O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’unAnge
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo VIII
SOMBRAS NO MEIO DA NOITE
Passaram-se alguns
dias desde que Luís Paulo de Rastignac, fazendo-se passar por louco, havia sido
internado na clínica do doutor Démon. Apesar de todos os seus esforços, ele
ainda não havia conseguido saber nada a respeito de Maria "Florde
Amor", a suave e angelical garota que o fizera palpitar de amor ao
primeiro olhar. À medida que o tempo ia passando, a situação se tomava cada vez
mais precária porque, se o doutor Démon percebesse o logro, não hesitaria em
matá-lo, quem sabe usando algum misterioso veneno que não deixasse nenhum
vestígio!
Luís Paulo, criado na
rígida escola de seu pai, forte e leal como era, não temia a morte, mas, na melhor das
hipóteses, poderia ter alta da clínica e ficar assim na impossibilidade de
salvar "Flor de Amor", que certamente estaria trancada em algum
aposento secreto da clínica, como já acontecera com sua infortunada mãe. O
rapaz, como novo paciente, havia sido acomodado num dos despidos e frios locais
usados para manter os dementes em observação, a fim de serem estudadas todas as
suas reações e estabelecido o desequilíbrio mental. Aquele quarto para o qual
tinham feito Luís Paulo entrar, não era muito diferente dos outros e seu único
mobiliário era uma cadeira e um pequeno leito de metal, solidamente fixados ao
assoalho. As refeições eram-lhe passadas por um postigo, que se abria na pesada
porta que fechava a cela. Todas as manhãs o doutor Démon, ladeado por dois
robustos enfermeiros, fazia a sua ronda de visitas aos pacientes, prescrevendo
os diversos tratamentos que deveriam ser aplicados no decorrer do dia pelos
seus assistentes. O admirador de "Flor de Amor" fazia o possível
para se fingir desequilibrado, quando o médico o visitava, mas não estava
totalmente seguro de que as suas manifestações de loucura convencessem
inteiramente o maléfico doutor. Por
algumas vezes havia surpreendido uns olhares estranhosentre os enfermeiros da
escolta, enquanto o rosto hermético do médico continuava sempre impassível.
Certa noite, quando
passeava para lá e para cá, na escuridão da cela, porque durante as horas
noturnas a luz elétrica era automaticamente desligada em todos os
compartimentos, ouviu rumores no corredor vizinho. Curioso, esperando descobrir
alguma coisa que lhe pudesse ser útil, aproximou-se da porta e, apoiando nela
todo o corpo, colou o ouvido à madeira para ouvir melhor. Gritos sufocados
ressoavam a pouca distância e, pouco depois, ouviu o rumor de uma violenta
luta, seguida, finalmente, de um baque surdo no pavimento.
Devia ser algum dos
enfermeiros da noite que, pelos métodos habituais, havia punido algum paciente
mais incômodo e mais barulhento do que os outros. Luís Paulo não pôde deixar de
estremecer, ao pensar nos cruéis métodos usados naquele triste lugar, e
perguntou a si mesmo como as más ações de Démon podiam ter passado até aquele
dia despercebidas aos inspetores sanitários e até a polícia. Enquanto refletia,
tocava distraidamente com a ponta dos dedos numa tacha de ferro encravada na
parede. Súbito, quando já iaafastar-se dali, ouviu um leve estalido metálico,
que vinha de uma delas. Desconfiado, tornou a procurar às apalpadelas, o ponto
onde havia pousado a mão e, encontrando a tacha, apertou-a novamente, com toda
força. Imediatamente, um chiado estranho ressoou atrás dele, extinguindo-se
logo em seguida. Maravilhado, Luís Paulo se voltou, murmurando:
- Essa tacha deve
servirpara acionar o suporte de alguma porta secreta. Se ao menos eu pudesse enxergar
alguma coisa!
Como para atender ao seu desejo,
naquele instante, a pálida lua surgiu entre as densas nuvens que obscureciam o
céu e seus raios, penetrando através das grossas grades que protegiam a janela,
iluminaram debilmente a cela. Imediatamente, Luís Paulo de Rastignac olhou em
volta e sufocou, com dificuldade, um grito de assombro. Uma parte da parede da
sua cela havia girado sobre si mesma, como se sustentada por gonzos invisíveis,
descobrindo uma negra abertura, da qual saía um forte cheiro de mofo.
- Puxa! - exclamou Luís Paulo em
voz baixa... De tanto ficar aqui dentro, estou ficando mesmo louco! Isto está
me parecendo uma passagem secreta, que se manobra fazendo girar a tacha que
está encravada na parede! Agora compreendo como pode Démon subtrair-se sempre
das investigações dos inspetores sanitários... Durante as inspeções ele deve
fazer com que os doentes em piores condições desapareçam no subterrâneo do
edifício! Esse homem é mesmo um demônio!
Cada vez mais curioso, o rapaz se
aproximou da abertura. "Que haverá do outro lado?", perguntou-se.
"Se pudesse enxergar um pouco mais, eu entraria para dar uma olhadela...
Pode-se esperar tudo, depois do que está acontecendo!" Temendo cair em
alguma cilada, resolveu esperar o amanhecer para examinar melhor o que havia
descoberto.
O doutor Démon só fazia a sua
visita manhã já alta, por conseguinte havia tempo para agir com toda
comodidade. À espera que surgisse o dia, tornou a deitar-se em seu leito, sem
dormir, porém, com medo de acordar muito tarde. Vibrando de impaciência,
acompanhou o correr das horas. Depois de um tempo que lhe pareceu interminável,
chegou a aurora, e uma tênue claridade penetrou aos poucos na cela. Incapaz de
esperar mais, Luís Paulo pôs-se de pé, enfiou-se prudentemente pela escura
abertura e deu alguns passos às apalpadelas, porque a luz não era ainda tão
forte que chegasse ali dentro. Percorridos alguns metros, suas mãos encontraram
um novo obstáculo de consistência metálica. Aflitivamente, percorreu-o todo,
arranhando as palmas das mãos contra a sua superfície áspera.
Por fim, quando já ia perdendo as
esperanças de poder prosseguir, achou uma maçaneta, que puxou para si com
violência. A chapa metálica se deslocou e uma exclamação sufocada lhe escapou
da garganta contra a sua vontade! Maria "Flor de Amor", a criatura
pela qual ele estava arriscando a vida dentro do manicômio do doutor Démon,
estava deitada diante dele, dormindo num pequeno leito!
Paulo, legal esse capítulo, mas acho que essa descoberta de Luís Paulo, pode ter más consequências pra ele e pra Maria "Flor de Amor"! Que lugar sinistro! Cada vez mais emocionante! Bjs.
ResponderExcluirVamos continuar lendo! Vai ficar ainda mais emocionante.
ExcluirNossa, que emocionante! Mas desconfio que vem encrenca por aí... Folhetim é assim, sempre que alguma coisa vai bem, algo de mal acontece e vice-versa. Vamos aguardar a continuação. Beleza, Paulo!
ResponderExcluirSegue firme, Maria que a tua chará ainda não sofreu nada...
ExcluirPaulo, que bom que aconteceu algo bom neste inferno, ainda que sabemos pode durar pouco esta alegria. Vou aguardar com otimismo o próximo episódio do folhetim. Um abraço!!!!!!!
ResponderExcluirBem vinda, Silvânia, aguarda os próximos episódios.
ExcluirMuito bom, Paulo! Henriette de Tremiére era muito criativa! Vamos ver o que vem por aí!
ResponderExcluirBom revê-lo por aqui... Tem muita coisa pela frente. Um abraço!
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