sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 9 - PRIMEIRA PARTE - COLABORAÇÃO: PAULO SENA



O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’unAnge


Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL



Capítulo IX
OS QUE SE AMAM SE ENCONTRAM


A cela na qual Luís Paulo foi parar através da passagem secreta, era idêntica à dele, apenas com a diferença de estar iluminada por uma pequena lâmpada elétrica, no lugar da luz do dia, por ser desprovida de janelas. Passados os primeiros instantes de natural emoção, compreendendo que cada minuto era precioso, Luís Paulo chamou em voz baixa:
- Maria... "Flor de Amor"... Sou eu... Luís Paulo! Acorde!
A encantadora criatura se agitou, ainda dormindo, e seus lábios cor de coral se descerraram, murmurando:
- Luís Paulo!...
Quando ele ouviu pronunciar seu nome, seu coração começou a bater desordenadamente. Não lhe parecia possível que uma jovem tão bonita pudesse sonhar com ele. Levantando um pouco a voz, repetiu:
- Acorde, meu bem. Por favor, abra estes belos olhos e olhe para mim! "Flor de Amor", não me ouve?
Aquele chamado, pronunciado tão docemente, fez a mocinha estremecer. Batendo as pálpebras e olhando em volta de si, amedrontada, avistou Luís Paulo, de pé, perto dela e exclamou:
- Virgem Santa! Não estou sonhando!... É você mesmo, Luís Paulo?...
A jovem pulou do leito e, num movimento instintivo, quase infantil, estendeu as mãos para ele que, louco de felicidade, apertou-as entre as suas, beijando-as apaixonadamente.
- Minha adorada "Flor de Amor", a alegria de estar perto de você me compensa de todos os meus sofrimentos, de quando não sabiaonde você estava! Amo-a, meu anjo! Você é tudo para mim. Diga que me ama também, querida... Diga...



