sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 15 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA


O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’unAnge


Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL

Capítulo XV

FATAL EQUÍVOCO

- Oh, caro Ernesto! - exclamou o conde Fernando, indo ao encontro do amigo, com a mão cordialmente estendida. - Parece-me um sonho! Os anos o tornaram um pouco urso, não é verdade? Sente-se e aceite um cálice de conhaque!
- Agradeço a gentileza. Você deveria mandar-me para o inferno, por vir perturbá-lo, a esta hora...
-Não diga isto! Conte-me o motivo que o trouxe aqui!
-Estou muito preocupado com meu filho...
- Luís Paulo? Por falar nele, como vai? Não o vejo há um bocado de tempo...
- Creio que vai bem, mas... Até ontem estava na clínica do doutor Démon.
Ao ouvir aquele nome, que para ele se achava ligado a recordações tremendamente tristes, Fernando empalideceu e sorveu de um trago o conhaque, para recobrar-se.
- Ernesto, que estória é esta? Seu filho não sofre de nada, então, que foi fazer num manicômio?
O barão fez um gesto vago.
- Deve imaginaras extravagâncias habituais de Luís Paulo. Convenceu-se de que naquela clínica estavam acontecendo coisas muito estranhas e quis a todo custo que eu o deixasse internar-se, lá, para investigar!
- E você não se opôs?...
- Que quer? Luís Paulo já atingiu a, maioridade e, depois, é tão teimoso que, quando mete uma coisa na cabeça, não há meio de tirá-la mais!
Fernando sentou-se ao lado do amigo oferecendo-lhe um havana, sabia que o barão Ernesto sempre havia tido verdadeira idolatria pelo filho único e que sempre o contentara em tudo e por tudo. Mas aquela estória do manicômio do doutor Démon não lhe inspirava confiança, que podia ter ido Luís Paulo fazer lá?...
Quando ele ali estivera da primeira vez, encontrara Marta por demais abatida e aquele fato o abalara profundamente, deixando-lhe, contra sua vontade, e apesar de não ter nenhum motivo para queixar-se, uma ingrata recordação daquela clínica.
- Era só por este motivo que me queria falar? - indagou. - Talvez por saber que Marta, a mãe de minha filha, que tornei a encontrar, também esteve internada lá?
- Não, Fernando, a coisa é bem diferente. Hoje estive na clínica para ver se Luís Paulo já não estaria cansado de permanecer lá, se não se decidia a voltar para casa...
O velho barão se interrompeu, levando a mão à testa, como se lhe fosse penoso demais prosseguir.
- E... Daí?... - insistiu Fernando.
- Responderam-me que Luís Paulo havia fugido! Fugido, entende? É uma coisa incompreensível! Como pode ele ter pensado em fugir, se lhe bastaria dizer uma palavra para ser posto em liberdade? Agora, não sei o que devo pensar! Fernando, que impressão lhe causou o tal... Doutor Démon?
- Por que esta pergunta?
- Um pai preocupado pensa em tudo. Não desejo que Luís Paulo tenha de fato descoberto alguma irregularidade naquela clínica e que esse médico lhe tenha feito algo com o objetivo de impedi-lo de apresentar denúncia!
- Está forçando demais a imaginação, Ernesto! - exclamou Fernando, sacudindo a cabeça com energia. - Conversei longamente com o doutor Démon, quando ele me contou a dolorosa estória de Marta. Posso garantir-lhe que é uma pessoa honesta e digna do maior respeito!
Ernesto de Rastignac suspirou, aliviado. Não podia imaginar o pobre pai que mesmo um homem de tanta experiência como o conde Fernando tivesse sido ludibriado pela diabólica astúcia do maldito Démon!
- Se esta é a sua opinião - disse - sinto-me um pouco mais tranquilo, muito embora não consiga ainda imaginar onde possa ter-se metido Luís Paulo...
- Ele há de voltar à sua casa - tentou confortá-lo Fernando. - Acho que...
O fidalgo se interrompeu e, com uma estranha expressão no rosto, aproximou-se de uma das amplas janelas, escondidas por pesadas cortinas, que davam para o parque.
- Esquisito... - murmurou. - Tive a impressão de ouvir um grito de dor!
- Eu não ouvi nada!...
- Preste atenção: ouvi novamente alguma coisa, Parece um gemido.
- Não diga! - exclamou o barão, pondo-se de pé. - Que poderá ser?
Fernando, alarmado, aproximou-se da campainha e a fez soar várias vezes, nervosamente. Dois minutos depois o mordomo, afobado, apareceu à porta.
Estava com uma expressão atordoada de sono, porque provavelmente devia ter dormido numa das cadeiras do saguão, à espera de que o visitante saísse...
- O senhor conde chamou? - perguntou.
