O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo XXXII
A TRAGÉDIA
Sozinha, com o coração apertado por tremenda angústia,
Maria "Flor de Amor" caminhava sem destino, enquanto os últimos raios
do sol poente iluminavam a campina que se estendia à sua volta, a perder de
vista.
À sua esquerda, já imersa na sombra, podia-se
ver a grande massa de pedra cinzenta que era o palácio dos Chanteloup. Até
aquele dia, Maria "Flor de Amor" havia sustentado a esperança de
recuperar o seu Luís Paulo, de poder finalmente unir-se a ele e com ele viver
feliz até a morte. Agora que esta última esperança se desvaneceu, nada mais lhe
restava neste mundo!
O homem de seus sonhos desposara outra mulher!
Que mal havia feito para sofrer daquele modo? Que poderia ainda esperar dos
caprichos do destino, da sua sorte madrasta?
Em toda a sua vida não vivera uma única hora
completa de felicidade verdadeira... Salvo quando fizera conhecimento com Luís
Paulo na orla do bosque, sobre o prado florido.
Mesmo depois de tudo o que acontecera, a pobre
moça não encontrava força para odiar Luís Paulo e se limitava a desejar que ele
fosse feliz com a esposa que escolhera, naturalmente porque imaginara que ela,
Maria "Flor de Amor", não lhe poderia dar felicidade igual.
Arrependia-se agora de se ter mostrado a ele,
no episódio da "écharpe" de seda, temendo ter reavivado uma antiga
chama que ele devia pensar que já estava extinta...
Não podia imaginar que a chama do amor por ela
continuava a arder no coração de Luís Paulo, mais viva do que nunca. Sem
perceber, depois de ter caminhado longamente, chegou à cabeceira de uma ponte
fluvial. O sol havia descido há algum tempo e as sombras da noite caíam sobre
as águas tornando-as escuras e ameaçadoras.
Maria "Flor de Amor" se apoiou ao
parapeito e percorreu com os olhos a corrente tumultuosa do rio. Como sua mãe
tantos anos antes, experimentou a tentação de deixar-se cair naquela água que
espumejava de encontro aos pilares da ponte... Que sentiria, então? Quase nada,
talvez... Uma intensa sensação de frio, a falta de ar nos pulmões e, depois,
rápida, vida e morte, o esquecimento...
A estrada estava deserta e o céu começava a
pontilhar-se de estrelas. O palácio do conde Fernando, ao longe, estava agora
intensamente iluminado.Devia haver música e dança nos salões e lhe pareceu ter
a capacidade de ouvir, daquela distância, as notas alegres e festivas.
O pensamento de que Luís Paulo, naquela orgia
de luzes, talvez estivesse a dançar, tendo colada ao peito a mulher que
desposara, fez com que se molhassem de lágrimas, novamente, os seus olhos.
Sentia o pranto escorrer pelas faces abaixo e
havia um amargo prazer em deixar que sua dor fluísse naquele líquido, antes de
mergulhar na escura massa de água do rio. O tempo decorreu lento, lento...
Quando um patrulheiro noturno, que fazia todas
as noites a ronda por aquelas imediações, chegou à ponte, pedalando sua
bicicleta, Maria "Flor de Amor" não mudara de posição, apoiada que
estava ao parapeito, do alto do qual nem mais podia enxergar a água, lá
embaixo. O patrulheiro se deteve e aproximou-se dela.
- Boa noite - disse ele, lançando sobre a moça
o feixe de luz de sua lanterna. - Parece que é um pouco tarde para estar
olhando o panorama, não, senhorita?
O guarda tinha razão, àquela hora, a presença
de uma jovem naquele lugar, a dois quilômetros da povoação mais próxima, se não
era uma coisa extraordinária, não parecia, de qualquer modo, normal... E tratava-se,
além disso, de uma moça muito bonita, pelo que via, não de uma camponesa dos
arredores, a julgar pelo seu traje.
Não tendo obtido resposta à primeira pergunta,
ele insistiu:
- Eh, senhorita! Não está se sentindo bem?
E estava para estender o braço, para tocar-lhe,
quando Maria "Flor de Amor" emergindo dos seus pensamentos e tornando
à realidade, voltou-se bruscamente, um pouco assustada por ver aquele feixe de
luz incidindo sobre si e perguntou:
- Que é? Que está acontecendo?
- Eu é que pergunto, senhorita. Que faz aí?
- Quem é o senhor? Que quer de mim?
