O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’unAnge
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
-
Mas não posso! - proferiu o barão Ernesto, que antepunha sua honra sobre tudo.
- Luís Paulo não me pertence mais, agora, mas sim à justiça! Não se pode ocupar
de outrem quando ele próprio, apesar de tudo o que disse, deverá responder à
acusação de uma tentativa de morte e, eventualmente,receber o castigo!
Ao
ouvir aquelas terríveis palavras, Luís Paulo cobriu o rosto com as mãos,
arrasado. O conde Fernando, perplexo, malgrado seu, ante a sincera dor do rapaz,
voltou-se para o barão e disse:
-
Não o atormente mais, por hoje. Compreendo o quanto deve estar chocado com o
que aconteceu, mas não deve esquecer que Luís Paulo é seu filho. Espero que
aceite ser meu hóspede por esta noite e acredito que estamos todos necessitando
de repouso. Amanhã falaremos com calma e de cabeça fria sobre o acontecido, e
estou certo de que tudo se esclarecerá.
Quando
o conde Fernando, curvado sob o peso de sua preocupação, saiu da biblioteca, o
barão disse ao filho:
-
E agora, que estamos a sós, explique-me uma coisa: Você mesmo quis que eu o
fizesse internar na clínica do doutor Démon, para que descobrisse o que
acontecera a uma certa moça. Posso saber como se chama ela?
-
Não há nenhuma dificuldade, chama-se Maria... Seu sobrenome, eu não sei.
-
Quem são seus pais? De onde é ela?
-
Sei apenas que veio a Nova Orleans para obter notícias da mãe que, embora não
fosse louca, parece que estava internada no manicômio desse médico maldito!
-
Estórias! - cortou o velho - você já me quis impingir isso, mas basta! A
clínica do doutor Démon não é um cárcere, mas um lugar onde se tratam doentes
mentais! Estou certo de que a moça por cuja causa você fez tantas tolices não
passa de uma sirigaita mentirosa que, por qualquer motivo o fez agir como você
agiu, absurdamente!
-
Papai, está enganado! Se o senhor tivesse conhecido Maria, não falaria assim! É
doce e gentil, e eu tive compaixão do seu sofrimento e do seu triste passado!
Nervosamente,
com as mãos nas costas, o barão permaneceu silencioso por alguns instantes, medindo
à largas passadas, o salão. Finalmente, detendo-se, disse:
-
De qualquer maneira, estou decidido a procurar agora mesmo o doutor Démon para
esclarecer isso tudo e verificar se você disse a verdade. Enquanto isso, ordeno
a você que não saia daqui e espere o meu regresso, antes de tomar qualquer
decisão. Advirto-o, porém, de que, no momento em que verificar quão é falso o
que você me contou, não terei escrúpulo nenhum em cumprir o meu dever!
-
Pode fazê-lo, papai, faça como deseja! De nenhum outro modo, o senhor poderá se
convencer, com maior exatidão, da minha inocência!
Embora
já fosse noite alta, o desejo do barão de esclarecera situação era tal que,
servindo-se de sua carruagem, não hesitou em se dirigir ao manicômio do doutor
Démon.
Enquanto
o veículo atrelado por bons cavalos corria veloz dentro da noite, Luís Paulo,
na biblioteca do palácio condal, aguardava o retorno do pai, não totalmente
tranquilo.
Tinha
visto quanto o doutor Démon era hábil em simular, e temia que o malvado
indivíduo inventasse outro qualquer expediente diabólico para falsear a verdade
e desviar as pesquisas que pudessem conduzir à descoberta de algo que o
comprometesse.
O
tempo de espera pareceu uma eternidade ao rapaz. Apesar de tudo, porém, ele
tinha fé no triunfo da verdade que, estava certo, haveria de vir à tona.
Olhando
distraidamente os tições ardentes que se consumiam pouco a pouco na lareira do
salão, pensava:
"Se
meu pai conseguir esclarecer a situação, estarei finalmente livre e minha
adorada Maria estará salva!”
Mais
uma hora decorreu lentamente e, depois, ouviu o ruído de uma carruagem que
percorria a alameda central do jardim.Não podendo dominar a impaciência, Luís
Paulo abriu aportada biblioteca e atravessando rapidamente o vestíbulo, mal teve
tempo de ver o pai que, no escuro e com a cabeça baixa,descia do veículo.
-Papai!
- gritou.
