domingo, 18 de novembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 32 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange



Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


Capítulo XXXII


A TRAGÉDIA

Sozinha, com o coração apertado por tremenda angústia, Maria "Flor de Amor" caminhava sem destino, enquanto os últimos raios do sol poente iluminavam a campina que se estendia à sua volta, a perder de vista.
À sua esquerda, já imersa na sombra, podia-se ver a grande massa de pedra cinzenta que era o palácio dos Chanteloup. Até aquele dia, Maria "Flor de Amor" havia sustentado a esperança de recuperar o seu Luís Paulo, de poder finalmente unir-se a ele e com ele viver feliz até a morte. Agora que esta última esperança se desvaneceu, nada mais lhe restava neste mundo!
O homem de seus sonhos desposara outra mulher! Que mal havia feito para sofrer daquele modo? Que poderia ainda esperar dos caprichos do destino, da sua sorte madrasta?
Em toda a sua vida não vivera uma única hora completa de felicidade verdadeira... Salvo quando fizera conhecimento com Luís Paulo na orla do bosque, sobre o prado florido.
Mesmo depois de tudo o que acontecera, a pobre moça não encontrava força para odiar Luís Paulo e se limitava a desejar que ele fosse feliz com a esposa que escolhera, naturalmente porque imaginara que ela, Maria "Flor de Amor", não lhe poderia dar felicidade igual.
Arrependia-se agora de se ter mostrado a ele, no episódio da "écharpe" de seda, temendo ter reavivado uma antiga chama que ele devia pensar que já estava extinta...
Não podia imaginar que a chama do amor por ela continuava a arder no coração de Luís Paulo, mais viva do que nunca. Sem perceber, depois de ter caminhado longamente, chegou à cabeceira de uma ponte fluvial. O sol havia descido há algum tempo e as sombras da noite caíam sobre as águas tornando-as escuras e ameaçadoras.
Maria "Flor de Amor" se apoiou ao parapeito e percorreu com os olhos a corrente tumultuosa do rio. Como sua mãe tantos anos antes, experimentou a tentação de deixar-se cair naquela água que espumejava de encontro aos pilares da ponte... Que sentiria, então? Quase nada, talvez... Uma intensa sensação de frio, a falta de ar nos pulmões e, depois, rápida, vida e morte, o esquecimento...
A estrada estava deserta e o céu começava a pontilhar-se de estrelas. O palácio do conde Fernando, ao longe, estava agora intensamente iluminado.Devia haver música e dança nos salões e lhe pareceu ter a capacidade de ouvir, daquela distância, as notas alegres e festivas.
O pensamento de que Luís Paulo, naquela orgia de luzes, talvez estivesse a dançar, tendo colada ao peito a mulher que desposara, fez com que se molhassem de lágrimas, novamente, os seus olhos.
Sentia o pranto escorrer pelas faces abaixo e havia um amargo prazer em deixar que sua dor fluísse naquele líquido, antes de mergulhar na escura massa de água do rio. O tempo decorreu lento, lento...
Quando um patrulheiro noturno, que fazia todas as noites a ronda por aquelas imediações, chegou à ponte, pedalando sua bicicleta, Maria "Flor de Amor" não mudara de posição, apoiada que estava ao parapeito, do alto do qual nem mais podia enxergar a água, lá embaixo. O patrulheiro se deteve e aproximou-se dela.
- Boa noite - disse ele, lançando sobre a moça o feixe de luz de sua lanterna. - Parece que é um pouco tarde para estar olhando o panorama, não, senhorita?
O guarda tinha razão, àquela hora, a presença de uma jovem naquele lugar, a dois quilômetros da povoação mais próxima, se não era uma coisa extraordinária, não parecia, de qualquer modo, normal... E tratava-se, além disso, de uma moça muito bonita, pelo que via, não de uma camponesa dos arredores, a julgar pelo seu traje.
Não tendo obtido resposta à primeira pergunta, ele insistiu:
- Eh, senhorita! Não está se sentindo bem?
E estava para estender o braço, para tocar-lhe, quando Maria "Flor de Amor" emergindo dos seus pensamentos e tornando à realidade, voltou-se bruscamente, um pouco assustada por ver aquele feixe de luz incidindo sobre si e perguntou:
- Que é? Que está acontecendo?
- Eu é que pergunto, senhorita. Que faz aí?
