O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
2ª
Parte - Capítulo I
A
TRAMA DO DESTINO
Sentados
na sala de refeições, Maria "Flor de Amor", a senhora Dorotéia e
George não haviam ainda acabado de cear, conversando calmamente, quando se
ouviu o ruído de uma carruagem, à porta de entrada. George logo fez menção de
levantar-se, sendo imitado pela mãe, porém Maria "Flor de Amor",
antecipando-se a ambos, levantou-se mais rápida da sua cadeira, dizendo:
-
Deixem. Eu vou ver quem é.
Com
seu passinho elegante desceu ao jardim e foi até o portão, onde um mensageiro
do correio, estendeu-lhe um envelope:
-
Assine o recibo, por favor.
Maria
"Flor de Amor" obedeceu e, de posse da carta, voltou para a sala de
jantar, onde, porém, encontrou apenas a senhora Dorotéia, a quem perguntou:
-
Onde está seu filho? Uma carta para ele.
-
Carta, de quem? - fez a bondosa senhora, curiosa. - Leia o nome do remetente,
por favor, desde esta manhã não acho os meus óculos, não sei onde os meti... E
sem eles nada enxergo.
Maria
"Flor de Amor", atendendo ao seu pedido, procurou ler o nome do
remetente:
-
É o diretor da Clínica Neuropsiquiátrica Salus.
A
senhora Dorotéia comentou:
-
Ah! Esse médico está sempre escrevendo ao meu filho. É uma carta atrás da outra...
Naquele
momento, George retornava à sala.
-
Quem era? - perguntou sem grande interesse.
-
Uma carta para você - disse Maria "Flor de Amor", entregando-lhe o
envelope.
Ele,
porém, não a tomou da mão dela e, apanhando uma maçã, perguntou, sorrindo:
-
Minha secretária não poderá lê-la, enquanto eu saboreio esta fruta? Afinal,
quem é que vai se encarregar de escrever a resposta?
Maria
"Flor de Amor", satisfeita por ver que seus préstimos eram
apreciados, mesmo em coisas pequeninas, rasgou o envelope e, tirando uma folha
de dentro, começou a ler:
CLÍNICA
NEUROPSIQUIÁTRICA SALUS
Gabinete
do Diretor
Meu
caro George:
Recebi,
há bem poucos minutos, a visita de um bom amigo que tem a infelicidade de estar
com a esposa sofrendo de uma forma grave de perturbação mental. Tendo perdido completamente
a memória, está incapacitada de modo absoluto a compreender as coisas mais
corriqueiras e nada consegue despertar seu interesse, nem atrair sua atenção.
Aconselhei
esse amigo a trazê-la para interná-la na nossa Clínica, onde poderia ser submetida
aos necessários cuidados, mas ele respondeu que prefere hospedar em sua casa um
dos nossos melhores psiquiatras que, permanecendo exclusivamente em contato com
ela, poderá talvez analisar melhor e mais detalhadamente a forma de demência
que a afeta, e talvez de diagnosticar o tratamento mais adequado para tentar
sua cura.
Nessas
condições, meu caro George, reconhecendo que o amigo, apesar de jovem, é um
grande estudioso da nossa especialidade, muito prometendo para o futuro, pensei
que talvez lhe agradasse encarregar-se desse caso, que, além de tudo, lhe
proporcionará não desprezível pagamento, pois o amigo em questão é pessoa de
muitas posses e muito liberal.
Trata-se
do conde Fernando Chanteloup...
Maria
"Flor de Amor", chegando a este ponto, parou, empalidecendo
terrivelmente. Aquele nome evocou em sua memória, num golpe, todo o sofrimento
por que tinha passado e, incapaz de se dominar, de vencer a grande emoção,
levou a mão à fronte, deixando cair a carta sobre a mesa. George, assustado,
correu para ela, perguntando, ansiosamente:
-
Que tem, Maria "Flor de Amor"? Sente-se mal?
-
Não foi nada... Apenas uma tontura... Já passou...
-
Que coisa estranha! Sente-se e fique quietinha... Vou lhe dar um calmante.
-
Não, não adianta.
George,
estranhando, olhou-a fixamente:
-
Por que não adianta? Como é que você sabe? Vem-lhe uma tontura assim, sem mais
nem menos, enquanto está lendo...
-
Repito que não foi nada... Desculpe-me se vou para meu quarto. Vou descansar um
pouco. Tenho certeza de que logo passa.
-
Como queira, Maria "Flor de Amor"...
Logo
que a moça deixou a sala, George se voltou preocupado para a mãe.
-
Começo a pensar que a senhora tem razão, mamãe, sobre o que me falou há
pouco... Isso que se passou agora não tem explicação... Ou melhor... A única explicação
está relacionada com a leitura do nome do conde Fernando Chanteloup.
O
jovem médico permaneceu uns instantes pensativo e continuou:
-
Sendo assim, penso que farei bem aceitando o oferecimento do diretor da
Clínica, tão lisonjeiro para mim. Desse modo, me instalarei no palacete do
conde Fernando, sondarei o ambiente, procurarei saber o que haverá ali
relacionado com Maria "Flor de Amor" e tentarei curar a infortunada
doente... A senhora cuidará de Maria "Flor de Amor", por mim, não é, mamãe?
A
boa senhora Dorotéia sorriu maliciosamente.
-
Claro que cuidarei, não tenha dúvida! E até, se quiser, poderei conversar com
ela sobre certa proposição matrimonial que meu medroso filho não tem coragem de
manifestar! Creio que a cura do casamento seja a melhor para os males de que
sofre a nossa Maria "Flor de Amor". Muito melhor, mesmo, que os seus
comprimidos!
George,
encabulado, nada achou de melhor, para fazer, naquela situação, do que abraçar
a mãe, procurando esconder dela a emoção que o invadira.
-
Como descobriu que não tenho coragem de lhe falar? - perguntou.
A
velha senhora ergueu a cabeça para ele, pois o filho era mais alto do que ela, e
lhe deu um pequeno beliscão no queixo.
-
Meu filho, você é um psiquiatra, mas eu sou mulher e sua mãe!
Paulo, que legal esse capítulo! Será que George vai descobrir toda a história de Maria "Flor de Amor" ou acreditará na versão em que Fernando acredita? Gostei muito! Bjs.
ResponderExcluirMuito bom esse reinício. Vamos ver que reviravoltas ainda virão...
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