O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’unAnge
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
IX
OS QUE SE
AMAM SE ENCONTRAM
A cela na qual Luís Paulo foi parar
através da passagem secreta, era idêntica à dele, apenas com a diferença de
estar iluminada por uma pequena lâmpada elétrica, no lugar da luz do dia, por
ser desprovida de janelas. Passados os primeiros instantes de natural emoção,
compreendendo que cada minuto era precioso, Luís Paulo chamou em voz baixa:
- Maria... "Flor de Amor"... Sou eu...
Luís Paulo! Acorde!
A encantadora criatura se agitou,
ainda dormindo, e seus lábios cor de coral se descerraram, murmurando:
- Luís Paulo!...
Quando ele ouviu pronunciar seu
nome, seu coração começou a bater desordenadamente. Não lhe parecia possível
que uma jovem tão bonita pudesse sonhar com ele. Levantando um pouco a voz,
repetiu:
- Acorde, meu bem. Por favor,
abra estes belos olhos e olhe para mim! "Flor de Amor", não me ouve?
Aquele chamado, pronunciado tão
docemente, fez a mocinha estremecer. Batendo as pálpebras e olhando em volta de
si, amedrontada, avistou Luís Paulo, de pé, perto dela e exclamou:
- Virgem Santa! Não estou
sonhando!... É você mesmo, Luís Paulo?...
A jovem pulou do leito e, num
movimento instintivo, quase infantil, estendeu as mãos para ele que, louco de
felicidade, apertou-as entre as suas, beijando-as apaixonadamente.
- Minha adorada "Flor de
Amor", a alegria de estar perto de você me compensa de todos os meus
sofrimentos, de quando não sabiaonde você estava!
Amo-a, meu anjo! Você é tudo para mim. Diga que me ama também, querida... Diga...
- Eu o amo, sim, Luís
Paulo - respondeu ela, abaixando a cabeça e corando - e o amo tanto porque você
é a única pessoa que me ajudou, depois do bondoso Benedito, que tanto fez por
mim.
O rapaz lhe
perguntou, satisfeito por tê-la agora nos braços, como um passarinho assustado.
- Diga-me, Maria,
encontrou sua mãe? Achou aquela pela qual, sozinha e indefesa, enfrentou as
insídias de um mundo que desconhece e do qual járecebeu tanto mal?
A lembrança do que
havia acontecido no gabinete do doutor Démon estava ainda tão viva na mente da
pequena, que ela se, aproximou mais ainda do rapaz, dizendo excitada:
- Oh, foi
horrível!... Pensei que finalmente tivesse chegado ao fim do meu sofrimento,
porque odoutor me disse que minha mãe estava viva, apesar de doente... Mas
quando eu pedi para vê-la, outra mulher me foi mostrada no lugar dela. Eu,
apesar de ser bem pequena naquela ocasião, lembro-me perfeitamente de que os
olhos de minha mãe eram de um puro azul celeste, que me miravam com tal
ternura, que eu não encontrei nos olhos dessaoutra mulher que tentoufazer-se de
minha mãe! Não posso estar enganada! Quando essa mulher, que apesar de bonita
me inspirava medo, disse-me que eu era sua filha, eu neguei com todas as minhas
forças, é claro! E aí me jogaram nesta cela...
Dominada por uma
espécie de terror retrospectivo, ela levantou o rostinho para o rapaz,
soluçando:
-Oh, meu bem... Fuja
daqui! Fuja deste lugar horrível! Não se arrisque a ser mais uma vítima do
malvado doutor Démon.
Sem responder,
esquecido de tudo, o que não fosse o seu amor, como única resposta, Luís Paulo
lhe cobriu o rosto debeijos. Mas Maria insistiu, beijando-o por sua vez:
- Fuja! Eu sou
sozinha, não tenho ninguém... Ninguém procurará por mim... Acho que nunca
conseguirei reunir-me à minha desventurada mãe, enquanto você tem seus pais,
que o esperam... Não os faça sofrer. Você tem um futuro! Vá, meu bem, vá...
Deixe-me aqui... Não se preocupe mais comigo...
