quinta-feira, 22 de novembro de 2012

FIC - À PRIMEIRA VISTA - CAPÍTULO 32 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

CAPÍTULO XXXII – AGONIA

Quando Claude chega em casa, Paulo e sua equipe já estão esperando.
P: Dr. Claude, como foi isso? Tadinha de D. Rosa... nessa situação...
C: Dadi, aquele ordinário, estava com vários homens armados... mas  non vai  acontecer nada com ela... non pode acontecer!
P: Claude, nós vamos fazer plantão por aqui. Ele vai ligar a qualquer momento pra pedir o valor do resgate, que a gente já sabe qual é... eu preciso saber até que ponto você está decidido a não ceder...
C: Mon Dieu!  Até o ponto em quem Rosa non seja prejudicada... aquele canalha é capaz de tudo...
P Mas você vai ter que ser forte, por vocês dois... e deixar que a polícia cuide da negociação...
C: D’accord...
Nesse instante, chegam Janete e Frazão.
F: Claude... nós soubemos pela tv... e não conseguimos acreditar ainda...
C: Pois podem acreditar... Rosa tá com ele, non sabemos onde...
J: A gente pode fazer alguma coisa?
C: Rezem... peçam pra Deus proteger a Rosa... - Diz um Claude angustiado.
Janete vai até a cozinha.
J: Dadi, é melhor a gente fazer um café... muito café... o dia hoje tá só começando...
D: D. Janete, não seria bom a gente contar pro Dr Claude que...
J: Não Dadi... no momento não.. Só iria piorar as coisas pro Claude. Ele tá se sentindo culpado... embora não tenha dito nada. Se ele souber agora... não vai suportar... vamos dar um tempo...
D: A senhora tem razão... Ele tá tentando parecer calmo... mas ele vai não vai resistir muito tempo... Deus nos ajude...

Na sala.
C: O Rodrigo, non deu sinal de vida ainda... non atende o celular... só espero que non tenha acontecido o pior com ele, hã?
F: O Rodrigo sabe se defender Claude... ele fez  curso pra isso. E estava com outro segurança. Eles devem estar agindo de maneira a não serem vistos...

As horas passam e nenhuma noticia chega. Dadi preparara alguns lanches, mas ninguém tinha vontade de comer...
De repente, Rodrigo entra pela cozinha. Nervoso, irritado.
Rod: Dr. Claude... eu tentei... segui eles até a entrada da favela... mas fomos recebidos à bala... o Mendes, o segurança , foi atingido no braço... precisamos nos esconder... mas ele já está bem... já passou pelo pronto atendimento...
C: Enton você sabe pra qual favela a Rosa foi levada!
R: Bem, sim... eu posso explicar onde é, ou levá-lo até lá...
P: Nem pensar! Se alguém tiver que ir até o cativeiro, seremos nós, Claude. Entenda, não é nada pessoal, mas vocês só atrapalhariam as negociações...
F: Ele tá certo, non  ami... você lá perto deixaria a Rosa mais aflita... o Júlio mais nervoso e  se eu te conheço, você partiria pra cima do cara... o que não é uma boa idéia no momento!
C: D’a ccord! Por enquanto... Rodrigo, você está bem? Foi ferido?
Rod: Não senhor... estou muito bem... pronto pra ajudar no que precisar... Só que o carro que foi atingido... vários tiros...
C: O carro é de menos, hã? Mon Dieu, o tempo non passa... e ele non entra em contato...

