O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’unAnge
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo XV
FATAL EQUÍVOCO
-
Oh, caro Ernesto! - exclamou o conde Fernando, indo ao encontro do amigo, com a
mão cordialmente estendida. - Parece-me um sonho! Os anos o tornaram um pouco
urso, não é verdade? Sente-se e aceite um cálice de conhaque!
-
Agradeço a gentileza. Você deveria mandar-me para o inferno, por vir
perturbá-lo, a esta hora...
-Não
diga isto! Conte-me o motivo que o trouxe aqui!
-Estou
muito preocupado com meu filho...
-
Luís Paulo? Por falar nele, como vai? Não o vejo há um bocado de tempo...
-
Creio que vai bem, mas... Até ontem estava na clínica do doutor Démon.
Ao
ouvir aquele nome, que para ele se achava ligado a recordações tremendamente
tristes, Fernando empalideceu e sorveu de um trago o conhaque, para
recobrar-se.
-
Ernesto, que estória é esta? Seu filho não sofre de nada, então, que foi fazer
num manicômio?
O
barão fez um gesto vago.
-
Deve imaginaras extravagâncias habituais de Luís Paulo. Convenceu-se de que
naquela clínica estavam acontecendo coisas muito estranhas e quis a todo custo
que eu o deixasse internar-se, lá, para investigar!
-
E você não se opôs?...
-
Que quer? Luís Paulo já atingiu a, maioridade e, depois, é tão teimoso que,
quando mete uma coisa na cabeça, não há meio de tirá-la mais!
Fernando
sentou-se ao lado do amigo oferecendo-lhe um havana, sabia que o barão Ernesto
sempre havia tido verdadeira idolatria pelo filho único e que sempre o
contentara em tudo e por tudo. Mas aquela estória do manicômio do doutor Démon
não lhe inspirava confiança, que podia ter ido Luís Paulo fazer lá?...
Quando
ele ali estivera da primeira vez, encontrara Marta por demais abatida e aquele
fato o abalara profundamente, deixando-lhe, contra sua vontade, e apesar de não
ter nenhum motivo para queixar-se, uma ingrata recordação daquela clínica.
-
Era só por este motivo que me queria falar? - indagou. - Talvez por saber que
Marta, a mãe de minha filha, que tornei a encontrar, também esteve internada
lá?
-
Não, Fernando, a coisa é bem diferente. Hoje estive na clínica para ver se Luís
Paulo já não estaria cansado de permanecer lá, se não se decidia a voltar para
casa...
O
velho barão se interrompeu, levando a mão à testa, como se lhe fosse penoso
demais prosseguir.
-
E... Daí?... - insistiu Fernando.
-
Responderam-me que Luís Paulo havia fugido! Fugido, entende? É uma coisa
incompreensível! Como pode ele ter pensado em fugir, se lhe bastaria dizer uma
palavra para ser posto em liberdade? Agora, não sei o que devo pensar!
Fernando, que impressão lhe causou o tal... Doutor Démon?
-
Por que esta pergunta?
-
Um pai preocupado pensa em tudo. Não desejo que Luís Paulo tenha de fato
descoberto alguma irregularidade naquela clínica e que esse médico lhe tenha
feito algo com o objetivo de impedi-lo de apresentar denúncia!
-
Está forçando demais a imaginação, Ernesto! - exclamou Fernando, sacudindo a
cabeça com energia. - Conversei longamente com o doutor Démon, quando ele me
contou a dolorosa estória de Marta. Posso garantir-lhe que é uma pessoa honesta
e digna do maior respeito!
Ernesto
de Rastignac suspirou, aliviado. Não podia imaginar o pobre pai que mesmo um
homem de tanta experiência como o conde Fernando tivesse sido ludibriado pela
diabólica astúcia do maldito Démon!
-
Se esta é a sua opinião - disse - sinto-me um pouco mais tranquilo, muito
embora não consiga ainda imaginar onde possa ter-se metido Luís Paulo...
-
Ele há de voltar à sua casa - tentou confortá-lo Fernando. - Acho que...
O
fidalgo se interrompeu e, com uma estranha expressão no rosto, aproximou-se de
uma das amplas janelas, escondidas por pesadas cortinas, que davam para o
parque.
-
Esquisito... - murmurou. - Tive a impressão de ouvir um grito de dor!
-
Eu não ouvi nada!...
-
Preste atenção: ouvi novamente alguma coisa, Parece um gemido.
-
Não diga! - exclamou o barão, pondo-se de pé. - Que poderá ser?
Fernando,
alarmado, aproximou-se da campainha e a fez soar várias vezes, nervosamente.
Dois minutos depois o mordomo, afobado, apareceu à porta.
Estava
com uma expressão atordoada de sono, porque provavelmente devia ter dormido
numa das cadeiras do saguão, à espera de que o visitante saísse...
-
O senhor conde chamou? - perguntou.
