A
crônica que reproduzimos abaixo é da autoria de José Carlos Oliveira.
Para
maiores informações sobre o autor, favor consultar: pt.wikipedia.org/wiki/José_Carlos_Oliveira.
Boa
leitura!
ADÃO E EVA
Relendo
velhos textos, observo que a todo instante me preocupa uma única situação. A
solidão do homem, a solidão da mulher. Não a solidão dos homens, do gênero
humano: do homem com relação à mulher e vice-versa. Suspeito que o momento
supremo da nossa aventura ocorreu quando o Senhor Deus exorbitou de suas
funções, por assim dizer. Ele já havia feito tudo e só lhe restava descansar,
pois era domingo, e, sábado, toda a Criação tinha passado a noite no Jirau,
inclusive Ele. Mas parece que o Homem, Adão, achava aquela festa muito
aborrecida, pois não dançou com ninguém, bebeu demais e é possível até que
tenha dado um vexame. Suponho que no meio da noite ele tenha decidido apanhar
de qualquer maneira a fêmea do Canguru, aliás exímia dançarina de twist, e
senhora um tanto leviana, pois mal emergira da argila e já se punha a flertar
com o Rei da Criação. Mas não fica bem, a um cavalheiro, estar a julgar a
conduta da mulher alheia: esqueçamos isso e voltemos a Adão, ébrio e
cafardento, lançado num Paraíso em que todos os bichos estavam acompanhados,
menos ele. Todo o mundo reparou que ele não estava feliz. As senhoras, no
toalete, não fizeram outro comentário — todas elas dispostas a fazer qualquer
coisa para consolá-lo, porque os machos tristonhos sempre gozaram de grande
prestígio junta às fêmeas de toda a escala zoológica, e o Senhor Deus,
psicólogo de rara penetração, adivinhou que o Paraíso estava resvalando para o
perigoso terreno da galhofa — como diria, muitos milhões de anos depois, um
cronista particularmente femeeiro... Não apenas estávamos à beira do adultério,
como diante de algo muito mais grave — uma degradação. Imaginem se Adão, no
auge do pileque, fazendo um papel muito mais feio do que Noé, inaugurasse o
cruzamento de homem com, digamos, sapo, ou percevejo, ou jacaré, ou cobra
d'água! Felizmente — ou graças a Deus: parece que ele, em sua infinita
sabedoria, foi servindo mais e mais uísque à medida que Adão esvaziava o copo,
de modo que o velho Adão foi apagando, apagando e — zás! emborcou.
...Foi
quando extraímos uma costela, com a qual esculpimos uma forma nova, cheia de
graça, com cabelos habilmente manipulados pelo Reinaud e tendo sobre o alvo
ventre uma folha de parreira confeccionada por José Ronaldo... Assim nasceu
Dona Eva, na intimidade Vivi sem sobrenome, porque não tinha pai nem mãe. E ela
chamou Adão para irem ao Bob's, digo, ao bosque, onde estava a afamada Árvore
da Sabedoria. E a serpente disse a Eva: "Olha, Eva, a coisa mais bacaninha
que há para fazer, hoje em dia é comer daquela maçã que você vê ali naquela
árvore. É a coqueluche de Paris — todo mundo comendo maçã no New Jimmys, no
Maxim's, no Plaza Athenée Rellays, no Bois de Bologne!" Eva achou a idéia
fabulosa e perguntou a Adão que tal lhe parecia. Adão no momento não tinha
dinheiro no bolso (estava nu, coitado), mas a Serpente emprestou, Adão comprou
a maçã e Eva disse: "Morde aqui".Adão mordeu. Eva também.
Foi
quando dos grandes Céus os exércitos de anjos desceram céleres sobre o Paraíso,
e suas vozes faziam um clamor de tempestade, e eles clamavam: "Nós também
queremos! Nós também queremos!".
Mas
só Adão e Eva tiveram permissão. Na verdade, Eva é que acabou sendo a dona do
negócio, tanto que certa ocasião, depois de folhear a revista Playboy, Adão lhe
aplicou um beijo no cangote e disse: "Vamos comer maçã? Que dia lindo para
comer maçã!" E Eva, bocejante, sob os cabelos enrolados em bob: "Hoje
não, Adão. Hoje estou com muita dor de cabeça".
Fonte:
http://www.releituras.com/jcoliveira_eva.asp
Hilária essa cônica, ri muito! Boa leitura, gostei de ler!
ResponderExcluirJE, desculpe, mas gostei só um cadin kkkk
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