CAPÍTULO
XXX – PURO ÊXTASE
Durante
a madrugada o tempo muda e uma chuva torrencial é inevitável.
Rosa
começa a ficar agitada, diante do sonho que tem. Sonhava com Júlio entrando no
apartamento, na casa, na construtora e ela tentava escapar dele, mas ele sempre
a alcançava. E dava gargalhadas do desespero dela, enquanto gritava :
“Eu sempre
esperei por essa vingança!”
“Você vale muito
mais viva que morta!”
“Eu quero os
milhões de dólares, belezinha, mas se você vier junto eu não vou reclamar!“
E ela chamava por Claude, pedia ajuda,
socorro... Mas a imagem de Júlio,
armado, era a que aparecia:
“Pode gritar, sua idiota... ele não vem... eu
dei um jeitinho no seu francês!”
“Agora, eu vou terminar
aquela minha ‘conversa’ com você! Não tem mais ninguém pra te salvar, Serafina!”
“Nunca! Ela
consegue responder – Prefiro a morte!”
“Então morra,
sua estúpida”- E atira nela.
Nesse
momento um raio cai muito perto e ela acorda gritando:
R:
Não! Não!
C:
Rosa! Que foi? – Pergunta um Claude assustado pelos gritos dela e a amparando.
R:
O Júlio... ele me seguia, me ameaçava...
– Fala nervosa - Eu corria pra longe, mas ele sempre me alcançava, eu chamava
por você e ele dizia que tinha dado um jeito em você... que ele ia... ia ficar comigo, eu disse que preferia morrer e
ele atirou em mim, Claude!
C:
Xiii... Calma! Foi um pesadelo... só um
pesadelo, chérie! E esse tiro... foi só
um raio que caiu... e você associou isso
no sonho, hã?
Outro
raio cai, seguido de trovões e
relâmpagos. Rosa estremece.
C:
Tá vendo... é só um temporal!
R:
Parecia tão real...
C:
Mas non é real, Rosa... é só seu corpo reagindo... um meio de você desabafar,
hã? Vem cá...
Ele
se recosta na cabeceira da cama e Rosa se ajeita em seu corpo.
C:
Deita sua cabeça aqui sobre o meu coraçon... escuta ele batendo por você...
R:
Ele tá muito rápido... Isso foi muito lindo... e romântico...
C:
É... meu coraçon tem pressa de te fazer feliz, chérie! – Enquanto fala dá
suaves beijos nos cabelos de Rosa e desliza suas mãos pelo braço dela, indo e
vindo... Tenta dormir de novo, mon amour...
R:
Eu já estou mais calma... foi bobagem
ficar assim por causa de um sonho...
C:
Esquece, hã? Presta atençon na chuva... No ritmo dela... Um dia, alguém muito
importante e especial em minha vida me disse que a chuva cai, inunda tudo, varre
as coisas ruins e o sol volta a brilhar...
Ela
levanta o olhar pra ele e sorri:
R:
Hum... essa pessoa especial, por acaso disse que você é o sol da vida dela? E sempre vai ser?
C:
Oui... ela disse muitas coisas... mas já faz
um tempo que ela non diz que me
ama...
R:
Ah, é? Então... – ela literalmente fica
sobre o corpo dele e olha bem dentro de seus olhos – eu falo por ela... te amo,
te amo... E o beija. E, embalados pelo ritmo da chuva, eles voltam a dormir.
Ao
amanhecer, Rosa acorda e sorri ao sentir o braço de Claude sobre o seu corpo...
A
chuva dera uma trégua, e o silêncio imperava...
Ela
escuta um ruído vindo da parte de baixo da casa, mas se convence que foi sua
imaginação. Mas o ruído se repete, de novo e de novo...
R:
Claude, acorda... que barulho foi esse? - Diz Rosa apreensiva... – Vem lá de
baixo!
C:
Barulho? Que barulho, Rosa? Deve ser sua imagi... – Então ele também escuta...
Fica aqui, hã? Eu vou lá ver o que é...
Ele
coloca o roupão e desce com cuidado. Procura pela sala, mas não vê nada fora do
lugar, as janelas e portas estão fechadas. Ele vai pra cozinha...
Rosa
não se contém e vai até o início da escada, quando ouve a voz de Claude:
C:
Mas o que você está fazendo aqui, hã?
