O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’unAnge
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
XVII
UM
PAI QUE QUER SER JUSTO
-
Papai, precisa ouvir-me! Sou inocente!... Gritava Luís Paulo ao barão Ernesto,
enquanto dois criados, segurando-o pelos braços, embora sem brutalidade,
arrastavam-no para a porta do palácio.
-
Este não é o momento para falar. - respondeu o velho, com voz severa. - Mais
tarde, se pudermos ficar um instante a sós, você me dará a necessária
explicação... Embora, francamente, eu pense que nada mais há a dizer entre nós!
-
Está bem, papai. Mas eu afirmo ao senhor que minha consciência está tranquila.
O
conde Fernando, enquanto isso, chamara Pedro, o mordomo.
-
Afonso ainda não chegou?
-
Não, senhor. Pegou a carruagem e partiu a toda velocidade... Mas ainda não
voltou.
-
Que diabo! Onde se meteu?
Mal
acabara de falar e o rapaz, surgiu no vestíbulo.
-
Trouxe o doutor? - avançou Fernando, ansiosamente. - Rápido! A senhorita Flora
pode morrer de um momento para outro!
-
Sinto - respondeu Afonso - Mas aconteceu uma desgraça...
Fernando
limpou o suor frio que lhe banhava a fronte. Sua mão, branca e aristocrática,
tremia visivelmente.
-
Mas isso é uma maldição! Que aconteceu, agora? Por que não trouxe o doutor?...
-
A carruagem ia a toda velocidade, quando de repente quebrou uma roda - contou,
procurando mostrar-se muito impressionado. - Tive que voltar para apanhar outra
roda que substitua a que está quebrada.
Naturalmente,
o miserável mentia. Tinha simulado o acidente, para se atrasar em avisar o
médico, na esperança de que, naquele meio tempo, sua vítima morresse.
Fernando,
que absolutamente não conhecia a falsidade e a crueldade daquele homem, teve a
impressão de que o mundo ia desabar.
-
Mas precisamos do médico! Apanhe outra roda, depressa! Corra!
Enquanto
o malandro se retirava, o conde Fernando e o velho pai de Luís Paulo retornaram
às pressas para junto do leito onde estava Flora.
A
moça permanecia imóvel, com os olhos fechados, e suas mãos estavam quase tão
brancas quanto o lençol sobre o qual repousavam.
Ansiosamente,
Fernando lhe tomou novamente o pulso.
-
Por enquanto ainda vive... - murmurou ao barão, que ficara de pé. - Agora,
estamos entregues às mãos de Deus.
Muito
lentamente, a porta se abriu e apareceu o mordomo.
-
Senhor conde...
-
Que deseja?
-
O filho do... Isto é, o homem que agrediu a senhorita Flora está fechado na
biblioteca... Que devemos fazer? Chamamos a polícia?
Fernando
lançou um olhar ao barão, que cerrou os punhos, mas não pronunciou palavra.
-
Vá ter com ele, Ernesto... Eu... Não sei mais o que pensar. Assim que o médico
chegar, chamo você.
-
Fá-lo-ei apenas porque assim você o quer, Fernando, apenas por isso - respondeu
o fidalgo. - Se meu filho é culpado, e tudo faz crer que sim, deverá pagar por
isso, como qualquer outro delinquente.
Depois
de quase uma hora de expectativa angustiosa e enervante, o médico afinal
chegou, acompanhado por Afonso que, desta vez, para não despertar suspeita,
tivera que cumprir mesmo o encargo de buscá-lo.
Precipitando-se
ao encontro do facultativo, que era seu amigo, Fernando disse, apertando-lhe a
mão:
-
Desculpe se o incomodei, meu caro doutor Fabrício, mas aconteceu uma coisa
terrível... A senhorita Flora foi apunhalada, no jardim! Peço-lhe que a salve!
Faça tudo o que puder!
-
Vamos vê-la, depressa...
-
Venha... Venha. Levemo-la para um aposento aqui do andar térreo.
-
A arma ainda está na ferida - explicou o conde. - Não tivemos coragem de
retirá-la, com receio de que sobreviesse uma hemorragia.
-
Fizeram bem.
Quando
chegaram ao aposento onde estava a ferida, o facultativo ordenou:
-
Tragam-me um candeeiro com muitas velas. Preciso de luz, muita luz! E depois
saiam todos. Trabalharei sozinho.
Dominando
o desejo de permanecer ao lado da mulher que, por sua beleza e bondade, tinha
começado a amar, o conde Fernando saiu para o corredor e começou a caminhar de
um lado para outro, nervoso.
Depois
de longos minutos, que pareceram uma eternidade, o doutor Fabrício saiu do
aposento, tendo ainda na mão o estetoscópio.
-
E então, doutor? - interrogou ansiosamente Fernando. - Que é que me diz? Ela
viverá?
-
Espero que sim. Felizmente, a perda de sangue não foi excessiva, e depois de
ter retirado a arma da ferida, pude inserir nela um tampão de gaze, que evitará
que venha sangrar nas próximas horas. Naturalmente, seria melhor levá-la para
um hospital, mas, pelo menos por enquanto, isso não poderá ser feito.
-
O ferimento é... Muito grave?
-
Não é gravíssimo, mas se demorassem mais um pouco a me chamar, poderia ser
fatal. A lâmina da faca esbarrou contra uma costela, penetrando lateralmente, à
esquerda do coração. Este órgão vital não foi atingido, mas infelizmente não
posso dizer o mesmo do pulmão esquerdo. Assim sendo, por enquanto, temos que
esperar. Se me permite, pernoitarei no palácio, para velá-la.
-
Obrigado, doutor Fabrício. Não sei o que faria sem o senhor! Foi uma desgraça
tão imprevista que... Quase perdi a cabeça...
-
Compreendo perfeitamente, conde. Agora, porém, é oportuno que vá repousar um
pouco. Olhe, tome esta pílula, é um sedativo, que o fará dormir.
-
E se Flora... Piorar, passar mal?
-
Neste caso, eu o acordarei, não tenha dúvida. Por ora, a jovem não voltará a
si.
Embora
a contragosto, o conde Fernando voltou ao salão, onde Denise ainda se
encontrava. A pérfida mocinha estava terrivelmente inquieta, não tanto pelo
acontecimento, já que era demasiado má para senti-lo, mas pelo que pudesse
suceder a Afonso, se Flora voltasse a si e reconhecesse nele seu agressor.
Fernando
a tomou amorosamente entre os braços e, enquanto a garota lhe acariciava com
gesto hipócrita a têmpora grisalha, disse:
-
Vá dormir, querida. Hoje você já teve emoções em demasia. Não quero que se
ressinta disso.
-
Mas, papai, eu quero fazer-lhe companhia!
-
Não, Denise, vá. O barão Ernesto espera-me na biblioteca. É doloroso, mas
devemos decidir o que fazer com seu filho!...
Paulo será que Afonso e Denise vão tentar eliminar Flora? Afinal, Fernando confia neles, não seria difícil matar a moça. E Luís Paulo, o que acontecerá com ele? Estou curiosa! Acho que por enquanto, os maus continuarão reinando rsrsrs. Gostei desse capítulo! Bjs.
ResponderExcluirAnime as suas amigas do blog à leitura, o folhetim ainda vai esquentar muito...
ExcluirO suspense continua. Todos os que sabem da verdade estão fora de ação temporariamente. Quando começará a virada? Muito interessante.
ResponderExcluirA virada ainda está muito longe, vamos curtir a leitura.
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