sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 40 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


Capítulo XL

O MAIS INESPERADO DOS ENCONTROS

Silenciosamente, introduziu a pequena chave na fechadura do portão principal e começou a fazê-la girar. O leve ruído que fazia, parecia ressoar por todo o palácio, tão grande era o silêncio que ali reinava. Nas pontas dos pés, atravessou o vestíbulo imerso na escuridão e subiu a escada até a porta que sabia ser a do seu quarto de dormir.
Abriu-a, entrou tateando na escuridão e, finalmente, arriscou acender a luz. O luxuoso ambiente familiar restituiu-lhe um pouco de segurança e tranquilidade. A primeira coisa que fez foi dirigir-se ao seu camarim. Apenas Denise entrou no pequeno aposento, viu a sua camareira Rosane sentada numa poltrona, que, com a cabeça reclinada sobre o peito, dormia profundamente. Pela primeira vez, desde que a moça entrara para seu serviço, Denise reparou o quanto ela era atraente e observou que no decote do traje escuro, aparecia a brancura de um papel, a ponta do que parecia um cartão. Repentinamente curiosa, apesar da preocupação que trazia na mente, Denise pensou: "Que coisa estranha... Nós, mulheres, escondemos sempre nesse lugar o que não desejamos que vá parar nas mãos de alguém, porque para nós representa perigo. Que terá Rosane a esconder?" Impulsiva como era, a filha da marquesa Renata não perdeu tempo em maiores indagações.
Procurando não fazer barulho aproximou-se da outra e, segurando delicadamente com as pontinhas dos dedos o cartão, lenta e suavemente, foi tratando de retirá-lo do esconderijo onde estava. Uma vez conseguido isso, lançou-lhe uma olhadela. Suas sobrancelhas se uniram preocupadamente. Tratava-se, com efeito, de um simples cartãozinho, do tipo dos cartões de visita, no qual havia impresso: "Bingo Night Club - MIKE WILLER"
Denise ficou refletindo durante alguns segundos. Nada mais havia escrito no pedacinho de cartolina, mas aquele pouco era suficiente para despertar suas suspeitas, que lhe assaltavam, por outro lado, no seu estado de tensão nervosa. O "Bingo" era o lugar de onde viera, onde estivera até a bem pouco... Como podia Rosane conhecê-lo, ela, uma simples camareira, dado que o local era apenas freqüentado por pessoas que, honestas ou não, podiam dispor de muito dinheiro para pagar as pesadas contas que aos clientes eram sempre apresentadas?Ademais, porque estava Rosane de posse daquele cartão, mostrando que se tratava de coisa de seu interesse? Naquele instante, a camareira fez um movimento, soltando um suspiro como se fosse acordar. Denise, receando ser descoberta naquela situação com rapidez e delicadeza recolocou o cartão onde o havia encontrado e abriu a porta divisória, que separava aquela peça do seu quarto de dormir. "Preciso ficar alerta", pensava consigo. "Essa Rosane tem qualquer coisa de misterioso, que não me agrada... "Apenas Denise entrou no seu quarto encaminhou-se para o candelabro, acendendo as velas, iluminando o aposento. Imediatamente levou a mão à boca para conter um grito de susto e de medo ao mesmo tempo.
- Luís Paulo!...
O rapaz, que até aquele momento permanecera sentado no escuro, ergueu-se e foi ao seu encontro.
- Boa noite, Denise - disse apenas.
A jovem, sem se poder conter, deu um passo atrás.
Que podia querer dela Luís Paulo, àquela hora? Por que a tinha esperado durante tanto tempo no quarto às escuras?
- Boa noite. - balbuciou. - Onde esteve você?
"É isto, pensou Denise, com um arrepio. "Deve ter descoberto tudo! Talvez tenha me mandado seguir... Até lá. Como me defenderei agora? Que lhe direi? Maldito o momento em que meu pai me mandou sair e eu obedeci!"
O jovem barão, vendo que a esposa não respondia, deu uma olhada no relógio que estava sobre a lareira.
- É bastante tarde - murmurou, - Houve com você algum acidente, por acaso?
Pela segunda vez, àquela noite, Denise se sentia perdida. Sua fisionomia estava alterada. Seu rosto que, até pouco antes ficara vermelho, após ser esbofeteada por Afonso agora, estava pálido de assustar. Resignada, incapaz de lutar contra o inevitável, virou-se, sem responder. Demonstrava desejo de fugir, de pôr entre si e Luís Paulo a maior distância possível, para não ser constrangida a ouvir as palavras terríveis que ele certamente iria lhe dizer. Tendo voltado as costas ao marido, ia seguir adiante, quando Luís Paulo disse com um tom de voz que ela ainda não conhecia:
- Está muito zangada comigo, não é? Tem razão... Tenho agido muito mal... Sem compreender, ela ergueu os olhos para ele, pensando que se tratasse de uma ironia, que ele estivesse querendo torturá-la com palavras antes de passar aos fatos.
Mas no semblante do barão Luís Paulo não havia sinal desses sentimentos, em absoluto. Devia falar sinceramente.
- Eu não estou zangada - murmurou Denise, mais encabulada e confusa que nunca. - Por que me pergunta?
- Porque tem toda razão para estar! - respondeu o marido, com ênfase. - E essa palidez toda, deve ser porque está doente. Está branca de impressionar. Sente-se, não fique de pé. Deve estar cansada.
Assim falando, com gesto gentil, passou o braço em torno da cintura da moça e conduziu-a ao divã, fazendo-a sentar-se ao seu lado. Ao contato do corpo dele, Denise sentiu um frêmito percorrê-la. Parecia estar sonhando, estar vivendo um dos tantos sonhos que tivera antes, durante as longas noites em que, sozinha no seu leito, tanto desejara que ele a viesse procurar. Desta vez, porém, por um motivo qualquer que não conseguia de modo algum descobrir, Luís Paulo, além de ter vindo, tinha-a esperado pacientemente durante longas horas! Levou a mão à testa, temendo enlouquecer. Oh! Não! Não podia ser verdade! Luís Paulo deveria certamente ter gritado toda a sua indignação, deveria ter-lhe batido, expulsado daquela casa como uma criatura indigna... Nada disso, porém, acontecera! O jovem barão, passando-lhe delicadamente a mão pelos cabelos, perguntou suavemente:
- E agora, não quer me dizer onde esteve? Pensei tanto nisso! Não quis dormir, receando que alguma coisa houvesse acontecido, alguma coisa horrível, irreparável... Nem mesmo Rosane quis ir dormir. Acho que ela ainda está por aí, acordada...
- Eu a vi. Adormeceu, à minha espera, numa poltrona - Denise respondeu. 

2 comentários:

  1. Denise e suas aventuras, quando será desmascarada? Aguardando esse momento. A história está muito boa!

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  2. Paulo que raiva, Denise se dando bem! Mas espero que não seja por muito tempo pois muita gente está disposta a prejudicá-la. Vou aguardar pra ver...Bjs

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