- Sou um patrulheiro. A propósito, está
pretendendo permanecer aqui até o dia amanhecer?
- Que é que o senhor tem com isso?
O homem se aproximou, olhando-a fixamente nos
olhos.
- Tenho muita coisa com isso, embora a
senhorita possa pensar o contrário... Olhe,
a última vez que uma mulher se atirou desta ponte, há um ano mais ou menos, só a
encontraram uma semana depois, irreconhecível... Uma morte muito feia, eu lhe
garanto...
- Não entendo aonde o senhor quer chegar... -
balbuciou Maria "Flor de Amor". Seu rosto estava molhado de lágrimas e
compreendia que seu aspecto não devia ser muito normal.
- Onde quero chegar? - repetiu o bom homem. –
Simplesmente quero ter certeza de que, mal eu dê as costas, para fazer meu
trabalho, a senhorita não procure galgar este parapeito e ir explorar o fundo
do rio, que aqui tem uma altura de uns quinze metros... Entende?
- Mas... Isto não é coisa que lhe possa
interessar.
- Como não? O suicídio é proibido por lei!
Maria "Flor de Amor" admitiu que
sentira, alguns minutos antes, a tentação de pôr fim àquela vida de dores e
permanente sofrimento. Ruborizou-se vivamente, envergonhada deter pensado
naquilo e retrucou:
- Asseguro-lhe que não tenho a intenção de
fazer essa coisa horrível que o senhor disse... Esse grande pecado que é atentar
contra a vida que Deus nos deu.
- Ainda bem. - aprovou o guarda noturno. –
Dentro de um mês devo aposentar-me, sabe? E seria muito triste, depois de
trinta anos de trabalho honesto, encerrar minha atividade com uma recordação
tão feia. Além disso, a senhora é tão jovem, tão bonita... Tivesse eu a sua
idade! A propósito, de onde está vindo, senhorita?
Maria "Flor de Amor" hesitou, antes
de responder.
- Do palacete de Chanteloup.
- É bonito, aquilo por lá... E hoje há festa,
não?
- Há, sim... A filha do conde se casou hoje...
- Quer, então, um conselho de um velho que tem
grande experiência da vida? Volte para o palacete, vá divertir-se, em vez de
ficar aí a chorar, sozinha. Compreendeu?
- Compreendi, sim. E fique tranquilo.
- Assim é que se fala, senhorita! Assim é que
se fala! Quer que eu a acompanhe até o palacete?
- Não, obrigada. Irei sozinha.
- Bom... Nesse caso, boa noite.
Quando o guarda se afastou, mergulhando na
escuridão, Maria "Flor de Amor" permaneceu, ainda alguns minutos,
parada, incerta sobre que direção tomar. Tornou a pensar no que lhe havia dito
o velho, ele tinha pressentido suas intenções.
A passos lentos, rumou pela mesma direção que
ele havia tomado.
A lua vinha surgindo e a noite, pouco a pouco,
era tomada por uma claridade diáfana que dava a todas as coisas uma tonalidade
indefinida e irreal. Um sinal vermelho, indicador de perigo, chamou-lhe a atenção.
A ponte, naquele local, estava em obras de reparação e haviam retirado bom
pedaço do parapeito, que fora substituído provisoriamente por uma frágil tela
metálica. Também faltava parte do piso para pedestres e Maria "Flor de
Amor" foi caminhando pela parte empedrada.
Naquele momento, o barulho de uma charrete
puxada por dois briosos cavalos fizeram a moça se voltar. O cocheiro certamente
deveria tê-la visto, já que fustigou violentamente os cavalos que agora
galopavam impetuosamente.
Maria "Flor de Amor" nesse momento
crítico teve a impressão de que a charrete vinha em cima dela, que ia
alcançá-la... E deu um pulo instintivo e infeliz. Estendeu imediatamente as
mãos, à procura de apoio no parapeito, não o encontrou. Sentiu que ia cair e
lançou um grito de socorro. Mas era tarde. O barulho dos freios do veículo
abafou o de sua queda na gélida água do rio, lá embaixo!
Paulo, pobre Maria "Flor de Amor", sempre passando maus momentos! Será que as pessoas da charrete vão socorrê-la ou trarão mais sofrimento a ela? Que moça sofredora! Vamos ver o que vai acontecer. Gostei! Bjs.
ResponderExcluirQuantas reviravoltas, estou gostando porque é uma surpresa a cada capítulo. Não é possível nem prever o que virá pela frente. Muitos lances emocionantes...
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