Na
crônica que apresentamos abaixo, Olavo Bilac nos fala sobre a cidade de
Caxambu, Minas Gerais, local em que foi descansar por alguns dias.
Para
maiores informações sobre o autor, favor consultar: http://www.e-biografias.net/olavo_bilac/.
Boa
leitura!
RENOVAÇÃO DE ENERGIA
Noites
frias, em que o prazer de dormir parece o antegozo da bem-aventurança do céu;
madrugadas de ouro e fogo, em que a luz levanta de cada moita uma nuvem de azas
e uma sinfonia de gorjeios; dias de sereno esplendor, varridos de aragens
frescas, que trazem todos os perfumes embriagadores da mata; - ali está o que é
capaz de, em meia dúzia de dias, restituir o vigor ao cérebro mais cansado e a
alegria ao coração mais triste. É o que esta montanha abençoada fornece aos que
a procuram; e, retemperada por este ar de incomparável doçura e por este
rejuvenescedor convívio com a Natureza, - pode a gente depois voltar sem perigo
para o calor violento, para o calor sufocante e para as amofinações da cidade
... Isto é o Paraiso a nove horas de viagem do Purgatório; é a Fonte de
Juventude, posta ao alcance de quantos, devorados por um trabalho mental
incessante, envelhecem mais depressa do espírito do que do corpo. Ainda agora,
abrindo a janela do quarto, ao romper do meio dia, senti que o ar entrava
cantando nos pulmões; e houve dentro de mim como uma ressurreição da mocidade
morta. O Parque acordava, ansiando e sorrindo, aos primeiros beijos do sol, nas
árvores pairavam, iam e vinham, revoadas de periquitos verdes, como esmeraldas
aladas, - bandos tagarelas desses periquitos, que são para Caxambu o que os
pardais são para os jardins de Paris; hóspedes perpétuos, complementos forçados
da paisagem ... Ao longe carros de bois rinchavam, despertando os ecos nas
quebradas das serras. A gente do povo, que passava para o trabalho, tinha um
sorriso bom, florescendo na boca, e um sangue vivo, sorrindo na face; - e eu,
alargando o olhar e a alma pelo horizonte infinito, lembrava-me com terror do
tilintar dos bondes elétricos e do estrupido das carroças, e do sol assassino,
e do pó sufocante, que me esperam no Flamengo. Esperai-me ainda por uns três ou
quatro dias, ó duros aborrecimentos da cidade! Daqui a pouco, irei tornar à
minha canga, à minha calceta e à minha resignação de galé. Mas, para vos
suportar, levarei comigo a recordação desta paisagem, que me está embriagando
os olhos e uma basta provisão de alegria e saúde; e serei como aquele demônio
da lenda escandinava, que era feliz entre as chamas do inferno, só porque
pudera, durante um minuto escasso e fugaz, contemplar a formosura do céu.
Fonte: http://sulmineiro.blogspot.com.br/2012/08/cronica-de-olavo-bilac-sobre-caxambu.html
Lindo, gostei de ler e saber que ele tbm não gosta do Sol escaudante, achei engraçado qdo ele cita o sol assassino...
ResponderExcluirCorrigindo: Sol escaldante!
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