R:
Claude... quem tá ai? – Ela vai descendo os degraus até ouvir a risada dele,
que vinha em sua direção.
C:
Chérie, nós temos visitas, hã? Olha só... – Ele segurava um gato todo molhado –
Ele estava tentando entrar pela janela da cozinha... Ok... eu confesso, ficou
entreaberta... pardon...
R:
Ufa! É só um bichano... Dá ele aqui... adoro gatos..
C:
Eu sei... afinal você está comigo, non?
R:
Convencido! Eu vou enxugá-lo e dar comida... ele deve estar com fome e com
frio, tadinho...
C.
Humm, já tô com inveja dele...
R:
Bobo! Depois eu cuido de você – Diz ela
maliciosamente - mais tarde.
Ela
enxuga o gato, dá alguma coisa pra ele comer e o instala num cantinho da sala, perto
da lareira. Talvez pelo frio, talvez pelo carinho, ele se acomoda sem medo na
velha manta que ela coloca de cama pra ele.
Claude
só a observa, pensando que ela, com certeza, é a mulher da vida dele, com quem
ele quer ter filhos...
Algumas
horas mais tarde, a chuva volta a cair. Eles ficam na varanda, conversando e
olhando pra chuva.
De
repente, Rosa levanta e vai até os degraus que dão acesso ao jardim.
R:
Nossa, me deu uma vontade de sair na chuva! E desce ficando sob a chuva.
C:
Rosa! Põe a capa, enton... Você vai ficar ensopada... sai da chuva!
R:
Vem comigo! Banho de chuva é tudo de bom! Vem amor... – Ela faz sinal com as
mãos e estica os braços pra ele...
C:
Rosa, você realmente gosta de ficar na chuva, hã? Vai pegar um resfriado outra
vez...
R:
Você quer que eu saia da chuva? Então vem me buscar!
C:
Isso foi um desafio, dona Serafina Rosa? E vai com ela sob a chuva.
Eles
se abraçam, se beijam e dançam sob a chuva e sob o domínio da paixão... até caírem
exaustos num pedaço já gramado do jardim... eles ficam ali, deitados de costas,
olhando pras nuvens cinzas que cobriam
todo o azul do céu...
C:
Isso foi loucura, mon amour... uma loucura deliciosa, hã? E retira uma mecha de
cabelos que caíra pelo rosto dela... Obrigado...
R:
Obrigado?
C:
É... por acreditar em mim... nos meus sonhos.... me fazer feliz... o homem mais feliz do mundo neste momento...
mesmo que seja assim, todo molhado...
Ela
sorri e recebe um beijo, que da boca segue para o pescoço...
R:
Claude...
É
quando o êxtase toma conta dos dois, ali entre as flores do jardim, sob as
gotas finas de chuva, que insistia em cair, como se dissesse em nome dos
deuses, que os abençoava...
Depois
de completamente saciados, eles continuam abraçados e deitados. Por um breve
instante, um raio de sol escapa por entre as nuvens...
C:
Tá vendo como você é especial? Até o sol quer ter você em seus braços e enviou
um raio pra roubar você de mim...
R:
Impossível alguém me roubar de você! Estou presa a você pelas algemas do
coração!
A
chuva começa a engrossar.
C:
O sol se foi e a chuva aumentou... Hora de entrar, mocinha!
R:
Mas tá tão gostoso aqui na chuva... atchim!
C:
Viu só? Já tá espirrando... Já para dentro, mocinha! Vamos...
Ela
recolhe as roupas do chão e Claude a pega de surpresa, levando-a para dentro.
Lá fora o vento se impõe sobre a chuva.
Assim
que eles entram, um raio corta o céu e acaba a energia elétrica.
C:
Bem, mon amour... o jeito vai ser se
esquentar de outra forma, hã? Eu vou buscar alguma coisa pra você vestir. Non
sai daqui... ta ton escuro aqui dentro...
Ele
vai até o quarto, veste seu roupão, procura pela mochila de Rosa e não
encontra. Então ele leva uma toalha, uma camisa sua e um edredon para ela.
Assim
que desce a escada, ele fala:
C:
Rosa, non achei sua mochila com roupas, non... trouxe uma camisa minha e um
edredon... Se seca primeiro... – E entrega para ela.
