia estar sonhando, estar vivendo um dos
tantos sonhos que tivera antes, durante as longas noites em que, sozinha no seu
leito, tanto desejara que ele a viesse procurar. Desta vez, porém, por um
motivo qualquer que não conseguia de modo algum descobrir, Luís Paulo, além de
ter vindo, tinha-a esperado pacientemente durante longas horas! Levou a mão à
testa, temendo enlouquecer. Oh! Não! Não podia ser verdade! Luís Paulo deveria
certamente ter gritado toda a sua indignação, deveria ter-lhe batido, expulsado
daquela casa como uma criatura indigna... Nada disso, porém, acontecera! O
jovem barão, passando-lhe delicadamente a mão pelos cabelos, perguntou
suavemente:
-
E agora, não quer me dizer onde esteve? Pensei tanto nisso! Não quis dormir,
receando que alguma coisa houvesse acontecido, alguma coisa horrível,
irreparável... Nem mesmo Rosane quis ir dormir. Acho que ela ainda está por aí,
acordada...
-
Eu a vi. Adormeceu, à minha espera, numa poltrona - Denise respondeu.
Denise e suas aventuras, quando será desmascarada? Aguardando esse momento. A história está muito boa!
ResponderExcluirPaulo que raiva, Denise se dando bem! Mas espero que não seja por muito tempo pois muita gente está disposta a prejudicá-la. Vou aguardar pra ver...Bjs
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