No cativeiro.
Julio havia preparado um local, pois tinha planejando minuciosamente, detalhadamente, esse seqüestro. Era uma pequena casa, bem localizada e fora da favela para onde tinha ido inicialmente.
Na casa, apenas Rosa e ele.
R: Júlio, me solta. Me deixa ir...
J: Assim que me pagarem o resgate... Antes disso, nem por sonho!
R: Ninguém vai pagar esse resgate que você quer... Você sabe disso... Esses dólares nãos são nossos!
J: Não me interessa de quem são, Serafina! Passarão a ser meus! Eu duvido que o francês não pague... é a sua vida e do filho dele em jogo! – E a olha, sarcasticamente.
R: Ele não sabe ainda... que eu estou grávida, Júlio! Por favor, não fala nada... e  pelo amor de Deus, me deixa ir... a gente te ajuda com advogados e o que mais precisar...
J: Advogados? Eles vão, por acaso, salvar a minha vida? Eu to jurado de morte, Serafina! Ou pago com esses dólares ou pago com minha vida!
R: Meu Deus, Júlio... porque você se tornou isso? Você não era assim...
J: Destino... azar... escolhas, Serafina! Talvez eu tenha escolhido as pessoas erradas para mim... - Diz um pouco mais emocionado - Ou então, – Diz mudando de tom – É genética mesmo! Filho de peixe, peixinho é!
R: Mas...
J: Chega de papo! Você é livre pra andar pela casa toda, menos sair dela. Entendeu? Só aqui dentro... senão... senão, serei obrigado a te  confinar... – E a deixa sozinha no quarto.
Rosa tenta ficar calma, mas seus pensamentos não permitem.
“Eu sabia, que ele ia aprontar alguma coisa... mas me sequestrar por causa de um dinheiro que nem é meu!? Ainda bem que ele está sóbrio... Claude... meus pais... meus filhos... que começo ruim pra vocês hem? Mas não vai acontecer nada com vocês, nós vamos sair dessa inteiros... eu tenho certeza... Ele vai cair em si... Claude me tira daqui...” – As lágrimas caem sem que ela consiga evitar...

No casarão, os pais de Rosa naturalmente preocupados, conversam:
G: Amália, Serafina na mão daquele interesseiro... e io sou o culpado!
Am: Que é isso, Giovanni... a culpa não é sua...
G: É sim... se eu tivesse falado a verdade pra ela sempre, podia ter evitado muita coisa... muito aborrecimento... muito sofrimento... Eu sou o único culpado por tudo que aconteceu com nossa filha!
Am: Se isso, se aquilo...Pára com isso, amore... Ela tá viva, tá feliz com o Dr. Claude... A polícia vai achar ela... e ela vai voltar pra gente, Giovanni.. E o Júlio vai ter o fim que merece... cadeia!
G: Dio te ouça, Amália! Dio te ouça!

No cativeiro, Rosa acaba adormecendo.
Júlio prepara algo para eles comerem. Tudo financiado pelo seu “amigo” Coronel.
Ele vai chamar Rosa e a vê dormindo.
“Eu devia ter ficado com você, Serafina... devia ter acreditado nos meus sentimentos, devia ter feito você feliz...Você seria capaz de me curar de mim mesmo... me ensinar. me ajudar, me tranformar numa pessoa melhor... Que que eu estou pensando! Não posso  fraquejar agora... Escolhi um lado... tá escolhido! Não dá pra voltar no tempo...”
Ju: Serafina, acorda... hora de comer!
R: Não to com fome, Júlio! Me deixa!
J: Você quem sabe... Já disse que pode ir e vir aqui dentro. Quando quiser comer, vá até a cozinha.

No apartamento.
Antoninho e Alabá retornam.
C: Oi... fiquem à vontade, hã? Se quiserem comer, beber... a Dadi preparou alguma coisa... A casa é de vocês...
Ant: Obrigado, Claude... nenhuma notícia?
C: Nada! Ele está nos testando...
Al: Claude, eu tomei a liberdade de ligar pra Roberta... ela ficou abalada com a notícia. Vai te ligar mais tarde...
C: Oui... obrigado, Alabá. É sempre bom contar com os amigos...

Finalmente o telefone toca.
P: Atende, Claude.  Número restrito Deve ser ele...
C: Alô!
Jú E aí francês? Com saudade da sua esposinha?
C: Me deixa falar com ela...
Ju: Calma... ela está bem... tá descansando no quarto... dormindo.. Boa idéia mandar seu motorista me seguir... pena que foi à toa... Eu ligo mais tarde, pra explicar onde e como vocês devem me entregar os dólares...
C: Espera... non desliga! Eu quero falar com Rosa... Droga! Desligou!
P: Ele é esperto... sabe que vamos tentar localizar pelo telefone... por isso não falou muito tempo...
C: Paulo, non tem um outro jeito de descobrir onde ela está?
P: Claude, a polícia tem um departamento especializado em seqüestro. Eles já estão trabalhando no caso. Só que leva um certo tempo... ajudaria bastante se tivéssemos alguma denúncia anônima!
Ant: A polícia de São Paulo não brinca em serviço, Claude! Seqüestro é questão de honra! Apesar dos baixos salários, tem muita gente competente e honesta. Vamos confiar!
P: É uma equipe altamente treinada. Vocês já devem ter visto eles em ação em outros casos semelhantes...
F: Sim... realmente os seqüestros aqui em São Paulo são solucionados com êxito! Eu li qualquer coisa que esse grupo tem até treinado pessoal de outros países!
P: Realmente... somos bem conceituados lá fora... Então, Claude, não posso pedir pra não se preocupar, porque isso é do ser humano... mas não se atormente... você não é culpado por ele ter levado a Rosa...
C: E como é que você sabe que eu me sinto culpado?
P: Eu também me sentiria assim, se fosse com Suzana...