-
Puxa, e como! Depressa, Pedro, pegue uma lanterna e venha comigo ao jardim,
está acontecendo algo. Nós ouvimos um grito, uns gemidos... Voz de mulher!
-
Mas, não é possível... Como não ouvi nada?
-
Claro, você estava dormindo! Ande, vá correndo pegar a lanterna!
O
conde Fernando de Chanteloup, com o coração oprimido por doloroso
pressentimento, acompanhado pelo barão, atravessou rapidamente o vestíbulo.
Eles precederam o criado.
Depois
ficaram imóveis, aguçando os ouvidos, tentando perceber qualquer outro rumor.
Pedro,
na sua pressa de encontrar a lanterna, havia acordado o resto da criadagem, e
na grande fachada do palácio as luzes se acendiam, iluminando até certa
distância, a alameda que conduzia ao castelo.
Fernando
e Ernesto, não ouvindo mais nada, seguiram pela alameda, sendo logo alcançados
pelo mordomo com a lanterna. A faixa de luz perfurava as trevas em todas as
direções, formando estranhos jogos de sombras entre os copados arbustos.
De
repente, o pai de Luís Paulo, que seguia pela direita, gritou, voltando-se para
o mordomo:
-
Ponha a luz naquela direção!
O
mordomo se apressou a obedecer e o raio luminoso foi projetado sobre um dos
canteiros, ao pé de uma árvore secular.
Entre
as flores, que na crua claridade pareciam sem vida, os três homens viram então
aparecer aponta de um vestido de mulher!
Fernando,
que imediatamente havia corrido, foi o primeiro a chegar ao local, abaixou-se e
soltou uma exclamação angustiada.
Diante
dele, com a blusa branca ensanguentada, caída de costas, jazia a bela e gentil
criatura que uma hora antes ele havia beijado e estreitado nos braços!
O
palácio condal estava em alvoroço, todo o pessoal que vivia na suntuosa mansão
encontrava-se no jardim, formando um círculo em torno do lugar onde se dera o
trágico acontecimento.
O
conde Fernando, muito pálido, com os lábios contraídos num esgar doloroso,
inclinara-se sobre o corpo inanimado e apalpava o pulso da jovem, com as mãos
trêmulas.
-
Parece que o coração ainda está batendo!... - exclamou. - Não está morta!...
-
Ernesto, olhe!... - exclamou o conde Fernando, com dolorosa surpresa. - Ela foi
apunhalada!... Flora, Flora! Hei de pegar o patife que lhe fez isto, Flora! Ele
há de pagar caro! - balbuciou o fidalgo.
O
barão Ernesto, colocando a mão no ombro do amigo, disse:
-
Fernando, compreendo o que está sentindo, mas temos de chamar imediatamente um
médico! Quem sabe ainda podemos salvá-la?
-
Tem razão. Quase perdi a cabeça! Tenho de providenciar depressa!
O
conde Fernando se pôs de pé e ordenou a Pedro, que observava assustado a
horripilante cena:
-
Vá chamar o meu médico, Pedro! Que venha correndo! Diga-lhe que é questão de
vida ou morte!
Abrindo
passagem entre os empregados, Afonso apareceu naquele momento, o vil assassino,
ocultando sua raiva por não ter conseguido matar a pobre Flora, exclamou:
-
Conde, eu posso ir procurar um médico em vez do mordomo. Eu irei à procura do
médico com a carruagem.
-
Então, vá, Afonso! E vá voando!...
Enquanto
o rapaz ia correndo para a coudelaria, também Denise, pálida e assustada,
aproximou-se de onde estava caída Flora. A perversa, que vira de longe Afonso
agredir a infortunada moça, tinha ido correndo trancar-se em seu quarto,
apavorada.
Mas
depois, percebendo a grande confusão, os gritos de apelo dos criados,
compreendera que o corpo da mulher esfaqueada havia sido encontrado e,
fazendo-se de forte, também descera ao jardim para não despertar suspeitas com
sua ausência. Por sorte sua, a agitação de todos era tal, que ninguém reparou
nela nem no fato de estar ainda completamente vestida, apesar de ter ido
deitar-se pelo menos duas horas antes. Atirando-se nos braços do conde
Fernando, não tendo muita dificuldade em simular um espanto que em parte
realmente experimentava, disse, com voz excitada:
-
Que desgraça horrível, papai! Mande que a levem para dentro, vamos tentar fazer
alguma coisa, enquanto esperamos o doutor!
-
Tem razão, filhinha - respondeu Fernando, recobrando-se do seu torpor - mas
agora saia daqui... Isto não é lugar para você. Corra para o seu quarto e fique
lá, por favor.
Fernando
já se abaixara para carregar a ferida, com o auxílio do barão, quando Flora
abriu devagarinho os olhos e emitiu um débil gemido:
-
Fernando... - murmurou, olhando para ele.
-
Flora, minha alma, quem lhe fez isto?! Quem foi?
-
Foi... Luís Paulo...
