sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 11 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA





O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’unAnge


Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL

Capítulo XI

AMOR DE SERPENTE

Luís Paulo estava preso na camisa de força havia mais de quatorze horas, sentia a cabeça em chamas e doía-lhe todo o corpo, vendo-se obrigado a permanecer sempre na mesma posição.
Mas o sofrimento físico que experimentava era nada em comparação com as torturas morais. Porque ele sabia que Maria ''Flor de Amor" estava sem nenhuma ajuda, nem esperança de salvação, nas mãos do terrível doutor Démon e, não só isto, mas também, nas mãos daquela espiã que o enganara de modo tão vulgar e vil.
Odiava o doutor Démon, porém, mais ainda, aquela infame mulher que, fazendo-se de vítima, quis convertê-lo no assassino de sua própria amada.
A aurora havia despontado há pouco, quando o rapaz foi arrancado da penosa meditação pelo ruído dos cadeados e a porta se abria.
O doutor Judas Démon entrou na cela, com o ar mais natural do mundo e, aproximando-se de Luís Paulo disse, com um sorriso escarninho:
- Mocinho, os seus sofrimentos me comovem, e então resolvi conceder-lhe repouso e libertação.
Luís Paulo lhe lançou um olhar desdenhoso.
- Compreendo perfeitamente o que quer dizer, estar pretendendo eliminar-me! Mas não pense que lhe darei a satisfação de começar a chorar e a gritar. Enfrentarei a morte com serenidade, certo de que o senhor pagará muito caro e quanto antes pelos seus crimes! Espero apenas que eu lhe baste e que a pobre e inocente Maria "Flor de Amor", consiga a liberdade.
As nobres palavras do rapaz não impressionaram nem um pouco o médico dos loucos, que disse, com leve sorriso nos lábios finos e cruéis:
- Não sou tão mau como julga. Apenas...
Naquele momento, a voz estridente da marquesa Renata que há pouco aparecera na porta o interrompeu:
- Doutor Démon, não terá a intenção de matá-lo, espero!
O médico fixou a marquesa através dos grossos óculos escuros.
- Minha querida, acho que não o matarei, mas tenho a impressão de que você não percebe que  este rapaz pode pôr-nos a perder! Ele sabe demais!
Renata quis replicar, mas depois se conteve, talvez para evitar fazê-lo na frente de Luís Paulo e convidou o médico a sair com ela.
Quando chegaram ao gabinete do doutor Démon, sentou-se e perguntou com ironia:
- Como é, bela marquesa? Imaginou por acaso algum método rápido e científico para nos livrar daquele intrometido? Ouçamos! Aprecio sempre a boa vontade, onde quer que a encontre.
Sem notar o tom de zombaria, Renata respondeu:
- Não imaginei método nenhum. O que penso é que não devemos fazer nada, absolutamente, contra ele!
- Nada?! - repetiu Démon, maravilhado. - Se não a conhecesse bem, diria que está enamorada do rapaz!
- E se fosse? Atualmente, não sou livre para fazer o que me apraz? Pois olhe, eu me afeiçoei a ele, sim... E não permito que lhe façam mal! Deixe-o por minha conta, entendeu?
O doutor se agitou na poltrona, incerto.
- Quer dizer que... Quer que eu o entregue à senhora?
- Isto mesmo!
- Mas Renata - disse Démon rindo - você parece não compreender que ele a odeia mortalmente! Não o ouviu falar, há pouco?
- Não se preocupe. Farei com que ele mude de opinião.
- E eu que ganharei, depois de todo o trabalho que tive?
Uma luz de maldade passou pelos olhos da marquesa Renata Duplessis.
- Ora, Judas, não se faça de ingênuo! Pensa que não notei que essa pequena dengosa, a tal... Maria, lhe agradou muito?
- Não nego que ela me atraia... - riu sarcástico o doutor diabólico - mas tenho bem poucas esperanças de obter sucesso, já que ela está enamorada de outro. Já não sou jovem e as coisas obtidas pela força não me agradam mais.
- Pois olhe, tem muitíssimas esperanças! Bastará agirmos com um pouco de astúcia. Bastará fazermos com que um pense que o outro o trai. Compreende agora?
- Ah, ah, ah! - riu Démon. - A ideia não é má!