O tempo passa e Júlio não faz mais nenhum contato. Anoitece.
No cativeiro, Rosa continua no quarto, pensando numa maneira de persuadir Júlio a libertá-la, mas nenhuma ideia lhe parece boa o bastante.
Jú: Serafina, é melhor você se alimentar. Não quero que fique fraca. Aliás, no seu estado não é bom ficar tanto tempo sem comer... - Diz entrando no quarto.
R: Nossa! Agora vai dar uma de preocupado com meu bem estar? Eu estaria muito melhor na minha casa, Júlio!
Ju: O diabo não é tão feio como pintam, Serafina! Além do que, sua saúde é minha garantia de sucesso!  - Muda o tom, percebendo que estava sendo emotivo - Quanto à estar na sua casa...  assim que  eu tiver o dinheiro você poderá voltar pros braços do seu maridinho!
R: Júlio, me deixa falar com o Claude... quem sabe eu consigo a liberação do dinheiro, pelo banco...
Ju: Quando eu ligar de novo, eu deixo você dizer “oi” pra ele, belezinha! – Diz se aproximando dela, o que faz com que ela recue alguns passos.
R: Não se atreva a me tocar, Júlio!
Ju: Adoro quando você fica ‘bravinha”... Seus olhos brilham ainda mais... e se eu quiser você.. tem alguém aqui pra me impedir? - Diz fazendo um gesto com as mãos e olhando para os lados.
R: Você não teria coragem... Júlio eu estou grávida! Me respeite!
Ju: Então, não brinque comigo, Serafina... eu posso não responder por mim...
R: Você bebeu? Usou alguma droga, Júlio? Eu prefiro morrer a ser tocada por você de novo!
Ju: Ainda estou no meu perfeito juízo, belezinha... mas, não me irrite, porque eu posso precisar de uma  válvula de escape qualquer... eu disse “qualquer”, ok?

No apartamento.
O celular de Claude toca.
C: Alô! Oi, D. Amália... não, nenhuma novidade, hã? Que isso, non tá incomodando... S. Giovanni tá mais calmo?
Am: Giovanni, calmo? Ele não pára de se culpar, Dr. Claude!
C: Entendo... eu também me culpo, D. Amália... devia ter protegido melhor Rosa...
Am: Dr. Claude, tem coisas que a gente simplesmente não pode evitar... e Deus certamente tem um plano... Ele não vai nos desamparar agora... Eu tenho certeza...
C: D. Amália, obrigado por tentar me consolar, mas eu só vou melhorar quando Rosa estiver aqui ao meu lado de novo... Eu amo a sua filha e se acontecer alguma coisa...
Am: Não vai acontecer nada, filho... Tenha fé! Pensamento positivo! E qualquer novidade, nos avise! A qualquer hora, por favor!
C: Com certeza, D. Amália... Obrigado pela força, hã? Boa noite!
Am: Boa noite, meu filho!  Posso chamá-lo assim, não é?
C: É uma honra pra mim, D. Amália...
Am: Então,  até mais...  meu filho!
Al: Claude, nós vamos pra casa, tomar um banho e voltamos logo...
C: Mon Dieu! Nessas horas que a gente enxerga os verdadeiros amigos... mas vocês devem ter seus compromissos... eu vou ficar bem...
Ant: Claude... que é isso? Serafina é minha prima! Você é o marido dela...  eu acho que devo isso à ela, aos meus tios, enfim. Apoio nunca é de menos...
C: Obrigado, hã? Eu non tenho mais palavras...
Al: Nem precisa... entre amigos, não há necessidade de muitas explicações.. Até daqui a pouco!
Alabá e Antoninho saem do apartamento.
Claude se volta para Frazão:
C: Mon ami, se tiver que ir também...
F: E deixar meu amigo de fé, meu irmão camarada numa hora dessas? Nem pensar, francês! Só saio daqui quando tudo estiver resolvido! Eu e Janete!
Claude dá um sorriso triste:
C: Valeu pela tentativa, meu caro!  - Olha pra Janete e diz:
C: Se quiser tomar um banho, descansar, dormir um pouco, fique à vontade, Janete. A Dadi providencia tudo pra você, mon ami!
J: Não se preocupe comigo, Claude. Eu estou bem. Você é que tem que descansar, recuperar as forças...
C: Non dá Janete... como posso dormir, com Rosa correndo perigo... – E se afasta para que ninguém veja suas lágrimas.