- "Flor de
Amor", meu bem, que está dizendo? - protestou Luís Paulo. - Eu não poderia
mais viver sem você! Onde quer que fosse, veria seus olhos, seu rostinho de
Madona... E depois, mesmo que o quisesse, não poderia deixar esta clínica, porque me fingi de louco para ter
a possibilidade de entrar aqui e procurá-la... Estou tão prisioneiro quanto
você, Maria!
- Luís Paulo, você fez isto?! ...
Não pensou nas consquências? E enfrentou tudo isto por mim,
só por mim, sem conhecer-me?
- Bastou-me vê-la, falar-lhe... E
olhe, não tenha medo, porque meu pai sabe que estou aqui e foi ele mesmo que me
trouxe! Breve, ele há de aparecer para saber notícias minhas... E se ainda não
tivermos conseguido sair sozinhos, ele dará um jeito.
- Como poderei algum dia retribuir o que está
fazendo?
- Com um beijo, "Flor de Amor"... Com um
beijo...
E os lábios de ambos se uniram
por um longo instante, enquanto o sino da igreja distante fazia ouvir suas
badaladas. Quando se afastaram um do outro, Maria disse:
- Como faremos para sair daqui, deste autêntico
inferno?
- Talvez haja uma possibilidade
para nós - disse Luís Paulo, olhando em volta, inquieto. - Imaginei um plano
que, apesar de arriscado, creio que é o único ao qual podemos recorrer, na
nossa precária situação.
- Meu bem... Não corra mais perigos!
- É preciso, se quisermos fugir!
Ouça o que eu pensei, quando o doutor Démon entrar na minha cela, amanhã, eu me
farei de desmaiado. Ele chegará perto e quando estiver ao alcance da mão, eu o
agredirei com um murro. Acho que terei força suficiente para atordoá-lo e
fechá-lo dentro de minha cela. Feito isso, virei buscar você.
Maria "Flor de Amor" desejaria
fazer com que seu amado desistisse de tentar semelhante façanha, mas Luís
Paulo, decidido a arriscar tudo por tudo, mostrou-se inabalável.
Infelizmente, na ânsia de fazerem
os projetos para a fuga, os dois jovens não tinham notado que, atrás da porta
da cela na qual se encontravam, Mara, a alma danada do proprietário da clínica
dos horrores, havia escutado tudo quanto haviam dito. E, cinco minutos depois,
ela já relatava ao seu patrão o que Luís Paulo tencionava fazer!
Quando Luís Paulo voltou para a
sua cela, depois de ter fechado novamente a abertura secreta de modo que
ficasse oculta na parede, como estava antes de ele a descobrir, o sol já havia
aparecido fazia algum tempo. Ele não podia estabelecer com precisão que horas
seriam, porque ao entrar no manicômio haviam lhe tirado todos os objetos que
levava consigo, mas imaginava que a hora das visitas não estivesse longe.
De fato, dali a
pouco, ressoaram uns passos no corredor. Depois se ouviu a voz do doutor Démon,
dizendo:
- Esta manhã não tenho
tempo para visitas, tratarei disto mais tarde. Feche esta mulher no número
vinte e um e deixe-a gritar quanto ela quiser, quando não tiver mais voz, há de
parar.
- Mas doutor -
objetou alguém, que devia ser um enfermeiro - o número vinte e um está ocupado
com aquele rapaz que entrou outro dia...
- Faça o que lhe
disse e não replique, idiota! Os dois ficarão juntos! Afinal, não estão em
observação? Vamos, ande logo!...
Logo em seguida, a
porta da cela de Luís Paulo se abriu ruidosamente e uma mulher, impelida com
violência, quase lhe caiu nos braços.
Muito bom, Paulo! Mas quanta reviravolta, quando achamos que tudo se resolverá, os vilões estragam tudo. Mas é bem coisa de folhetim: muita emoção e sobressaltos. Vamos ver no que vai dar...
ResponderExcluirPaulo, como eu já previa, o plano de Luís Paulo deu errado! E sinto que ele corre sérios riscos nesse lugar infernal! Vou aguardar os novos acontecimentos, mas sei que vem muita maldade ainda! Bjs.
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