quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 8 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA


O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’unAnge


Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


Capítulo VIII
SOMBRAS NO MEIO DA NOITE


Passaram-se alguns dias desde que Luís Paulo de Rastignac, fazendo-se passar por louco, havia sido internado na clínica do doutor Démon. Apesar de todos os seus esforços, ele ainda não havia conseguido saber nada a respeito de Maria "Florde Amor", a suave e angelical garota que o fizera palpitar de amor ao primeiro olhar. À medida que o tempo ia passando, a situação se tomava cada vez mais precária porque, se o doutor Démon percebesse o logro, não hesitaria em matá-lo, quem sabe usando algum misterioso veneno que não deixasse nenhum vestígio!
Luís Paulo, criado na rígida escola de seu pai, forte e leal como era, não temia a morte, mas, na melhor das hipóteses, poderia ter alta da clínica e ficar assim na impossibilidade de salvar "Flor de Amor", que certamente estaria trancada em algum aposento secreto da clínica, como já acontecera com sua infortunada mãe. O rapaz, como novo paciente, havia sido acomodado num dos despidos e frios locais usados para manter os dementes em observação, a fim de serem estudadas todas as suas reações e estabelecido o desequilíbrio mental. Aquele quarto para o qual tinham feito Luís Paulo entrar, não era muito diferente dos outros e seu único mobiliário era uma cadeira e um pequeno leito de metal, solidamente fixados ao assoalho. As refeições eram-lhe passadas por um postigo, que se abria na pesada porta que fechava a cela. Todas as manhãs o doutor Démon, ladeado por dois robustos enfermeiros, fazia a sua ronda de visitas aos pacientes, prescrevendo os diversos tratamentos que deveriam ser aplicados no decorrer do dia pelos seus assistentes. O admirador de "Flor de Amor" fazia o possível para se fingir desequilibrado, quando o médico o visitava, mas não estava totalmente seguro de que as suas manifestações de loucura convencessem inteiramente o maléfico doutor.  Por algumas vezes havia surpreendido uns olhares estranhosentre os enfermeiros da escolta, enquanto o rosto hermético do médico continuava sempre impassível.
Certa noite, quando passeava para lá e para cá, na escuridão da cela, porque durante as horas noturnas a luz elétrica era automaticamente desligada em todos os compartimentos, ouviu rumores no corredor vizinho. Curioso, esperando descobrir alguma coisa que lhe pudesse ser útil, aproximou-se da porta e, apoiando nela todo o corpo, colou o ouvido à madeira para ouvir melhor. Gritos sufocados ressoavam a pouca distância e, pouco depois, ouviu o rumor de uma violenta luta, seguida, finalmente, de um baque surdo no pavimento.
Devia ser algum dos enfermeiros da noite que, pelos métodos habituais, havia punido algum paciente mais incômodo e mais barulhento do que os outros. Luís Paulo não pôde deixar de estremecer, ao pensar nos cruéis métodos usados naquele triste lugar, e perguntou a si mesmo como as más ações de Démon podiam ter passado até aquele dia despercebidas aos inspetores sanitários e até a polícia. Enquanto refletia, tocava distraidamente com a ponta dos dedos numa tacha de ferro encravada na parede. Súbito, quando já iaafastar-se dali, ouviu um leve estalido metálico, que vinha de uma delas. Desconfiado, tornou a procurar às apalpadelas, o ponto onde havia pousado a mão e, encontrando a tacha, apertou-a novamente, com toda força. Imediatamente, um chiado estranho ressoou atrás dele, extinguindo-se logo em seguida. Maravilhado, Luís Paulo se voltou, murmurando:
- Essa tacha deve servirpara acionar o suporte de alguma porta secreta. Se ao menos eu pudesse enxergar alguma coisa!
Como para atender ao seu desejo, naquele instante, a pálida lua surgiu entre as densas nuvens que obscureciam o céu e seus raios, penetrando através das grossas grades que protegiam a janela, iluminaram debilmente a cela. Imediatamente, Luís Paulo de Rastignac olhou em volta e sufocou, com dificuldade, um grito de assombro. Uma parte da parede da sua cela havia girado sobre si mesma, como se sustentada por gonzos invisíveis, descobrindo uma negra abertura, da qual saía um forte cheiro de mofo.
- Puxa! - exclamou Luís Paulo em voz baixa... De tanto ficar aqui dentro, estou ficando mesmo louco! Isto está me parecendo uma passagem secreta, que se manobra fazendo girar a tacha que está encravada na parede! Agora compreendo como pode Démon subtrair-se sempre das investigações dos inspetores sanitários... Durante as inspeções ele deve fazer com que os doentes em piores condições desapareçam no subterrâneo do edifício! Esse homem é mesmo um demônio!
Cada vez mais curioso, o rapaz se aproximou da abertura. "Que haverá do outro lado?", perguntou-se. "Se pudesse enxergar um pouco mais, eu entraria para dar uma olhadela... Pode-se esperar tudo, depois do que está acontecendo!" Temendo cair em alguma cilada, resolveu esperar o amanhecer para examinar melhor o que havia descoberto.
O doutor Démon só fazia a sua visita manhã já alta, por conseguinte havia tempo para agir com toda comodidade. À espera que surgisse o dia, tornou a deitar-se em seu leito, sem dormir, porém, com medo de acordar muito tarde. Vibrando de impaciência, acompanhou o correr das horas. Depois de um tempo que lhe pareceu interminável, chegou a aurora, e uma tênue claridade penetrou aos poucos na cela. Incapaz de esperar mais, Luís Paulo pôs-se de pé, enfiou-se prudentemente pela escura abertura e deu alguns passos às apalpadelas, porque a luz não era ainda tão forte que chegasse ali dentro. Percorridos alguns metros, suas mãos encontraram um novo obstáculo de consistência metálica. Aflitivamente, percorreu-o todo, arranhando as palmas das mãos contra a sua superfície áspera.
Por fim, quando já ia perdendo as esperanças de poder prosseguir, achou uma maçaneta, que puxou para si com violência. A chapa metálica se deslocou e uma exclamação sufocada lhe escapou da garganta contra a sua vontade! Maria "Flor de Amor", a criatura pela qual ele estava arriscando a vida dentro do manicômio do doutor Démon, estava deitada diante dele, dormindo num pequeno leito!

8 comentários:

  1. Paulo, legal esse capítulo, mas acho que essa descoberta de Luís Paulo, pode ter más consequências pra ele e pra Maria "Flor de Amor"! Que lugar sinistro! Cada vez mais emocionante! Bjs.

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    1. Vamos continuar lendo! Vai ficar ainda mais emocionante.

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  2. Nossa, que emocionante! Mas desconfio que vem encrenca por aí... Folhetim é assim, sempre que alguma coisa vai bem, algo de mal acontece e vice-versa. Vamos aguardar a continuação. Beleza, Paulo!

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    1. Segue firme, Maria que a tua chará ainda não sofreu nada...

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  3. Paulo, que bom que aconteceu algo bom neste inferno, ainda que sabemos pode durar pouco esta alegria. Vou aguardar com otimismo o próximo episódio do folhetim. Um abraço!!!!!!!

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  4. Muito bom, Paulo! Henriette de Tremiére era muito criativa! Vamos ver o que vem por aí!

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    1. Bom revê-lo por aqui... Tem muita coisa pela frente. Um abraço!

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