- Puxa, e como! Depressa, Pedro, pegue uma lanterna e venha comigo ao jardim, está acontecendo algo. Nós ouvimos um grito, uns gemidos... Voz de mulher!
- Mas, não é possível... Como não ouvi nada?
- Claro, você estava dormindo! Ande, vá correndo pegar a lanterna!
O conde Fernando de Chanteloup, com o coração oprimido por doloroso pressentimento, acompanhado pelo barão, atravessou rapidamente o vestíbulo. Eles precederam o criado.
Depois ficaram imóveis, aguçando os ouvidos, tentando perceber qualquer outro rumor.
Pedro, na sua pressa de encontrar a lanterna, havia acordado o resto da criadagem, e na grande fachada do palácio as luzes se acendiam, iluminando até certa distância, a alameda que conduzia ao castelo.
Fernando e Ernesto, não ouvindo mais nada, seguiram pela alameda, sendo logo alcançados pelo mordomo com a lanterna. A faixa de luz perfurava as trevas em todas as direções, formando estranhos jogos de sombras entre os copados arbustos.
De repente, o pai de Luís Paulo, que seguia pela direita, gritou, voltando-se para o mordomo:
- Ponha a luz naquela direção!
O mordomo se apressou a obedecer e o raio luminoso foi projetado sobre um dos canteiros, ao pé de uma árvore secular.
Entre as flores, que na crua claridade pareciam sem vida, os três homens viram então aparecer aponta de um vestido de mulher!
Fernando, que imediatamente havia corrido, foi o primeiro a chegar ao local, abaixou-se e soltou uma exclamação angustiada.
Diante dele, com a blusa branca ensanguentada, caída de costas, jazia a bela e gentil criatura que uma hora antes ele havia beijado e estreitado nos braços!
O palácio condal estava em alvoroço, todo o pessoal que vivia na suntuosa mansão encontrava-se no jardim, formando um círculo em torno do lugar onde se dera o trágico acontecimento.
O conde Fernando, muito pálido, com os lábios contraídos num esgar doloroso, inclinara-se sobre o corpo inanimado e apalpava o pulso da jovem, com as mãos trêmulas.
- Parece que o coração ainda está batendo!... - exclamou. - Não está morta!...
- Ernesto, olhe!... - exclamou o conde Fernando, com dolorosa surpresa. - Ela foi apunhalada!... Flora, Flora! Hei de pegar o patife que lhe fez isto, Flora! Ele há de pagar caro! - balbuciou o fidalgo.
O barão Ernesto, colocando a mão no ombro do amigo, disse:
- Fernando, compreendo o que está sentindo, mas temos de chamar imediatamente um médico! Quem sabe ainda podemos salvá-la?
- Tem razão. Quase perdi a cabeça! Tenho de providenciar depressa!
O conde Fernando se pôs de pé e ordenou a Pedro, que observava assustado a horripilante cena:
- Vá chamar o meu médico, Pedro! Que venha correndo! Diga-lhe que é questão de vida ou morte!
Abrindo passagem entre os empregados, Afonso apareceu naquele momento, o vil assassino, ocultando sua raiva por não ter conseguido matar a pobre Flora, exclamou:
- Conde, eu posso ir procurar um médico em vez do mordomo. Eu irei à procura do médico com a carruagem.
- Então, vá, Afonso! E vá voando!...
Enquanto o rapaz ia correndo para a coudelaria, também Denise, pálida e assustada, aproximou-se de onde estava caída Flora. A perversa, que vira de longe Afonso agredir a infortunada moça, tinha ido correndo trancar-se em seu quarto, apavorada.
Mas depois, percebendo a grande confusão, os gritos de apelo dos criados, compreendera que o corpo da mulher esfaqueada havia sido encontrado e, fazendo-se de forte, também descera ao jardim para não despertar suspeitas com sua ausência. Por sorte sua, a agitação de todos era tal, que ninguém reparou nela nem no fato de estar ainda completamente vestida, apesar de ter ido deitar-se pelo menos duas horas antes. Atirando-se nos braços do conde Fernando, não tendo muita dificuldade em simular um espanto que em parte realmente experimentava, disse, com voz excitada:
- Que desgraça horrível, papai! Mande que a levem para dentro, vamos tentar fazer alguma coisa, enquanto esperamos o doutor!
- Tem razão, filhinha - respondeu Fernando, recobrando-se do seu torpor - mas agora saia daqui... Isto não é lugar para você. Corra para o seu quarto e fique lá, por favor.
Fernando já se abaixara para carregar a ferida, com o auxílio do barão, quando Flora abriu devagarinho os olhos e emitiu um débil gemido:
- Fernando... - murmurou, olhando para ele.
- Flora, minha alma, quem lhe fez isto?! Quem foi?
- Foi... Luís Paulo...
- Luís Paulo?!... - repetiu o barão Ernesto, com voz estrangulada. - Que Luís Paulo? Por favor, faça um pequeno esforço, para responder!