Mais uma vez toca seu celular.
C: Alô! – Sua voz é embargada.
Rob: Claude... meu amigo, é Roberta e Sérgio...
C: Como vai, Robertinha?
Rob: Sou eu quem pergunta, meu querido. Como você está?
C: Ah, Roberta, como eu posso estar? Perdido, hã? Desesperado!
Rob: Eu queria tanto estar aí pra te dar apoio... fazer alguma coisa, ajudar!
C: Já ajudou, chérie... non se  abale por nossa causa...
Rob: Me mantenha informada, por favor! Qualquer novidade, você, por favor, me telefona, não importa a hora, meu amigo querido!
C: Com certeza, Roberta! E obrigado, mais uma vez... Au revoir!

A noite passa, madrugada chega com todos ali, no apartamento, à postos, esperando um contato que não chega.
Rosa passa a noite entre cochilos e alertas. Não confia nem um pouco em seu seqüestrador. Mesmo ele tentando ser tão solícito. Era justamente isso que a deixava preocupada...
Assim que amanhece, ela se levanta e vai até a cozinha preparar um café. Repara que nos armários há mais que o necessário...
“Meu Deus, quanto tempo ele pretende me manter aqui? – Ela está tão distante com seus pensamentos que se assusta ao ouvir a voz de Júlio:
Ju: Ah, é você!?  Ouvi barulho...
R: Algum problema se eu preparar o café?
Ju: Não! Nenhum... com certeza seu café deve ser melhor que o meu... Ele se acomoda em uma cadeira, observando Rosa o tempo todo.
R: Você vai ficar o tempo todo me olhando? Eu não vou tentar fugir, não!
Ju: Te incomoda eu olhar você preparando o café?
R: Pra ser honesta, incomoda sim... eu to me sentindo um rato de laboratório...
Ju: Eu devia ter escolhido você, Serafina... esquecido essa história de vingança, de herança... eu fui muito burro...
R; Você foi muito... estúpido, pra ser delicada em meu vocabulário! O que você tá querendo, hem? Me enganou uma vez, duas não vai conseguir... eu to vacinada contra você, Júlio!
Ju: Eu não quero nada além dos dólares! E eu não enganei ninguém! Você se deixou ser enganada!
R: Eu gostei de você, Júlio, ou pensei gostar! Mas o que você me fez não tem perdão! Melhor a gente parar por aqui... Essa conversa não vai levar a nada...
Júlio se cala.
Eles tomam o café preparado por ela em um silêncio mortal. Nem mesmo se olham.
Rosa não agüenta a tensão e fala:
R: Júlio, hoje é véspera de Natal... me deixa ir pra casa... a gente acerta isso de outra maneira...quem sabe até a gente consegue ajudar que você fuja!
Ele ri, descontroladamente...
Ju: Você me faz rir, Serafina! Assim que eu puser os pés num aeroporto, vou preso! Isso se chegar vivo em um! A essa hora a polícia inteira de São Paulo está atrás de mim... Já devem ter divulgado imagens minha e sua também...
R: Então deixa eu ligar pro Claude! Eu falo com ele, falo com o delegado, falo até com o presidente da república, mas me liberta!
Ju: Como é que eu posso “libertar” a minha moeda de troca? Eu acho que vamos passar o Natal juntos, belezinha!
R: Quanto tempo você vai me manter aqui? Eu preciso tomar banho, trocar de roupa, escovar os dentes...
Ju: Não sei se você reparou, mas aqui não é um hotel, nem um Spa... E você não é uma  hóspede, é uma refém! Minha refém! Mas eu vou ver o que arranjo... talvez a escova de dentes...
R: Você não vai ligar pedindo o resgate?
Ju: Na hora certa, belezinha! Tudo na hora certa! Ele se levanta, volta-se pra ela e continua - Quanto a se sentir um rato de laboratório, lembre-se: os ratos, eles são sacrificados ao final da experiência...
R: O que você tá querendo dizer com isso? Você pretende me matar depois de receber o resgate?
Ju: Não quis dizer nada, Serafina! Nada!

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