R:
Droga! Ficou no carro... eu entrei só com a nécessaire... nem lembrei de pegar ontem...
C:
Bem... sem energia... vamos dar um jeito nisso... se temos uma lareira... vamos
usá-la! Ainda bem que a produçon de Robertinha deixou isso tudo aqui! Agora é
só acender...
Ele
acende a lareira e, aos poucos, o ambiente vai se iluminando pela luz das
chamas.
Rosa
já está com a camisa dele e enrolada no edredon...
C:
Vem... vamos sentar perto da lareira pra nos aquecer... Olha lá... nosso
hóspede non foi embora... tá bem quentinho...
Rosa
começa a rir...
C:
Falei alguma besteira?
R:
Não! Eu só pensei que ontem eu era uma Cinderela; hoje to mais pra Gata
Borralheira, né? Rsrsrsrsr
C:
E non é a mesma história??
R:
Na verdade, não... Cinderela é um dos contos de fada baseado num conto italiano popular
chamado A Gata Borralheira. A
versão mais antiga é originária da China. Mas, ela tem versões em vários paises e culturas... eu li
isso em algum lugar...
C:
Você é uma caixinha de surpresas, hã? Mas continua com o seu príncipe! – E dá
um selinho nela. – Non tá com fome, non?
R:
To sim... “príncipe Valente” será que tem alguma coisa que não precise ser
esquentada, pra gente comer?
C:
Eu vou lá ver... não vá fugir, Gata Cinderela!
Ele
volta com pão, queijo e uma garrafa de vinho. Ela se livra do edredon e eles
comem, conversando sobre coisas sem importância... Rosa toma apenas uma taça de
vinho.
C:
Mais vinho, chérie? Vai te esquentar por causa da chuva, hã?
R:
Não, eu não posso...
C:
Non pode? Por quê? Tá tomando algum
remédio?
R:
Não! Mas se eu beber mais vou precisar tomar... eu não quero ter dor de cabeça,
só isso...
C:
D’accord... Ele termina de tomar o seu vinho. Podemos passar a noite aqui. O que
você acha? Assim em frente à lareira... jogando conversa fora...
R:
Eu acho uma ótima idéia... deixa eu arrumar nossa “cama” então... – Ela estica
o edredon pelo chão. – Pronto, podemos deitar...
E
assim eles passam algumas horas, falando sobre o casamento duplo na igreja com
Janete e Frazão, lembram de coisas da infãncia, dão risada, se divertem com
essas histórias... De repente, Rosa fala:
R:
O domingo está acabando... o conto de fadas também... amanhã querendo ou não o
Jú...
C:
Xiiiii, non pensa nisso agora... ainda é hoje, hã? – Chega mais perto dela,
percebendo que ela treme. Isso tudo é frio, chérie?
R:
Hum hum... essa sua camisa é muito fina... não aquece...
C:
Por isso non... deixa que eu te aqueço... – e a toma nos braços, apertando-a
contra o seu corpo, deslizando seus lábios pela sua face, seu pescoço... Te
quero tanto... que nem sei... esqueço que existe tempo... porque o tempo eu
quero ele só pra te amar...
R:
Fala mais... assim pertinho do meu ouvido... – Ela retribui carinhos com os seus
lábios pelo pescoço dele.
C:
Você me pediu e eu te amei na chuva... agora eu que peço... faz amor comigo
aqui em frente a lareira...
E
o amor que fizeram, madrugada afora, só teve um gato, que dormia por
testemunha...
A
segunda-feira amanhece sem sinal da chuva que caíra no domingo.
O
sol já abraçava com seus raios tudo o que estivesse ao seu alcance.
Rosa
prepara um rápido café com o que ainda restava da cesta que Dadi preparara,
enquanto Claude ainda dormia.
Ela
arruma em uma bandeja e leva até a sala, onde passaram a noite, ao calor da
fogueira e ao sabor de seus corpos... Rosa se abaixa perto de Claude:
R:
Amor... hora de acordar.... – Ela passa as costas de sua mão pela face dele. –
Claude... acorda... Temos que voltar, hum?
Ele
apenas resmunga, fingindo dormir. Rosa chega com o rosto mais perto dele:
R:
Claude pára de fingir que tá dormindo... tem tudo pra arrumar ainda...