- Quem é o senhor? Que quer de mim?
- Sou um patrulheiro. A propósito, está pretendendo permanecer aqui até o dia amanhecer?
- Que é que o senhor tem com isso?
O homem se aproximou, olhando-a fixamente nos olhos.
- Tenho muita coisa com isso, embora a senhorita possa pensar o contrário...  Olhe, a última vez que uma mulher se atirou desta ponte, há um ano mais ou menos, só a encontraram uma semana depois, irreconhecível... Uma morte muito feia, eu lhe garanto...
- Não entendo aonde o senhor quer chegar... - balbuciou Maria "Flor de Amor". Seu rosto estava molhado de lágrimas e compreendia que seu aspecto não devia ser muito normal.
- Onde quero chegar? - repetiu o bom homem. – Simplesmente quero ter certeza de que, mal eu dê as costas, para fazer meu trabalho, a senhorita não procure galgar este parapeito e ir explorar o fundo do rio, que aqui tem uma altura de uns quinze metros... Entende?
- Mas... Isto não é coisa que lhe possa interessar.
- Como não? O suicídio é proibido por lei!
Maria "Flor de Amor" admitiu que sentira, alguns minutos antes, a tentação de pôr fim àquela vida de dores e permanente sofrimento. Ruborizou-se vivamente, envergonhada deter pensado naquilo e retrucou:
- Asseguro-lhe que não tenho a intenção de fazer essa coisa horrível que o senhor disse... Esse grande pecado que é atentar contra a vida que Deus nos deu.
- Ainda bem. - aprovou o guarda noturno. – Dentro de um mês devo aposentar-me, sabe? E seria muito triste, depois de trinta anos de trabalho honesto, encerrar minha atividade com uma recordação tão feia. Além disso, a senhora é tão jovem, tão bonita... Tivesse eu a sua idade! A propósito, de onde está vindo, senhorita?
Maria "Flor de Amor" hesitou, antes de responder.
- Do palacete de Chanteloup.
- É bonito, aquilo por lá... E hoje há festa, não?
- Há, sim... A filha do conde se casou hoje...
- Quer, então, um conselho de um velho que tem grande experiência da vida? Volte para o palacete, vá divertir-se, em vez de ficar aí a chorar, sozinha. Compreendeu?
- Compreendi, sim. E fique tranquilo.
- Assim é que se fala, senhorita! Assim é que se fala! Quer que eu a acompanhe até o palacete?
- Não, obrigada. Irei sozinha.
- Bom... Nesse caso, boa noite.
Quando o guarda se afastou, mergulhando na escuridão, Maria "Flor de Amor" permaneceu, ainda alguns minutos, parada, incerta sobre que direção tomar. Tornou a pensar no que lhe havia dito o velho, ele tinha pressentido suas intenções.
A passos lentos, rumou pela mesma direção que ele havia tomado.
A lua vinha surgindo e a noite, pouco a pouco, era tomada por uma claridade diáfana que dava a todas as coisas uma tonalidade indefinida e irreal. Um sinal vermelho, indicador de perigo, chamou-lhe a atenção. A ponte, naquele local, estava em obras de reparação e haviam retirado bom pedaço do parapeito, que fora substituído provisoriamente por uma frágil tela metálica. Também faltava parte do piso para pedestres e Maria "Flor de Amor" foi caminhando pela parte empedrada.
Naquele momento, o barulho de uma charrete puxada por dois briosos cavalos fizeram a moça se voltar. O cocheiro certamente deveria tê-la visto, já que fustigou violentamente os cavalos que agora galopavam impetuosamente.
Maria "Flor de Amor" nesse momento crítico teve a impressão de que a charrete vinha em cima dela, que ia alcançá-la... E deu um pulo instintivo e infeliz. Estendeu imediatamente as mãos, à procura de apoio no parapeito, não o encontrou. Sentiu que ia cair e lançou um grito de socorro. Mas era tarde. O barulho dos freios do veículo abafou o de sua queda na gélida água do rio, lá embaixo!

2 comentários:

  1. Paulo, pobre Maria "Flor de Amor", sempre passando maus momentos! Será que as pessoas da charrete vão socorrê-la ou trarão mais sofrimento a ela? Que moça sofredora! Vamos ver o que vai acontecer. Gostei! Bjs.

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  2. Quantas reviravoltas, estou gostando porque é uma surpresa a cada capítulo. Não é possível nem prever o que virá pela frente. Muitos lances emocionantes...

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