- Luís Paulo... Rastignac...
- Mas não é possível!...  - replicou o velho, estupefato. - A moça delira! Não pode ter sido meu filho! Luís Paulo jamais cometeria um crime tão vil!
Também Fernando, incrédulo, aproximou mais seu rosto do dela, perguntando:
- Querida... Tem certeza do que disse?
- Sim... Foi ele...
- Senhorita, por favor! - suplicou o velho barão, preso de enorme aflição. - Reflita! Meu filho não é um assassino! Ele não tinha motivo algum para fazer essa loucura!
Mas Flora havia desmaiado novamente, extenuada pela dor e pela perda de sangue.
Enquanto, com toda a delicadeza possível, ela era transportada para o palácio, a fim de repousar no leito à espera do médico, Fernando ordenou aos criados:
- Seja quem for o criminoso, é provável que ainda esteja pelas redondezas! Vasculhem o jardim, metro por metro! Bloqueiem todas as saídas e inspecionem todo o palácio e os arredores também!...
Os empregados, como um só homem, moveram-se para obedecer às ordens do patrão. Flora era muito querida por sua bondade, e cada um deles desejava capturar o vil delinquente para que pagasse pela sua má ação. Num instante, no grande jardim imerso na obscuridade, apareceram as luzes de archotes e lanternas, cuja claridade era projetada em todas as direções, levadas aos cantos mais recônditos, em busca do assassino.
- Aqui está ele!... Aqui está ele! - alguém gritou.
Imediatamente, todos acorreram naquela direção. Também o conde e o barão precipitaram-se para o ponto de onde tinham vindo os gritos.
À crua luz das lanternas, avistaram então um homem que se debatia como um alucinado, cercado por todos os lados, sacudido, arrastado na direção do conde Fernando.
- Larguem-me! Que querem de mim?... - gritava o rapaz. - Tirem as mãos de cima de mim!... Não sou um bandido, idiotas! Sou Luís Paulo, o filho do barão de Rastignac!...
A essas palavras, o velho, branco como cera, havia parado de repente, incapaz de dar mais um passo, paralisado pelo assombro.
Fernando, por sua vez, segurou o rapaz com ambas as mãos pela gola do paletó e lhe gritou junto do rosto:
- Luís Paulo!... Mas então Flora disse a verdade! Foi você que a apunhalou, que quis matar uma pobre moça indefesa! Por que fez isto?!
- Eu não fiz mal a ninguém! - defendeu-se o rapaz. - Estão cometendo um erro tremendo! Nem sei de quem estão falando!... Vim aqui para procurar meu pai!...
- Ernesto! - exclamou Fernando, enquanto os que tinham acudido davam passagem ao barão. - Fale você com ele... Force-o a explicar o que houve, eu não tenho mais forças. Não entendo mais nada!
- Papai! - gritou Luís Paulo, avistando o barão. - Diga-lhes que me soltem! Eu não fiz nada!  Mande que esta gente tire as mãos de cima de mim!...
Mas o barão de Rastignac, apesar das lágrimas de compaixão que lhe rolavam pelo rosto, vendo o filho dileto tratado como um malfeitor, em vez de mandar soltá-lo, lançou-lhe um olhar cheio de desprezo e de horror, depois, recuando um passo, gritou:
- Não espere piedade de mim, covarde, que ousou atacar uma mulher! Eu não sou mais seu pai! E você, em vez de sujar mais ainda o nosso nome, continuando a mentir, confesse seu crime e enfrente com coragem a punição que o espera!...

4 comentários:

  1. Paulo, é incrível como os maus sempre se dão bem! E a sorte os ajuda, Luís Paulo acabou ajudando o assassino e talvez volte a ser internado como louco na clínica do Dr. Démon, o que muito o agradará! Espero ansiosa a virada, o começo da vitória do bem rsrsrs. Que folhetim emocionante! Bjs.

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    1. Bom dia Maria, segura o coração. Denise ainda vai aprontar uma pécima com "Flor de Amor" e Luís Paulo.
      OBS. Se interessar a alguém o folhetim completo, em dois volumes (dois Dcs.)Estarei repassando via internet por R$ 30,00 (trabalho de digitalização com as gravuras e tudo. Contato: sena682@hotmail.com

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  2. Nossa, quando espero melhoras, pioras... Mas é coisa de folhetim. kkkkkkkkkkk Muito bom, estou gostando, mas estou querendo ver a virada dos mocinhos, até agora só deu vilões, estão ganhando de goleada.

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    1. A virada vai demorar muito, apenas passamos da metade do 1º volume.
      Se não descaracerisar a linha do Blog, fica autorizado publicar o e-mail contido na resposta à Maria.

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