C.
D’accord... – Diz preguiçosamente, ainda de olhos fechados. – Se você me der um
beijinho, eu levanto...
R:
Um beijinho? Sei... No rosto, ok? – Ela se inclina para dar um beijo no rosto
dele, mas Claude mais rápido, a puxa por cima de seu corpo e toma-lhe a boca
num beijo terno, porém cheio de malícia...
C:
Por que você tá com essa pressa toda, hã? - Pergunta entremeio ao beijo.
R:
Segunda-feira... o mundo lá fora nos espera...
C:
Rosa, ele vai continuar esperando, mesmo que a gente não vá... Enton... se
acalma, oui? – Diz, sentando-se. – Hummm, café na cama... vai me acostumar
mal... – Diz já pegando as canecas com café e dando uma a ela, com um largo
sorriso.
R:
Saúde! – Brinda ela, retribuindo o sorriso.
C:
Muito bom... - E come alguma coisa - mas pelo jeito continuamos sem energia
elétrica...
R:
É... deve ter queimado algum disjuntor...
ou alguma entrada do quadro de
energia...
C:
Nada como ter uma esposa que entende do negócio... - Diz percorrendo o corpo
dela com o olhar descaradamente.
R:
Bobo! – Ela se levanta, retirando a bandeja vazia e as canecas, voltando pra
cozinha.
C:
Rosa! – Ela a chama, quase num sussurro.
Ela
se volta:
R:
O que foi, Claude?
C:
Te amo, hã?
R:
Eu também te amo... e joga um beijo pra
ele, que pega no ar e “guarda” no coração...
Mais
tarde eles já estão com tudo arrumado, prontos pra irem embora. Mas Rosa, anda
pela casa toda e pelos arredores do lado de fora.
C:
Rosa, non ficou nada pra trás, chérie... já está tudo no carro, hã..
R:
Mas eu não acho ele...
C:
Ele quem?
R:
O Grimm...
C:
Grimm? De que você está falando?
R:
Nosso hóspede, amor... o gatinho... batizei ele de Grimm em homenagem aos
contos de fadas...
Claude
sorri:
C:
Touché! Perfeito! Mas eu acho que ele só queria hospedagem por uma noite, até
passar a chuva. Deve ser de alguma outra casa aqui por perto. Os gatos gostam
de andar durante a noite... andam vários quilometros, só pra marcar
território...
R:
Que pena! Eu queria me despedir dele... enfim... Vou deixar esta manta aqui no
cantinho da varanda. Assim, se ele aparecer, vai ter onde se deitar... Vamos?
C:
Oui, madame Geraldy – E abre a porta do carro pra ela.
Eles
voltam pra cidade, evitando ao máximo o assunto “dólares e Júlio”. Mas isso é
inevitável e acaba acontecendo.
R:
Claude, vamos parar de fingir que não estamos preocupados com o Júlio. Eu sei
que ele vai fazer alguma coisa... só não consigo imaginar o que!
C:
Rosa, pára de ficar “pré” ocupada... isso non faz bem, hã? – Olha aí, você já
ficou pálida só de pensar nesse covarde... – Diz olhando pra ela rapidamente,
pois está dirigindo. Ele coloca sua mão sobre a dela. – Mon Dieu, chérie, você
tá com a mão gela...
R:
Pára o carro, Claude... rápido...
Ele
encosta rapidamente no acostamento. Rosa mal tem tempo de sair do carro e
começa a vomitar...
Claude
sai do carro e ampara Rosa.
C:
Mon Dieu, de novo! Rosa, você vai comigo ao médico. Isso non pode ser... já
passou pro psicológico... non pode
continuar assim, hã? Toda vez que falamos desse inútil, você passa mal...
R:
Não... acho que foi aquele queijo de ontem que não me fez bem... com o vinho...
mais o café de hoje! – ela tenta arrumar uma explicação...
C:
Seja lá o que for, você vai comigo a um médico, chérie...
Rosa
não diz nada... não consegue achar uma
saída, a não ser para “passar mal” mais uma vez, deixando Claude
mais preocupado...
kkkkkk, está difícil para Rosa esconder seu "segredo" de Claude! E Claude é meio bobinho, caso contrário já teria desconfiado. Legal Sônia! Bjs.
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