-
Luís Paulo?!... - repetiu o barão Ernesto, com voz estrangulada. - Que Luís
Paulo? Por favor, faça um pequeno esforço, para responder!
-
Luís Paulo... Rastignac...
-
Mas não é possível!... - replicou o
velho, estupefato. - A moça delira! Não pode ter sido meu filho! Luís Paulo
jamais cometeria um crime tão vil!
Também
Fernando, incrédulo, aproximou mais seu rosto do dela, perguntando:
-
Querida... Tem certeza do que disse?
-
Sim... Foi ele...
-
Senhorita, por favor! - suplicou o velho barão, preso de enorme aflição. -
Reflita! Meu filho não é um assassino! Ele não tinha motivo algum para fazer
essa loucura!
Mas
Flora havia desmaiado novamente, extenuada pela dor e pela perda de sangue.
Enquanto,
com toda a delicadeza possível, ela era transportada para o palácio, a fim de
repousar no leito à espera do médico, Fernando ordenou aos criados:
-
Seja quem for o criminoso, é provável que ainda esteja pelas redondezas!
Vasculhem o jardim, metro por metro! Bloqueiem todas as saídas e inspecionem
todo o palácio e os arredores também!...
Os
empregados, como um só homem, moveram-se para obedecer às ordens do patrão.
Flora era muito querida por sua bondade, e cada um deles desejava capturar o
vil delinquente para que pagasse pela sua má ação. Num instante, no grande
jardim imerso na obscuridade, apareceram as luzes de archotes e lanternas, cuja
claridade era projetada em todas as direções, levadas aos cantos mais
recônditos, em busca do assassino.
-
Aqui está ele!... Aqui está ele! - alguém gritou.
Imediatamente,
todos acorreram naquela direção. Também o conde e o barão precipitaram-se para
o ponto de onde tinham vindo os gritos.
À
crua luz das lanternas, avistaram então um homem que se debatia como um
alucinado, cercado por todos os lados, sacudido, arrastado na direção do conde
Fernando.
-
Larguem-me! Que querem de mim?... - gritava o rapaz. - Tirem as mãos de cima de
mim!... Não sou um bandido, idiotas! Sou Luís Paulo, o filho do barão de
Rastignac!...
A
essas palavras, o velho, branco como cera, havia parado de repente, incapaz de
dar mais um passo, paralisado pelo assombro.
Fernando,
por sua vez, segurou o rapaz com ambas as mãos pela gola do paletó e lhe gritou
junto do rosto:
-
Luís Paulo!... Mas então Flora disse a verdade! Foi você que a apunhalou, que
quis matar uma pobre moça indefesa! Por que fez isto?!
-
Eu não fiz mal a ninguém! - defendeu-se o rapaz. - Estão cometendo um erro
tremendo! Nem sei de quem estão falando!... Vim aqui para procurar meu pai!...
-
Ernesto! - exclamou Fernando, enquanto os que tinham acudido davam passagem ao
barão. - Fale você com ele... Force-o a explicar o que houve, eu não tenho mais
forças. Não entendo mais nada!
-
Papai! - gritou Luís Paulo, avistando o barão. - Diga-lhes que me soltem! Eu
não fiz nada! Mande que esta gente tire
as mãos de cima de mim!...
Mas
o barão de Rastignac, apesar das lágrimas de compaixão que lhe rolavam pelo
rosto, vendo o filho dileto tratado como um malfeitor, em vez de mandar
soltá-lo, lançou-lhe um olhar cheio de desprezo e de horror, depois, recuando
um passo, gritou:
-
Não espere piedade de mim, covarde, que ousou atacar uma mulher! Eu não sou
mais seu pai! E você, em vez de sujar mais ainda o nosso nome, continuando a
mentir, confesse seu crime e enfrente com coragem a punição que o espera!...
Paulo, é incrível como os maus sempre se dão bem! E a sorte os ajuda, Luís Paulo acabou ajudando o assassino e talvez volte a ser internado como louco na clínica do Dr. Démon, o que muito o agradará! Espero ansiosa a virada, o começo da vitória do bem rsrsrs. Que folhetim emocionante! Bjs.
ResponderExcluirBom dia Maria, segura o coração. Denise ainda vai aprontar uma pécima com "Flor de Amor" e Luís Paulo.
ExcluirOBS. Se interessar a alguém o folhetim completo, em dois volumes (dois Dcs.)Estarei repassando via internet por R$ 30,00 (trabalho de digitalização com as gravuras e tudo. Contato: sena682@hotmail.com
Nossa, quando espero melhoras, pioras... Mas é coisa de folhetim. kkkkkkkkkkk Muito bom, estou gostando, mas estou querendo ver a virada dos mocinhos, até agora só deu vilões, estão ganhando de goleada.
ResponderExcluirA virada vai demorar muito, apenas passamos da metade do 1º volume.
ExcluirSe não descaracerisar a linha do Blog, fica autorizado publicar o e-mail contido na resposta à Maria.