- Está vendo? E agora, vamos libertar o meu cavalheiro, depois pensaremos na sua dama. Por falar nisto, será oportuno dar-lhe alguns dos seus "remédios", doutor, até mesmo para que ela não perceba a mudança de quarto... Assim o engano parecerá mais natural, não acha?
Pálido como um cadáver, Luís Paulo dormia num macio leito, não mais na sórdida cela, mas num dos melhores quartos da clínica.
Seu sonho era produto de um sonífero dissolvido no chá, que Viviana fez o rapaz ingerir.
Quando Luís Paulo começou a voltar a si da letargia em que fora mergulhado, ficou maravilhado por não sentir mais em volta de seus membros a pressão cruel da camisa de força, Volveu em torno os olhos doloridos e o assombro aumentou quando viu a seu lado uma freira, como rosto quase completamente escondido pelo capuz branco.
Mal Luís Paulo se mexeu, a freira se levantou da cadeira onde estivera sentada até aquele momento murmurando uma prece, e aproximando-sedo leito perguntou:
- Como está? Sente-se melhor, hoje?
Ele passou a mão pelos olhos, para estar seguro de que não sonhava.
- Sim, bastante -murmurou. - Só que... Sinto-me fraco, muito fraco.
-Há de melhorar, verá.
- Irmã... Posso saber onde estou? Não é possível que isto seja um dos quartos daquela horrível clínica. Sinto O cérebro um pouco transtornado, mas, se não me engano, eu estava numa situação bastante crítica. Quem me salvou? Responda, por favor!
A freira lhe passou, com gentileza, um pano úmido na testa.
- Não se exalte, por favor, - aconselhou, - não compreendo a que mudança o senhor se refere... Mas o médico me ordenou que lhe falasse o menos possível, para que não lhe voltasse a febre. O senhor está num hospital para onde foi trazido por umas pessoas que o encontraram estendido no chão, sem sentidos, à beira do grande bosque, fora da cidade.
- Mas então... Maria "Flor de Amor"... À clínica dos horrores... O doutor Démon... - balbuciou o rapaz. - Foi tudo alucinação? Não... Não pode ser... Foi real demais! Irmã, estou mesmo num hospital? Tem certeza disto?
- Que perguntas! Naturalmente! Este é o hospital de Saint-Gilbert e o senhor teve uma violenta febre! Quanta coisa horrível disse durante o delírio!
- Eu... O que foi que eu disse?
- Não entendi bem, mas falou em loucos, em manicômio... E também numa tal Maria, que estava em perigo e que o senhor queria salvar... Gritava, contorcia-se! Pensávamos que fosse morrer!
Luís Paulo cerrou os olhos por um instante, como para coordenar as ideias, que se sobrepunham em seu cérebro.
- Mas então... Foi tudo um sonho?! E "Flor de Amor"... A angelical Maria, não passou de uma criação de minha fantasia?
- O delírio prega peças de mau gosto... - concordou a freira. - Mas agora repouse e não fale. Tome, engula estas pílulas e depois faça o possível para dormir. Sou a sua enfermeira e ficarei a seu lado.
- Como se chama, irmã?
- Catarina...
- Agradeço-lhe os cuidados que teve comigo... Realmente, eu não poderia desejar enfermeira melhor. Engraçado... Ainda não consigo conformar-me de que tenha sido tudo um sonho. Mas estou com tanto sono...
Não teve tempo de terminar a frase, abandonou a cabeça no travesseiro e adormeceu outra vez, profundamente. Os medicamentos do doutor Démon não deixavam nunca de produzir efeito!
Enquanto isto, a freira, logo que teve certeza de que o rapaz dormia, tirou o capuz que lhe cobria quase por completo o rosto e o cintilar de seus grandes olhos verdes revelou que ela era realmente a marquesa Renata!

2 comentários:

  1. Paulo que dupla terrível esse Dr. Démon e a marquesa Renata! Pobres jovens, tão ingênuos Luís Paulo e Flor de Amor, como vão sofrer nesse inferno! Que drama!

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  2. Mais maldades de Renata e Démon. Quanto maior a maldade, maior o castigo nos folhetins. Vamos ver no final o que será feito desses dois. Paulo, excelente trabalho!

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