Mas
o barão Ernesto lhe cortou a palavra com um gesto imperioso:
-
Cale-se,miserável! Agora estou mais convicto de que foi você quem apunhalou a
pobre Flora Sardon! Você sabe mentir muito bem, e eu consegui verificá-lo!
Tanto o doutor Démon, que de resto é uma excelente pessoa, como seus
auxiliares, asseguraram-me que você fugiu do manicômio há alguns dias,
conforme, aliás, já me haviam dito!
-
São uns farsantes! - reprovou Luís Paulo, não podendo dominar a ira que o
invadia. - Mentem! Todos eles mentem! Diga-me, então: deixaram que visse a
moça? Que disse Maria a você?
Como
única resposta, o velho fidalgo pôs diante do filho um papel:
-
Tome, leia e verifique qual é a vontade daquela que você quer proteger, e que
disse amar!
O
jovem passou um rápido olhar pelo texto, que, mediante um engodo, o doutor
Démon obrigara Maria a escrever,e sua fronte se cobriu de frio suor.
-
Não é possível que ela tenha escrito isto! Este documento é falso! É parte de
uma diabólica maquinação, cujo objetivo não posso entender!
-
Mas eu entendo muito bem! - retrucou o barão. - Apesar da hora inoportuna da
visita, o doutor Démon mandou chamar a
moça e ela, diante de mim, confirmou o que havia escrito!
-
Não compreendo! - Balbuciou Luís Paulo - não entendo mais nada...
Suas
últimas palavras foram abafadas pelo ruído de outro veículo que chegava. O
barão foi à janela e disse, com um tom de voz um pouco mais doce e paternal:
-
Desculpe-me, Luís Paulo, tive que chamar a polícia! Embora Fernando não o creia
culpado pelo crime de que Flora foi vítima, todas as provas são contra você. Se
há qualquer coisa que quis esconder-me, deverá dizê-la agora, diante dos
representantes da lei. Eu cumpri com o meu dever.
Dois
minutos depois, Pedro, o mordomo, surgia à porta da biblioteca, dizendo, com
voz pouco firme:
-
Com licença, senhor barão... Um inspetor da polícia, acompanhado de dois
esbirros, procuram seu filho...
-
Está bem. Mande-os entrar.
O
mordomo se afastou para dar entrada a um homem alto de feições severas, seguido
de dois outros, uniformizados.
-
Luís Paulo de Rastignac - disse o recém-chegado, sem sequer cumprimentar - em
nome da lei, declaro-o detido,sob acusação de tentativa de homicídio contra a senhorita
Flora Sardon!
-
Mas eu não atentei contra ela! - replicou Luís Paulo, lançando um olhar
angustiado em direção ao pai. - Posso fornecera prova da minha inocência!
-
Se é assim, terá ocasião de demonstrá-lo perante o juiz de instrução - cortou o
inspetor. - Por ora, acompanhe-me!
Resignado,
de cabeça baixa, Luís Paulo se dirigiu para a porta.
Não
havia, porém, ainda transposto o umbral, quando o velho barão se aproximou e,
cercando-o com os braços, atraiu-o contra o peito, soluçando:
-
Filho, meu filho! Rogo a Deus que você não seja realmenteculpado... Mas, seja
como for, dê-me um abraço antes de ir!
Incapaz
de reagir ante aquelas palavras, com os olhos cheios de lágrimas, Luís Paulo se
deixou estreitar pelos braços paternos, enquanto, respeitando a dor dos dois
homens, os agentes da lei esperavam. Por muito tempo, depois da partida do
pobre moço, o barão Ernesto permaneceu imóvel, de pé, enquanto na biblioteca reinava
um silêncio profundo, tétrico, angustioso...
Pobre Luía Paulo, que situação! O Doutor Démon é terrível, consegue enganar todo mundo, e falta muito pra ser desmascarado pelo jeito! Mas, acho preferível Luís Paulo ir para o presídio, do que voltar para a clínica desse monstro, eu temia isso, espero que não aconteça. Flor de Amor está sozinha, mas pelo menos no momento acho que não corre risco de enlouquecer, como aconteceu com a mãe. Paulo, está emocionante!
ResponderExcluirOlá Maria, só pra te tranquilizar, a sua chará fugirá do manocômio, você nem imagina em que horripilante situação... e outra situação dramática se abaterá sobre ela. Anime as meninas ai do chat à leitura de "O Inferno de Um Anjo".
ExcluirUm grande abraço.