- Eu o amo, sim, Luís Paulo - respondeu ela, abaixando a cabeça e corando - e o amo tanto porque você é a única pessoa que me ajudou, depois do bondoso Benedito, que tanto fez por mim.
O rapaz lhe perguntou, satisfeito por tê-la agora nos braços, como um passarinho assustado.
- Diga-me, Maria, encontrou sua mãe? Achou aquela pela qual, sozinha e indefesa, enfrentou as insídias de um mundo que desconhece e do qual járecebeu tanto mal?
A lembrança do que havia acontecido no gabinete do doutor Démon estava ainda tão viva na mente da pequena, que ela se, aproximou mais ainda do rapaz, dizendo excitada:
- Oh, foi horrível!... Pensei que finalmente tivesse chegado ao fim do meu sofrimento, porque odoutor me disse que minha mãe estava viva, apesar de doente... Mas quando eu pedi para vê-la, outra mulher me foi mostrada no lugar dela. Eu, apesar de ser bem pequena naquela ocasião, lembro-me perfeitamente de que os olhos de minha mãe eram de um puro azul celeste, que me miravam com tal ternura, que eu não encontrei nos olhos dessaoutra mulher que tentoufazer-se de minha mãe! Não posso estar enganada! Quando essa mulher, que apesar de bonita me inspirava medo, disse-me que eu era sua filha, eu neguei com todas as minhas forças, é claro! E aí me jogaram nesta cela...
Dominada por uma espécie de terror retrospectivo, ela levantou o rostinho para o rapaz, soluçando:
-Oh, meu bem... Fuja daqui! Fuja deste lugar horrível! Não se arrisque a ser mais uma vítima do malvado doutor Démon.
Sem responder, esquecido de tudo, o que não fosse o seu amor, como única resposta, Luís Paulo lhe cobriu o rosto debeijos. Mas Maria insistiu, beijando-o por sua vez:
- Fuja! Eu sou sozinha, não tenho ninguém... Ninguém procurará por mim... Acho que nunca conseguirei reunir-me à minha desventurada mãe, enquanto você tem seus pais, que o esperam... Não os faça sofrer. Você tem um futuro! Vá, meu bem, vá... Deixe-me aqui... Não se preocupe mais comigo...
- "Flor de Amor", meu bem, que está dizendo? - protestou Luís Paulo. - Eu não poderia mais viver sem você! Onde quer que fosse, veria seus olhos, seu rostinho de Madona... E depois, mesmo que o quisesse, não poderia deixar esta clínica, porque me fingi de louco para ter a possibilidade de entrar aqui e procurá-la... Estou tão prisioneiro quanto você, Maria!
- Luís Paulo, você fez isto?! ... Não pensou nas consquências? E enfrentou tudo isto por mim, só por mim, sem conhecer-me?
- Bastou-me vê-la, falar-lhe... E olhe, não tenha medo, porque meu pai sabe que estou aqui e foi ele mesmo que me trouxe! Breve, ele há de aparecer para saber notícias minhas... E se ainda não tivermos conseguido sair sozinhos, ele dará um jeito.
- Como poderei algum dia retribuir o que está fazendo?
- Com um beijo, "Flor de Amor"... Com um beijo...
E os lábios de ambos se uniram por um longo instante, enquanto o sino da igreja distante fazia ouvir suas badaladas. Quando se afastaram um do outro, Maria disse:
- Como faremos para sair daqui, deste autêntico inferno?
- Talvez haja uma possibilidade para nós - disse Luís Paulo, olhando em volta, inquieto. - Imaginei um plano que, apesar de arriscado, creio que é o único ao qual podemos recorrer, na nossa precária situação.
- Meu bem... Não corra mais perigos!
- É preciso, se quisermos fugir! Ouça o que eu pensei, quando o doutor Démon entrar na minha cela, amanhã, eu me farei de desmaiado. Ele chegará perto e quando estiver ao alcance da mão, eu o agredirei com um murro. Acho que terei força suficiente para atordoá-lo e fechá-lo dentro de minha cela. Feito isso, virei buscar você.
Maria "Flor de Amor" desejaria fazer com que seu amado desistisse de tentar semelhante façanha, mas Luís Paulo, decidido a arriscar tudo por tudo, mostrou-se inabalável.
Infelizmente, na ânsia de fazerem os projetos para a fuga, os dois jovens não tinham notado que, atrás da porta da cela na qual se encontravam, Mara, a alma danada do proprietário da clínica dos horrores, havia escutado tudo quanto haviam dito. E, cinco minutos depois, ela já relatava ao seu patrão o que Luís Paulo tencionava fazer!
Quando Luís Paulo voltou para a sua cela, depois de ter fechado novamente a abertura secreta de modo que ficasse oculta na parede, como estava antes de ele a descobrir, o sol já havia aparecido fazia algum tempo. Ele não podia estabelecer com precisão que horas seriam, porque ao entrar no manicômio haviam lhe tirado todos os objetos que levava consigo, mas imaginava que a hora das visitas não estivesse longe.
De fato, dali a pouco, ressoaram uns passos no corredor. Depois se ouviu a voz do doutor Démon, dizendo:
- Esta manhã não tenho tempo para visitas, tratarei disto mais tarde. Feche esta mulher no número vinte e um e deixe-a gritar quanto ela quiser, quando não tiver mais voz, há de parar.
- Mas doutor - objetou alguém, que devia ser um enfermeiro - o número vinte e um está ocupado com aquele rapaz que entrou outro dia...
- Faça o que lhe disse e não replique, idiota! Os dois ficarão juntos! Afinal, não estão em observação? Vamos, ande logo!...
Logo em seguida, a porta da cela de Luís Paulo se abriu ruidosamente e uma mulher, impelida com violência, quase lhe caiu nos braços.

2 comentários:

  1. Muito bom, Paulo! Mas quanta reviravolta, quando achamos que tudo se resolverá, os vilões estragam tudo. Mas é bem coisa de folhetim: muita emoção e sobressaltos. Vamos ver no que vai dar...

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  2. Paulo, como eu já previa, o plano de Luís Paulo deu errado! E sinto que ele corre sérios riscos nesse lugar infernal! Vou aguardar os novos acontecimentos, mas sei que vem muita maldade ainda! Bjs.

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